SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um servidor do Ministério Público de São Paulo foi preso nesta quinta-feira (28) em operação que apura o vazamento de dados sigilosos de processos judiciais para membros do PCC (Primeiro Comando da Capital), de acordo com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Há um mandado de prisão em aberto contra outro investigado, que não teve a identidade revelada.
A operação da Promotoria investiga suposto esquema de obstrução da Justiça, violação de sigilo e corrupção.
“Segundo o apurado, criminosos, inclusive ligados ao PCC, obtiveram em circunstâncias ainda a serem esclarecidas senha de um servidor para acessar conteúdo de processos judiciais, com violação sucessiva de dados sigilosos”, afirmou o Gaeco.
A senha do servidor preso, de acordo com a operação, foi usada por criminosos ligados à facção, advogados e outras pessoas ainda não detalhadas, para acesso e download de processos sigilosos no sistema do Tribunal de Justiça paulista.
A Folha apurou que os membros do PCC eram clientes, assim como outros, de um serviço de acesso a partir dessa senha vazada.
São cumpridos cinco mandados de busca e apreensão em três cidades do estado, além de dois mandados de prisão temporária. Participam das diligências promotores de Justiça, servidores e 40 policiais militares.
O PCC está na mira dos investigadores desde o ataque que culminou na morte do delator da organização criminosa Antônio Vinícius Gritzbch, 38, no aeroporto de Guarulhos, em 8 de novembro.
A Polícia Civil identificou Kauê do Amaral Coelho, 29, como suspeito de ser o olheiro que atuou dentro do aeroporto durante o desembarque de Gritzbach.
Ele chegou ao saguão da área de desembarque uma hora antes do pouso de Gritzbach e há uma imagem dele apontando em direção à vítima, segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública).
Equipes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) tentaram prendê-lo no dia 19, mas ele conseguiu fugir. A Folha apurou que houve vazamento do mandado de prisão contra ele.
Quando houve a busca e apreensão, o irmão de Kauê disse à polícia que ele já havia telefonado e avisado que a polícia poderia aparecer. A SSP informou que ele já havia sido preso em 2022 por tráfico de drogas.
A polícia ofereceu recompensa de R$ 50 mil a quem oferecer informações que auxiliem na prisão dele. A suspeita é de que ele tenha fugido para o Rio de Janeiro.
A influenciadora e nutricionista Maria Helena Paiva Antunes, 29, namorada de Gritzbach, disse que o acordo de delação premiada feita por ele, em que entrega criminosos do PCC envolvidos em esquema de lavagem de dinheiro e dá nomes de policiais civis que integrariam suposto esquema de corrupção, foi o estopim para sua morte.
Em entrevista ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, exibida neste domingo (24), Maria Helena afirmou que as delações feitas pelo namorado fizeram com que “esses inimigos ficassem com muita raiva e falassem que a ‘gente precisa eliminar as histórias'”.
A mulher contou que chegou a questionar Gritzbach sobre seu envolvimento com o crime organizado. “Ele disse que em um momento da vida foi ambicioso e cometeu esses erros.” Ela afirmou que o namorado nunca citou nomes de pessoas com quem estaria envolvido.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress