RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – A perda de peso na fase inicial de dieta é sempre mais animadora que os estágios que se seguem no processo de redução de medidas. Atingir o chamado “platô de emagrecimento” aquele momento em que a pessoa já emagreceu, mas o corpo estacionou em determinado peso, entretanto, pode gerar frustração e levar ao reganho de peso se não houver cuidado com as características da nova etapa.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, o déficit calórico (comer menos do que o corpo gasta de energia) é primordial para conseguir eliminar mais alguns quilos, mas o organismo se adapta para evitar que isso aconteça. Veja como superar o desafio.
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POR QUE O RITMO DE EMAGRECIMENTO CAI?
Existem mecanismos fisiológicos que atuam para reduzir o consumo energético e a perda de peso. Segundo o endocrinologista Evandro Portes, eles podem ter sido muito importantes nos primórdios da humanidade, facilitando a sobrevivência dos nossos antepassados em períodos de alimentação escassa.
Diretor do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo, Portes conta que, mesmo com a melhoria do acesso a alimentos, essa reação do corpo ainda é fundamental.
“Pensamos que isto não seria mais necessário, no entanto, quando algo agride nossa saúde ou diminuímos muito a nossa ingestão calórica, voluntariamente ou não, vários hormônios que atuam ativando o metabolismo são bloqueados. A reposição deles, apesar de poder acelerar a perda de peso, coloca o paciente em risco”, diz.
COMO NOSSO CORPO FUNCIONA QUANDO HÁ PERDA DE PESO?
O médico Antonio Carlos do Nascimento, doutor em Endocrinologia e Metabologia pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador médico do Núcleo de Obesidade da Secretaria de Saúde de Santo André, lembra que nosso sistema é “absolutamente ajustado para contemplar as necessidades de nosso maior peso obtido”.
O corpo recorre então aos chamados mecanismos contrarreguladores orgânicos para evitar que a pessoa perca suas reservas, tais como aumento do hormônio da fome (grelina) e a diminuição dos hormônios da saciedade (especialmente a leptina).
Depois de perder peso, portanto, nós tendemos a compensar tendo mais fome e gastando menos energia durante as mesmas atividades.
“É verdade que o sedentarismo e equívocos dietéticos são pilares importantes do excesso de peso, contudo, fazer exercícios físicos e adotar dieta saudável não trata, mas sim, evita que engordemos”, afirma Nascimento.
DRIBLANDO O PLATÔ DO EMAGRECIMENTO
“Perdas ponderais discretas, entre 5% e 10% do peso inicial, podem ser sustentadas por rigorosa determinação pessoal, mas decréscimos mais acentuados raramente permanecem”, explica Nascimento.
Portes diz que, no emagrecimento, o corpo precisa de sinalizações de que a perda não é por doença. “A alimentação e a prática regular de atividade física adequadas contribuem para que o corpo se sinta saudável e esses mecanismos não sejam ativados, pois dificultam a perda de peso”, afirma.
Segundo Portes, é normal emagrecer mais no começo da dieta porque, geralmente, o consumo de calorias está muito acima do necessário para manter o corpo e basta reduzir a quantidade. O que vem a seguir consiste em persistir nos bons hábitos, aumentando a intensidade dos exercícios gradualmente, dentro da capacidade de cada indivíduo.
Christian Zamprogna Jammal, especialista em Treinamento Esportivo pela UFMG (Universidade Federal de Belo Horizonte) e coordenador técnico da cademia Estúdio Fly, lembra que as transformações do corpo exigem que haja sempre rebalanceamento da ingestão de carboidratos e proteínas conforme a fase alcançada. A atividade física também deve ser proporcional ao gasto calórico necessário. “Com isso, podemos aumentar os estímulos para que o emagrecimento volte a acontecer”, diz Jammal.
Portes recomenda escolher uma rotina sustentável para atingir novas perdas, ainda que em menor velocidade que antes. “Devemos sempre lembrar que a obesidade é uma doença e, se for necessário, podemos usar medicamentos seguros, em doses apropriadas, contribuindo para que o paciente atinja seu objetivo de forma saudável”, diz.
Escolher bem os alimentos é outra ferramenta para evitar o platô e o reganho. “Muito cuidado com o consumo de álcool. Por ser líquido, muitos menosprezam o seu teor calórico. Cada grama de álcool tem o dobro de calorias de um grama de carboidrato ou de proteína. Só perde para os lipídeos”, afirma Portes.
Márcio Lui, personal trainer de celebridades como Sabrina Sato e Sasha Meneguel, diz que cada indivíduo tem sua particularidade a considerar. Ele recomenda que a pessoa tenha no mínimo três atividades diferentes para conseguir benefícios em várias frentes e também para evitar repetição de treinos que possam desestimular a continuidade ou limitar resultados. “Se você faz musculação, tente incluir funcional, corrida, natação ou até mesmo dança”, sugere.
FOCO NAS NECESSIDADES INDIVIDUAIS
O cuidado com a alimentação das pessoas idosas deve ser maior para que não haja mais prejuízos do que benefícios. “Deve ser estimulada uma dieta hipocalórica, porém com o consumo bem equilibrado. Um indivíduo que ficou obeso e inativo 30 anos da sua vida, não deve ter expectativa de virar um atleta e chegar ao peso ideal em seis meses”, reforça Portes.
Em qualquer situação, os exercícios físicos e o controle dietético seguem sendo impreterivelmente necessários para manutenção da massa corporal, mas para novas estratégias de emagrecimento, deve-se considerar a forma de emagrecimento inicial.
Se o peso estacionário foi alcançado por medidas comportamentais, com adoção de dieta saudável e prática de exercícios, a disciplina é fundamental para manter ou avançar.
No caso de cirurgia bariátrica, o platô ocorre, em média, após dois anos da realização do procedimento e, caso haja necessidade de mais perda de peso, talvez seja preciso auxílio farmacológico prescrito e acompanhado de perto pelo médico.
DANIELLE CASTRO / Folhapress