Passageiros dormem fora de casa para chegar ao trabalho em dia de greve

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Algumas pessoas se preveniram, ao saber na véspera que haveria greve de trabalhadores do transporte, nesta terça-feira (3), em São Paulo. Foi o caso da técnica administrativa Esther Silva Barbosa, 24, que normalmente embarca em Franco da Rocha, na região metropolitana da capital, e viaja pela CPTM até a Luz, onde troca de linha e vai até o Morumbi para chegar ao trabalho.

Barbosa dormiu na casa da tia no centro de São Paulo e pegou um carro por aplicativo de carona para chegar à Luz, onde embarcou na linha 4-amarela. “Eu fiquei sabendo ontem [segunda] que teria greve e pedi para dormir aqui, e agora consigo embarcar e chegar no trabalho, que fica perto da estação. Não vou pegar mais nenhuma condução”, disse.

Quem foi pego de surpresa enfrentou mais transtornos. Os grafiteiros Roberto Mondelle, 42, e Araceli Lourenço, 31, estavam sentados no chão da estação da linha 4-amarela, próximos à catraca às 6h30, sem saber como chegariam em casa, em São Caetano do Sul.

Os dois trabalharam durante toda a madrugada em um grafite dentro de um escritório na avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Itaim Bibi, zona sul da capital. Só ficaram sabendo da greve por volta das 4h30, quando embarcaram na linha 4-amarela e um passageiro conversou com eles sobre a paralisação.

“Agora estamos esperando abrir alguma outra linha, porque para ir de ônibus vai ser muito complicado, com muita baldeação, o trânsito está horrível e sairia muito caro”, disse Mondelle.

A estação da Luz, que conecta sistemas do metrô e da CPTM no centro de São Paulo, amanheceu com duas das suas três linhas fechadas nesta terça-feira (3). Em meio à greve no transporte público sobre trilhos da região metropolitana, apenas a linha 4-amarela funcionava totalmente, e as linhas 7-rubi e 11-coral tinham operação parcial.

Por volta das 6h, as portas do terminal ferroviário em frente ao Parque da Luz estavam fechadas, assim como os acessos à linha 1-azul do metrô. Passageiros que precisavam entrar na estação central tinham que andar até a rua Brigadeiro Tobias, na entrada da linha 4. Às 7h, as portas já estavam abertas.

Apesar do fechamento de duas linhas (1-azul e 13-jade), os passageiros encontraram situação tranquila nas plataformas do terminal ferroviário e da linha 4-amarela. Microônibus da operação Paese (Plano de Apoio para Situações de Emergência), acionada sempre que há problemas em linhas de metrô e trem, faziam a conexão entre as estações da linha 1-azul.

Mas já por volta das 7h os veículos da Paese chegavam vazios à estação da Luz. Quem embarcou no Tucuruvi, uma hora antes, contou que não enfrentou filas para embarcar. Nas catracas da linha 4-amarela e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), também não havia filas. O ponto de ônibus em frente à estação tinha o número habitual de passageiros esperando pela condução.

Os pontos em que passageiros do transporte público encontram mais transtornos estão nas conexões das linhas que operam normalmente (4-amarela, 5-lilás, 8-diamante e 9-esmeralda) com aquelas que funcionam parcialmente ou estão fechadas.

O mecânico Vinícius Silvério Primilla, 23, saiu às 6h20 de casa, no Jardim Boa Vista, na zona oeste, mas só percebeu sinais da greve ao se aproximar da região central da cidade.

Ele pegou um ônibus perto de casa e depois embarcou na estação Vila Sônia, da linha 4-amarela. A lotação estava normal. Ao descer na estação Paulista, viu as grades fechadas na conexão com a linha 2-verde, que está paralisada pela greve.

“O vagão e as estações só começaram a lotar quando foi chegando perto do centro”, contou Primilla. “Agora estou no maior sofrimento para descobrir como é que eu vou até a região do Paraíso”.

TULIO KRUSE / Folhapress

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