SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um passageiro morreu na manhã desta terça-feira (6) depois de ficar preso entre o trem e a porta da plataforma da estação Campo Limpo da linha 5-lilás do metrô, na zona sul de São Paulo.
Segundo a empresa ViaMobilidade, responsável pela linha, Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, tentou entrar no trem “mesmo após todos os alarmes visuais e sonoros”. Um agente de segurança da empresa afirmou à polícia que, por volta das 8h10, ouviu barulhos vindos da plataforma. Ele e os outros seguranças foram ao local e viram a vítima caída nos trilhos, já sem sinais vitais.
Segundo o Metrô, este foi o primeiro caso de morte relacionada às portas de contenção nas linhas do metrô paulista.
Questionada, a concessionária afirmou que a linha lilás dispõe de um sistema, utilizado nacional e internacionalmente, de sensores de obstrução de portas para impedir que os trens partam com as portas abertas. No entanto, admitiu que no espaço entre as portas do trem e da plataforma, onde o passageiro ficou preso, realmente não há sensor.
“No caso em questão, mesmo após os alarmes visuais e sonoros, ao tentar entrar no vagão, o passageiro acabou ficando no espaço entre o trem e a plataforma, onde não há sensores. Como tanto as portas de plataforma quanto as do vagão estavam fechadas, o trem partiu”, disse a concessionária, em nota.
A empresa lamentou o acidente e destacou que realiza regularmente campanhas para alertar os passageiros sobre a importância de não entrar nem sair do trem após os alarmes nem tentar segurar as portas.
À tarde, o presidente da ViaMobilidade, Francisco Pierrini, afirmou que a concessionária vai instalar sensores de presença nas portas das plataformas até fevereiro do ano que vem. Ele falou que esse projeto já estava sendo tocado pelos engenheiros da empresa, mas que agora será antecipado em razão da fatalidade.
Enquanto isso, será implantado até o fim do ano um sistema de barreiras físicas na parte interna das portas da plataforma. Segundo Pierrini, são hastes de metal que vão bloquear a presença de qualquer pessoa ou mala entre o trem e a porta da plataforma.
“Se existisse a barreira física na parte interna da porta de plataforma, quando ela fosse fechar essa estrutura se depararia com a pessoa. Como tem o sensor de esmagamento, a porta não se fecharia e se abriria novamente. É igual à porta do trem, que se tiver alguma coisa lá, ela se abre novamente. Se tiver uma mala ou uma pessoa ali dentro a porta não vai fechar”, explicou o dirigente em entrevista à Band, dando o prazo de seis meses para que as barreiras sejam instaladas.
De imediato, Pierrini disse que a companhia tomará outras medidas para evitar novos acidentes, mas apenas reforçando os avisos sonoros.
Luis Kolle, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô, afirmou que mesmo que o passageiro tenha tido responsabilidade no acidente, houve falha no sistema.
“A atitude do passageiro foi indevida, mas a gente não pode culpar a vítima. Houve uma fatalidade, mas é preciso pensar na melhoria do sistema, porque se aconteceu de uma pessoa ficar presa, alguma coisa no sistema falhou”, afirmou.
De acordo com Kolle, em uma situação de risco o trem não deveria ter conseguido partir.
“Ali tem que ter um sensor, tem que detectar que tem uma pessoa ali. A porta de plataforma teria de abrir de novo. A porta do trem até poderia permanecer fechada, mas a porta de plataforma deveria abrir para a pessoa sair dali da zona de risco. Algum erro de procedimento, alguma falha aconteceu”, afirmou.
Em outro caso, na manhã de 24 de março, uma passageira ficou presa entre a porta de segurança e o vagão na estação Vila Prudente da linha 2-verde do metrô, que é estatal. A composição teve de ficar parada para a retirada da mulher.
Ela não ficou ferida e dispensou atendimento médico, segundo a companhia estadual.
Imagens que circularam nas redes sociais mostram a mulher presa no pequeno espaço entre as portas de segurança e a composição. Ela mal conseguia se mexer.
