SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A patente do Ozempic, medicamento voltado para o tratamento de diabetes tipo 2 que ganhou destaque devido ao seu efeito colateral de perda de peso, expira em 2026. Com o fim da exclusividade da fabricante Novo Nordisk, abre-se espaço para a produção de versões genéricas ou biossimilares, o que pode reduzir os preços e ampliar o acesso ao tratamento.
A EMS, farmacêutica nacional, quer ser a primeira no Brasil a comercializar semaglutida e liraglutida, análogos do hormônio GLP-1.
“Todos os testes necessários para aprovação na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e FDA [agência regulatória americana] estão sendo realizados. A EMS tem como meta ser a primeira empresa brasileira a obter o registro também da semaglutida”, afirma Iran Gonçalves Júnior, diretor médico da empresa.
O Ozempic, à base de semaglutida, atua como um análogo do hormônio GLP-1, reduzindo os níveis de glicose no sangue e promovendo saciedade ao agir no cérebro, o que ajuda a diminuir a ingestão de calorias e, consequentemente, o peso.
“A semaglutida, originalmente registrada para o tratamento de diabetes, atualmente também é comercializada sob o nome Wegovy para o tratamento de obesidade. Portanto, pode ser prescrita de forma independente para o controle de peso em pessoas que atendam aos critérios estabelecidos”, diz Felipe Henning, especialista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo.
A empresa afirma que os medicamentos, neste primeiro momento, terão preços compatíveis com os praticados no mercado, com a vantagem de oferecer acesso via disponibilidade, para que muitos brasileiros possam iniciar seus tratamentos ou, no caso daqueles que já fazem uso, possam dar continuidade com essa nova opção.
Outras farmacêuticas também já demonstraram interesse em desenvolver genéricos e biossimilares da semaglutida.
A Hypera Pharma afirma que se prepara para incluir a molécula no portfólio com a expiração da patente. Nos últimos anos, a empresa lançou com agilidade medicamentos cujas patentes expiraram, como os anticoagulantes rivaroxabana e apixabana.
A Biomm diz estar empenhada em oferecer biomedicamentos de alta qualidade a preços acessíveis e que está realizando testes com a Biocon para garantir a segurança e eficácia dos produtos. O CEO Heraldo Marchezini afirma que o fim da patente deve expandir o acesso a tratamentos para diabetes e obesidade.
Já a Cimed afirmou que monitora atentamente as mudanças no mercado associadas à expiração de patentes e avalia o desenvolvimento de novos produtos de acordo com sua estratégia corporativa e as demandas do mercado.
Além da semaglutida, a patente da liraglutida, comercializada como Victoza e Saxenda, expirará em março de 2025. Em dezembro, a Anvisa publicou no Diário Oficial da União a aprovação do registro de dois novos medicamentos da EMS. A farmacêutica se prepara para disponibilizar esses produtos no mercado imediatamente após o término da vigência da patente.
A chamada “quebra de patente” na verdade se refere à licença compulsória, permitindo que outros laboratórios fabriquem medicamentos em situações de interesse público.
“Genéricos devem ser muito similares ao produto original, usando o nome químico da substância, enquanto os similares podem ser vendidos com nomes comerciais distintos”, completa.
Henning explica também que no Brasil, a introdução de genéricos é um processo consolidado, sem expectativas de obstáculos técnicos ou regulatórios significativos, já que as indústrias planejam começar a produção assim que a exclusividade termina.
No Brasil, o preço do Ozempic varia de R$ 600 a R$ 1.000, dependendo da dosagem. O medicamento é vendido sem necessidade de retenção de receita, mas é recomendado que seu uso seja supervisionado por um médico para assegurar a segurança e eficácia do tratamento.
De acordo com dados da IQVIA, uma empresa global de análises para o setor de saúde e farmacêutico, os descontos médios para medicamentos variam por categoria no país: 68,31% para genéricos, 30,09% para marcas, 7,77% para referência e 52,30% para similares.
Considerando o desconto médio para genéricos de 68,31%, o preço do Ozempic poderia cair para cerca de R$ 192 a partir de R$ 600, e para cerca de R$ 320 a partir de R$ 1.000.
RAÍSSA BASÍLIO / Folhapress