RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Um homem que se passava por pecuarista aplicou golpes em compras de gado de elite no Tocantins que somam pelo menos R$ 868 mil, de acordo com a polícia, que pediu sua prisão.
De acordo com a investigação, o homem, de 49 anos, é de Goiás e, ao chegar ao estado, procurou profissionais como engenheiros agrônomos e zootecnistas conhecidos dos produtores rurais, alegando que queria adquirir cabeças de gado PO (puro de origem).
Só que a intenção do criminoso era, por meio da credibilidade desses profissionais, chegar até as potenciais vítimas dos golpes, diz a polícia.
Os crimes apontados foram praticados em Paraíso do Tocantins, cidade de 52 mil habitantes e distante 75 km da capital do estado, Palmas, e em municípios vizinhos.
Três vítimas procuraram a polícia para relatar as negociações. O maior caso envolveu R$ 525 mil. Os outros foram de R$ 255 mil e R$ 180 mil. Dos R$ 960 mil, as perdas dos fazendeiros chegam a R$ 868 mil. A polícia aguarda decisão da Justiça sobre o pedido de prisão.
“Esses profissionais locais, em princípio de boa-fé e sem desconfiar que se tratava de um golpe, apresentavam o pretenso comprador aos produtores, o que gerava uma maior credibilidade pela confiança já estabelecida com os profissionais locais”, diz a polícia.
Além de se aproximar de profissionais renomados, o golpista argumentava que era dono de uma grande fazenda em Goiás e, para aumentar a credibilidade com as vítimas, pagava à vista uma parte do valor dos negócios.
Na “compra” de R$ 525 mil, pagou R$ 41 mil de entrada. Na de R$ 255 mil, deu R$ 21 mil à vítima e, no de R$ 180 mil, pagou R$ 30 mil no fechamento do negócio. Foram os únicos valores recebidos pelos pecuaristas.
A polícia descobriu que a propriedade rural apontada pelo suspeito dos crimes não era mais dele havia mais de dois anos e que os cheques emitidos foram devolvidos por insuficiência de fundos ou por serem fraudados.
“Como ele deu vários cheques [pré-datados], esperamos acabar o prazo, vimos que todos eram sem provisão de fundos e alguns ainda foram devolvidos como cheques fraudados. Isso se configura estelionato”, afirmou o delegado Gustavo Henrique da Silva Andrade, titular da Deleagro (Delegacia Especializada de Combate aos Crimes Rurais).
A delegacia foi criada no estado em 2022, com o objetivo de reprimir crimes patrimoniais -como furtos e roubos de insumos, defensivos e máquinas agrícolas, entre outros- em um momento de alta no rebanho bovino do estado e, também, de crimes envolvendo gado, recorrentes na região.
Os negócios envolvendo o suposto golpista e os fazendeiros tocantinenses foram fechados entre novembro e dezembro de 2022, mas a investigação só foi concluída agora por causa das características do crime investigado, conforme o delegado.
“Emitiu os cheques para 2023 e, encerrando os [depósitos] pré-datados, a gente concluiu que era golpe mesmo. A Justiça podia achar que era só uma negociação, que ele estava inadimplente, e por isso precisava esperar os cheques para configurar [estelionato]. Era um meio de iludir as vítimas”, afirmou.
Andrade disse que a pressa para cometer o crime era tanta que, em um dos casos, ele não quis esperar nem a emissão de guias ou de nota fiscal para embarcar o gado e levar para Goiás. A polícia conclui que a destinação dos animais seria ilícita, por não ter documentação de compra.
O rebanho bovino no estado alcançou 10,77 milhões de cabeças em 2022, 6% mais que o registrado no ano anterior, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em novembro daquele ano, dado o cenário de risco, a polícia deflagrou uma operação em Paraíso do Tocantins e outras três cidades após o furto de mais de cem cabeças de gado em fazendas.
Três meses antes, dois homens foram presos com oito bois furtados de uma fazenda na cidade.
No mesmo ano, em maio, dois homens foram presos por suspeita de furto de animais e abate ilegal na zona rural de Paraíso. Armas como uma espingarda com silenciador foram apreendidas.
Já no ano passado, em Monte Santo do Tocantins, distante 25 quilômetros de Paraíso, cerca de 30 animais foram furtados num intervalo de meses só em uma propriedade rural.
“Temos furto de gado, roubos em fazendas de defensivos agrícolas e máquinas, mas temos percebido que até esse pessoal está migrando para o estelionato. Se rende uma pessoa, faz refém, a pena é muito maior. Num golpe desses, [o criminoso] ganha R$ 860 mil, para roubar uma fazenda precisa de mais gente, armas, e a pena é maior. Até no ramo do agro, estão migrando para o estelionato”, disse o delegado.
MARCELO TOLEDO / Folhapress