O Metrô afirma que todas as portas instaladas nas linhas administradas pela estatal -1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 15-prata- contam com sensores para evitar o fechamento da porta quando há pessoas ou objetos entre as fachadas e o trem.
Por causa do caso de março, o Metrô diz ter intensificado as orientações aos passageiros e instalou anteparos nesses equipamentos para evitar que o usuário se coloque entre a porta de plataforma e a porta do trem.
Já linha 4-amarela, administrada pela ViaQuarto, que assim como a ViaMobilidade faz parte da Motiva (grupo CCR), também não conta com sensor de presença, mas há uma barreira e, segundo a empresa, o sistema e a infraestrutura não permitem passageiros entre o trem e a plataforma.
No acidente desta terça, segundo relatos em redes sociais, passageiros começaram a gritar após o acidente e houve correria na estação. Um deles disse que a cena foi desesperadora.
“A porta fechou, a primeira porta do desembarque dos passageiros e a porta do trem, junto com o rapaz. O trem passou por cima dele. Todo mundo começou a chorar na hora, foi desesperador. Não sei nem como mencionar na verdade, não tenho nem cabeça pra isso. Ele ficou preso entre o trem e a porta”, afirmou o gestor comercial Bruno Moreira Costa, em entrevista à TV Globo.
Pelas imagens do vídeo da estação que foi divulgado, aparentemente o embarque transcorreu de forma normal, com nenhuma movimentação que demonstrasse empurra-empurra. Mas, assim que o trem deixou a estação, os usuários que ficaram na plataforma se assustaram e se afastaram das portas.
Durante a manhã, a circulação dos trens apresentava lentidão e maior tempo de parada entre as estações. A informação era de que a operação era afetada pela presença de pessoa na via, nas proximidades da estação Campo Limpo.
Dois seguranças, acompanhados de um advogado, prestaram depoimento na tarde desta terça-feira na Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), que fica na estação Barra Funda.
Passageiros ainda serão ouvidos pela polícia, que também fará perícia na composição envolvida no acidente, nas portas da plataforma e na estação.
A limpeza das portas da plataforma foi motivo de críticas, segundo apurou a reportagem, por causa da preservação do local do acidente.
A companhia disse que o local foi limpo para restabelecer a circulação de trens. “Cabe salientar que esse procedimento é amparado pela lei federal 6.149/74 e que as evidências para perícia, como as imagens, serão concedidas às autoridades policiais, sem qualquer prejuízo à apuração do ocorrido.”
O Sindicato dos Metroviários afirma que a linha 5-lilás, passada à iniciativa privada em 2018, não foi construída originalmente com portas de segurança nas plataformas e diz que é preciso cobrar a instalação de dispositivos de segurança.
“A sociedade deve cobrar a ViaMobilidade sobre o funcionamento dos sensores das portas de plataforma da linha 5-lilás. Esses sensores podem impedir o fechamento das portas com presença de pessoas e, por consequência, impedir o deslocamento dos trens”, diz trecho da nota do sindicato.
Coordenador adjunto da Câmara Especializada de Engenharia Mecânica e Metalúrgica do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo), o engenheiro mecânico Carlos Peterson Tremonte afirma que a instalação de sensores de presença não é um processo complexo.
“É preciso fazer uma programação, existe uma lógica que impediria o trem de sair. Se todas as portas estivessem com esses sensores ativos, o trem não sairia”, afirma ele, que desconhece uma norma que obrigue a instalação de sensor de presença.
“Mas [esse tipo de sensor] é o que mais tem. É um custo de segurança muito baixo para um metrô”, diz.
O Ministério Público de São Paulo e a ViaMobilidade fecharam em 2023 um acordo de R$ 786 milhões para que a concessionária não seja processada pelas recorrentes falhas nas linhas 8-diamante e 9-esmeralda dos trens. Entre as obrigações estão construir escolas e melhorias em estações.
A Promotoria destacou oito problemas ocorridos desde março de 2023, como seis descarrilamentos e uma colisão de um trem da linha 8-diamante na estação Júlio Prestes, na região central da capital.
FRANCISCO LIMA NETO, LUCAS LACERDA, FÁBIO PESCARINI E PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress
