Peça ‘Depois do Ensaio, Nora, Persona’ une Ingmar Bergman e Henrik Ibsen

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos principais elementos das montagens teatrais do diretor José Fernando Peixoto de Azevedo, a prática do cinema enquanto as cenas acontecem no palco, é levada ao limite no espetáculo “Depois do Ensaio, Nora, Persona”, em cartaz no Sesc Paulista até o dia 23 de junho.

Dois telões que fazem parte do cenário exibem imagens ao vivo e gravadas e parte da cena é formada a partir de chroma key, com o azul substituído por imagens de outros ambientes, como acontece nas produções do audiovisual.

Câmeras acompanham a movimentação dos atores e atrizes, inclusive fora do cenário visto pelo público –o elenco transita por corredores e outros espaços do Sesc. Há cortes, closes e trilha sonora ao vivo.

O espetáculo relaciona duas obras do escritor e cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007), “Depois do Ensaio” e “Persona”, à dramaturgia de “Casa de Boneca”, de Henrik Ibsen (1828-1906), para discutir temas como o abandono, a inveja, o teatro e, claro, o cinema.

Em “Dois Perdidos numa Noite Suja – Delivery”, que ficou em cartaz ano passado no antigo prédio da Aliança Francesa, no centro de São Paulo, Azevedo atualizou o texto de Plínio Marcos. Para isso, transformou os personagens em entregadores de aplicativos e colocar o caos urbano da capital em cena por meio de imagens gravadas ou captadas ao vivo.

A música ao vivo também fazia parte da montagem, assim como outros dois elementos que voltam em “Depois do Ensaio, Nora, Persona”: cenas realistas de sexo e a exploração do terror nas relações cotidianas, em uma dimensão na qual as questões raciais aparecem sem a necessidade de discursos panfletários ou didáticos.

Em algumas cenas, por exemplo, atrizes vestem camisetas estampadas com imagens do rapper Sabotage e dos Racionais MC´s, o que funciona mais do que um texto discursivo para falar sobre a violência e a resistência dos corpos negros.

“Desde que montei ‘Ensaio sobre o terror’, em 2023, estamos retomando uma experiência de coletivo. Aos poucos vai se consolidando a Sociedade Arminda, uma plataforma de trabalho, de aquilombamento”, diz o diretor sobre o grupo inicialmente formado pelos artistas Rodrigo Scarpelli e Thainá Muniz.

O trabalho atual apresenta ao público três peças, uma na sequência da outra, em um espetáculo com duração de 3h40, com intervalo de 20 minutos. Começa com “Depois do Ensaio”, em que uma jovem atriz negra discute com um diretor, um homem branco, mais velho, em intervalos do ensaio de “Casa de Boneca”.

Na segunda parte, é apresentada uma versão de “Casa de Boneca”, que Bergman filmou na década de 1980 e na peça tem um forte componente racial. E, por último, é a vez de “Persona”, a história do colapso de uma atriz que perde a voz e convive com uma enfermeira, entre encontros e desencontros de duas mulheres negras.

“Com esse projeto, discutimos a permanência dos corpos negros em cena. Por isso, temos pelo menos três gerações de teatro no trabalho”, afirma o diretor. “Em ‘Depois do Ensaio’, temos duas gerações radicalmente diferentes de mulheres negras em cena, o que permite uma reflexão sobre teatro, sobre racialidade no teatro, sobre interracialidade e sobre o lugar dessas mulheres no teatro que fazemos”.

DEPOIS DO ENSAIO, NORA, PERSONA

Quando Até 23 de junho de 2024. Quintas, sextas e sábados, às 19h. Domingos às 17h. Quarta, 19/6, às 19h.

Onde Sesc Paulista

Preço R$50 (inteira), R$25 (meia) e R$ 15 (credencial plena do Sesc)

Autoria Ingmar Bergman (Depois do ensaio, Persona) e Henrik Ibsen (Casa de Boneca)

Elenco Daniel Tonsig, Castilho, Ellen Regina, Filipe Roseno, Izabel Lima, Rodrigo Scarpelli, Thainá Muniz e Victor Barros

Direção José Fernando Peixoto de Azevedo

CRISTINA CAMARGO / Folhapress

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