Paul Lewis inicia maratona Schubert na Sala São Paulo a partir deste domingo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há detalhes em Schubert (1797-1828) que usualmente parecem escapar às análises especializadas. Espremido entre o rastro de Beethoven e a primeira geração assumidamente romântica, ele é o único “vienense da gema” entre os famosos que fizeram música para o mundo desde a cidade austríaca na virada do século 18 para o 19.

Sua arte parece diminuir a rotação de ansiedade presente em Beethoven, criando um mundo interior livre, inventivo, sem exibicionismos voltados para fora.

Um dos mais importantes pianistas da atualidade -especialista nesse repertório tão difícil de situar-, Paul Lewis, britânico de Liverpool, chega a São Paulo para iniciar, a partir deste domingo (31) uma imersão profunda na obra do compositor.

Ao longo do ano, em quatro recitais solo –dois agora e dois em outubro–, entremeados por concertos em que atuará como solista da Osesp, Lewis fará ao vivo 12 sonatas de Schubert, um panorama mais que suficiente desse acervo.

O pianista colaborou diversas vezes com a orquestra paulista na última década, como no projeto dedicado à integral dos concertos de Beethoven -compositor no qual também é referência- em 2016.

Para este domingo estão previstas três sonatas: a nº7 (índice de catálogo D.568), em quatro movimentos, reelaboração do compositor sobre uma obra escrita aos 20 anos de idade; a nº14 (D.784), em três movimentos, composta em 1823, já em seu período de maturidade; e a nº 17 (D.850), de 1825, também em quatro movimentos, uma das poucas que conseguiu publicar em vida.

Se tomarmos as gravações do próprio Lewis dessas obras, pode-se dizer que vale a pena abreviar o almoço do Domingo de Páscoa para estar na Sala São Paulo às 18h.

A primeira obra do programa está presente em seu recente álbum de 2022. A estrutura, apropriada de Beethoven, encontra temas de popular leveza. Os contrastes súbitos são abordados com sonoridade repleta de camadas, preenchendo um espaço em que nada que não seja belo tem vez.

A “Sonata nº14” foi gravada em CD em 2001. Na primeira repetição do tema no “Adagio” (o segundo movimento), Lewis diminui a sonoridade ao mínimo, mas sem nunca permitir que a equalização interna das vozes se perca.

Já a nº17 foi lançada por ele em 2011, também em um registro integralmente dedicado a Schubert. A interpretação de seu “Rondó” final mostra o elo do artista com Mozart, sem dúvida uma chave especial para a concepção de Lewis, não somente de Schubert como também de suas interpretações do próprio Beethoven.

Por isso não será excesso de fanatismo procurar vê-lo -antes do segundo recital dedicado a Schubert, no domingo seguinte- solar com a Osesp, regida por Alexander Liebreich, nos dias 4, 5 e 6 de abril, o “Concerto para piano nº 27” do próprio Mozart, que morreu seis anos antes do nascimento de Schubert.

Filho de um professor primário da periferia de Viena, Franz Schubert teve a chance de estudar com grandes mestres e experienciar um ambiente artístico de excelência graças a uma bolsa de estudos para cantar no coro infantil da Capela Imperial, onde permaneceu dos 11 aos 17 anos.

Quem não puder ver Lewis neste fim de semana poderá assisti-lo no outro domingo (7) em três outras sonatas, quando apresentará mais duas obras compostas aos 20 anos, a “Sonata nº 4” D.537 e a “nº9” D.575, além da “nº18” D. 894, que é de 1826.

A estrutura de fazer dois recitais solo tendo entre eles uma aparição com a orquestra, tudo na mesma semana, será repetida por Lewis em outubro. Serão mais três sonatas no dia 13, uma performance do “Concerto nº1” de Brahms com a Osesp e, no dia 20, as três derradeiras e mais cultuadas sonatas de Schubert.

Aos 51 anos, Lewis é hoje um importante referencial para os jovens pianistas. Sua capacidade de integrar cérebro e coração renova as obras que interpreta, e tê-lo em São Paulo para um projeto dessa envergadura mostra a coerência e consistência da temporada da Osesp.

PAUL LEWIS

Quando: 31/3 e 7/4, às 18h

Onde: Sala São Paulo – pç. Júlio Prestes, 16

Preço: De R$79,20 a R$158,40

SIDNEY MOLINA / Folhapress

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