SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Congresso Nacional Africano, que governa a África do Sul desde 1994, está abaixo da maioria absoluta dos votos com quase um terço dos resultados apurados nesta quinta-feira (30) nas eleições gerais do país.
Às 13h30 de Brasília, a apuração chegava a 31,1%, e a histórica legenda de Nelson Mandela tinha 42,3% dos votos, o que indica um inédito cenário de necessidade de coalizão para se manter no poder. Na última eleição, em 2019, a legenda obteve 57,5%.
Em segundo lugar aparece o partido de centro-direita Aliança Democrática, com 25,05%, patamar ligeiramente superior ao que indicavam as pesquisas. No pleito anterior, a AD obteve 20,77%.
Em seguida, praticamente empatadas, estão duas siglas populistas de esquerda que surgiram a partir de dissidências do CNA: o (CLE) Combatentes da Liberdade Econômica, com 9%, e o MK, do ex-presidente Jacob Zuma (2009-2018), com 8,77%.
Zuma renunciou à Presidência em 2018, pressionado por correligionários em meio a acusações de corrupção. Ele foi declarado inelegível no último dia 20 devido à pena de prisão a que foi condenado em 2021.
Diversos partidos de menor expressão vêm a seguir na apuração 52 concorreram na eleição para o Congresso, que por sua vez elegerá o presidente pelos próximos cinco anos.
Se mantida a tendência, o CNA deve se manter no poder, mas precisando de apoio de legendas menores. A dúvida é se fará um acordo com a AD, cenário visto como improvável, ou se vai buscar aliados à esquerda, o que é visto com preocupação pelos setores produtivos e investidores internacionais.
O CNA também registrou perdas em algumas das noves províncias nas quais o país está subdividido, equivalentes aos estados brasileiros.
Em KwaZulu-Natal, o MK lidera com larga margem, com 43,70%, enquanto o partido governista tem 20%. Neste caso, no entanto, a derrota já era esperada, uma vez que a região é bastião de Zuma.
Também esperada é uma derrota para a AD no Cabo Ocidental, onde fica a Cidade do Cabo, já administrada pelo partido de oposição.
Mais preocupante para o CNA, porém, é a possível perda em Gauteng, centro econômico e político do país, que sedia Joanesburgo e a capital administrativa, Pretória. A disputa está apertada, com 33,9% para o partido governista e 30% para a DA. Em 2019, o CNA teve maioria milimétrica de 50,19% na província.
Os resultados finais devem ser divulgados pela comissão eleitoral no próximo domingo (2).
A eleição realizada nesta quarta-feira (29) teve filas longas e diversos problemas de organização, o que fez a votação ser estendida para além do prazo previsto, de 21h. O comparecimento deve ser recorde.
A África do Sul tem hoje uma das mais altas taxas de desemprego do mundo (32%) e uma crise energética que por vezes deixa a população sem eletricidade por mais de 10 horas por dia.
O país, um dos maiores produtores mundiais de ouro e platina, recebe turistas do mundo inteiro em seus modernos aeroportos, mas, segundo o Banco Mundial, é um dos mais desiguais do planeta, com milhões de pessoas ainda vivendo abaixo da linha da pobreza.
FÁBIO ZANINI / Folhapress