Parque Ibirapuera, símbolo de São Paulo, chega aos 70 com dinheiro e problemas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O parque Ibirapuera, símbolo da cidade de São Paulo, chega nesta quarta-feira (21) aos 70 anos de cara nova e com velhos problemas. Concedido à iniciativa privada em 2020, o espaço recebeu uma injeção de dinheiro, mas sofre com a deterioração de parte de seus equipamentos.

Exemplo disso é a marquise José Ermírio de Moraes, projetada por Oscar Niemeyer. A obra, com 27 mil metros quadrados, sofreu com interdições desde o começo de 2019, devido a riscos impostos pela falta de manutenção. Pedaços de laje chegaram a despencar. Surgiram também trincas e sinais de infiltração.

Sua reforma teve início em fevereiro deste ano, após disputa entre prefeitura e Urbia -concessionária responsável pelo Ibirapuera- sobre quem arcaria com os custos. No fim, que vai pagar pela obra será o poder público.

Desde a privatização, diz a Urbia, foram investidos mais de R$ 200 milhões no parque, sendo R$ 166 milhões em obras e R$ 49 milhões, em manutenção. Até o final de 2025, a empresa prevê investir ainda R$ 50 milhões em benfeitorias.

Banheiros foram reformados, e o entorno do lago, revitalizado. As melhorias mais evidentes ocorreram no patrimônio arquitetônico: o auditório teve o paisagismo revigorado e as calçadas refeitas e ganhou nova pintura interna e externa.

Depois, o planetário teve a cúpula externa requalificada. O pavilhão Lucas Nogueira Garcez, a Oca, também teve sua parte externa mexida, com reparos em infiltrações e nova pintura. Ainda há ainda, porém, marcas visíveis da degradação do local, principalmente na área interna, como sujeira e partes enferrujadas.

Consumidos pela ferrugem também continuam alguns brinquedos infantis do parque, como mostrou a Folha no início deste ano. A concessionária diz ter investido no playground.

Após a privatização, alguns serviços subiram de preço, como o valor do estacionamento.

Parar o carro nas adjacências do Ibirapuera custava cerca de R$ 3 (Zona Azul) em meados de 2019. Hoje, custa R$ 18 durante a semana e R$ 23 aos sábados e domingos.

“É a elitização do espaço público, um absurdo”, diz Frederico Grass, 56. Morador da Vila Mariana, distrito do parque, o arquiteto diz que corre no espaço todas as manhãs há 20 anos e que acompanha as transformações recentes com preocupação.

“Investimento é bom, claro, mas investimento para o povo, não visando só lucrar. O conceito de espaço público está descaracterizado. A história do parque também.”

Inaugurado em 1954 entre as avenidas Pedro Álvares Cabral, República do Líbano e 4º Centenário, o Ibirapuera é tombado.

O nome vem do tupi-guarani “Ypy-ra-ouêra”, que significa “pau podre”. Isso porque aquela região foi, antes do parque, um brejo. Na época da colonização, abrigava uma aldeia indígena. Nos séculos seguintes, foi usado como pastagem para boiadas que se dirigiam ao Matadouro Municipal, na Vila Mariana.

A ideia de transformar aquele endereço em parque surgiu na década de 1920. Como o terreno era alagadiço, um funcionário da prefeitura à época, Manequinho Lopes, plantou centenas de eucaliptos australianos para drená-lo. O Ibirapuera mantém até hoje um viveiro batizado em homenagem ao desbravador.

Foi só em 1954, entretanto, com a proximidade das comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo, que houve algum investimento público no espaço. Por isso o ano marca a fundação oficial do parque.

Na época, uma comissão chefiada por Francisco Matarazzo Sobrinho decidiu fazer do Ibirapuera um marco arquitetônico e paisagístico.

As estruturas ficaram a cargo de diversos arquitetos, com destaque para Niemeyer. O projeto de paisagismo é do engenheiro agrônomo Otávio Augusto Teixeira Mendes, com algumas intervenções de Roberto Burle Marx, maior nome do paisagismo brasileiro.

Hoje, o Ibirapuera tem uma área de 1,58 milhão de metros quadrados, com três lagos artificiais interligados que ocupam 15,7 mil metros quadrados. Sua área original abrangia os terrenos das áreas atualmente ocupadas pela Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e pelo ginásio do Ibirapuera.

O parque é o terceiro maior de São Paulo, depois dos parques do Carmo, na zona leste, e Anhanguera, na zona norte.

Loyde Harbich, urbanista e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destaca que o Ibirapuera foi criado para cumprir uma função de embelezamento da capital, mas acabou tendo um efeito ainda mais importante: o arrefecimento daquela área.

“Perante o momento que vivemos, de ondas de calor, os parques urbanos se tornam cada vez mais necessários para o enfrentamento das mudanças climáticas”, diz. Um estudo conduzido pela especialista mostrou que a temperatura nas bordas de parques urbanos é de 1°C a 2°C mais baixa.

Harbich avalia como benéfica a privatização do Ibirapuera. Para ela, a mudança resultou em mais seriedade na administração, mais segurança e mais limpeza, além da presença de restaurantes de marcas conhecidas no local.

Após a privatização, houve um aumento da presença de anúncios, logotipos e logomarcas, instalados em diversas áreas. Eles estão gravados em quadras de basquete, pista de skate e grades do campo de futebol que os patrocinadores ajudam a manter.

Painéis eletrônicos fazem propaganda de uma companhia aérea e de outros serviços. “Um shopping ao ar livre. Esse é o novo Ibirapuera”, afirmou o frequentador Frederico Grass enquanto desviava de uma placa publicitária em meio à sua corrida matinal.

BRUNO LUCCA / Folhapress

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