Peça imagina encontro modernista entre Gertrude Stein e Mário de Andrade

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nos anos 1920, Gertrude Stein transformou o seu apartamento em Paris, na França, em um ponto de encontro da “intelligentsia” europeia. Ao lado da mulher, Alice B. Toklas, a poeta e escritora americana recebia, em seu apartamento na rua Fleuris, os grandes artistas da sua época —o bailarino russo Nijinski, o pintor espanhol Pablo Picasso e o poeta francês Apollinaire, entre eles. As noites ardiam em patuscadas febris.

Os convidados discutiam o estado da arte ao redor de lauta mesa e da maior coleção de arte moderna daquele tempo. Ao todo, eram 600 obras, um contingente formado por telas de Matisse, Cézanne, Renoir e do próprio Picasso. Passado um século, o casal de produtores culturais, formado por César Nascimento e Fábio Saltini, resolveu imitar a iniciativa de Stein.

Desde 2019, eles recebem convidados em seu apartamento, na rua Martins Fontes, no centro da capital paulista, para noitadas, que unem gastronomia, teatro e mostras, incluindo venda de obras de arte. Pela primeira vez, o projeto Casa Galeria sai do apartamento e, na quinta-feira, dia 25, no Salão Nobre do Edifício Itália, numa comemoração aos 470 anos de São Paulo, em um dos marcos arquitetônicos da cidade.

Aberta ao público pagante, a noite tem a encenação da peça “Gertrude Stein recebe Mário de Andrade”, escrita por Leonardo Alkmin. Ambientado entre São Paulo e Paris, o texto imagina um encontro entre a escritora americana e o autor brasileiro, provocando um diálogo entre dois artistas modernistas. “Eles eram gays, né, gente? Acho que isso define a personalidade dos dois e os aproxima também”, diz Nascimento, que interpreta Toklas.

O cenário recria o apartamento de Stein, papel de Eliana Guttman, com móveis e figurinos de época. Vivido por Denis Victorazo, Mário de Andrade conta a história de sua relação platônica com a pintora Anita Malfatti e as recordações da Semana de Arte Moderna de 1922. A narração é embalada pelo piano de Deise Hattum, que faz as vezes de Chiquinha Gonzaga. Monteiro Lobato, personagem de Saltini, surge como um fantasma, lendo a famosa carta em que ataca a arte de Malfatti.

A peça faz parte de uma trilogia, que se iniciou, há cinco anos, com “Gertrude Stein Recebe Anita Malfatti” e se completa, ainda neste semestre, com a encenação de “Gertrude Stein Recebe Picasso e Dalí”, todas as peças escritas por Alkmin. A noite do dia 25 prevê uma exposição de obras do pintor Gregório Gruber, na Galeria Biganti, que fica no mesmo edifício.

O artista se dedica a registrar o cotidiano da capital paulista. Suas telas mostram ruas vazias, ressaltando a imponência dos prédios da metrópole. As obras unem, assim, edificações de diferentes períodos da história da arquitetura. Se o caos urbano não é tematizado, há um choque entre estilos, do neoclássico ao art déco. Em termos cromáticos, Gruber explora tons achumbados, unindo o cinza dos prédios à poluição no lusco-fusco.

Por fim, a trilogia cultural se completa com um jantar de inspiração modernista que será oferecido, também no Salão Nobre, pelo Circolo Italiano, associação da colônia italiana de São Paulo fundada em 1911. O menu será inspirado nos cardápios de Mário de Andrade, que tinha grande interesse pela gastronomia brasileira.

Ao longo da vida, o autor de “Macunaíma”, romance publicado em 1928, reuniu uma coleção de cardápios em seu acervo, pelo qual estudiosos ainda hoje examinam o contexto social em que o modernismo brasileiro estava inserido. ” Acho que o segredo da peça está no personagem da Chiquinha, que reforça o elo entre as duas personagens”, afirma Saltini.

GERTRUDE STEIN RECEBE MÁRIO DE ANDRADE

Quando 25 de janeiro às 18h30

Onde Edifício Itália – Av. Ipiranga, 344, São Paulo

Autoria Leonardo Alkmin

Elenco Amazyles de Almeida, Deise Hatoum e César Nascimento

Produção R$ 220 a R$ 330

Direção Fábio Saltini

GUSTAVO ZEITEL / Folhapress

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