Pela 2ª vez, Miss Universo terá candidata trans; Mas o que isso significa e como impacta o setor dos concursos de miss?

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na tarde deste sábado (8), a modelo e atriz transgênero Rikkie Valerie Kollé, 22, foi eleita para ser a representante oficial da Holanda no Miss Universo 2023. Assim, ela se torna a segunda candidata trans a se classificar para integrar o elenco de uma das edições do mundial, que celebrará sua 72ª edição. O fato já vem ganhando registros na imprensa por todo o mundo, mas é importante entender o contexto e impactos desse momento.

Em primeiro lugar, mesmo com tantas competições no setor e com o momento de baixa que os concursos de beleza vivem a nível global, o Miss Universo se mantém no topo. É inegável sua presença fixa no imaginário das pessoas, pela sua marca e histórico. Por isso, a maioria das coisas que acontecem por lá, como a presença de uma candidata trans, ganham alta repercussão.

Se aproveitando disso, a organização vem derrubando na última década uma série de regras, a fim de modernizar a competição e ser pioneira na indústria. Obviamente, também quer se aproximar das novas gerações, que são mais sustentáveis e abertas à inclusão social dos diferentes tipos de gênero. São outros tempos e, se o concurso se mantivesse sob a sombra de apenas objetificar o corpo feminino, estaria fadado ao fracasso.

Porém, deixar essa alcunha de lado não tem sido fácil, e as mudanças e avanços estão sendo lentos e graduais, tanto por parte da organização quanto pelo público. Da mesma forma que o concurso bateu cabeça em suas tentativas e ritmo de abertura, os fãs mais antigos não desapegam das regras mais “dinossáuricas” e as novas gerações não se deixam seduzir pelo histórico machista do Miss Universo.

Desde 2012 é permitido que mulheres transgêneros participem do concurso, em todas as suas estâncias: mundial, nacional, estadual e municipal. Porém, a primeira miss trans a se classificar para o mundial só veio em 2018, com a vitória da modelo Angela Ponce no Miss Espanha. Rikkie chega agora, portanto, no mesmo patamar de Angela, após longos cinco anos.

Os motivos pelo qual não houveram outras misses trans no Miss Universo nesse hiato, são todos os fatores citados acima, além da homofobia e violência contra pessoas LGBTQIAP+ a nível global. Para se ter uma ideia, um relatório de 2021 da associação Transgender Europe (TGEU), aponta que 70% de todos os assassinatos registrados aconteceram na América do Sul e Central, sendo 33% no Brasil, seguido por México e Estados Unidos.

Apesar de a espanhola ter inaugurado o caminho de abertura do concurso, ela não avançou na competição. Ainda assim, apesar de não ter entrado no primeiro corte de 20 semifinalistas, foi homenageada no palco e seu nome entrou para a história. Na ocasião, quem venceu foi a filipina Catriona Gray.

O momento em que Rikkie foi eleita, porém, parece mais convidativo e agradável que o de Ponce em 2018. Isso pois a atual dona do Miss Universo, comprado em meados do ano passado, é a empresária tailandesa Anne Jakrajutatip, que é uma mulher transgênero.

Contribuem para essa era da diversidade do certame, a partir de 2023, passou-se a aceitar na disputa a inscrição de mulheres casadas, divorciadas, grávidas ou mães. Inclusive, no Miss Universo Brasil 2023, realizado na madrugada deste domingo (9), três misses com filhos (Goiás, Maranhão e Piauí) integraram o grupo das 27 postulantes. Em tempo: quem venceu foi a gaúcha Maria Eduarda Brechane, 19, que não é uma delas.

Tudo indica, portanto, que a próxima edição da competição, estimada para acontecer em dezembro em El Salvador, seja mais colorida e dê mais chances para mulheres reais, assim como para misses trans. Parece louvável e justo. Mas será que os jurados e a sociedade global de raízes patriarcais estão preparados para ter uma Miss Universo que seja casada, com filho e transgênero? Anne, contamos com você!

MISS UNIVERSO HOLANDA 2023

Rikkie foi eleita Miss Universo Holanda 2023 em concurso realizado na cidade de Leusden, a 58 km da capital Amsterdã. Ela deixou para trás outras nove candidatas finalistas e, segundo os jurados, foi a miss que mais evoluiu ao longo do confinamento.

Rikkie é conhecida em seu país por ter participado em 2018 do reality show “Holanda Next Top Model”, onde foi uma das finalistas. A atual Miss Universo, a americana R’Bonney Gabriel, 28, esteve presente na coroação.

Nascida com o nome de Lil Rik, Rikkie iniciou sua transição de gênero aos 8 anos, com apoio da família. Ela alterou seu nome aos 11, quando se assumiu como mulher, e começou a tomar hormônios femininos aos 16 anos. Em janeiro de 2023, após aguardar por dois anos, realizou a cirurgia de mudança de sexo. O relato dessas etapas foi feito pela própria miss em suas redes sociais.

Vale lembrar que a atual vencedora do Miss International Queen, concurso voltado para mulheres transgêneros, também é holandesa.

FÁBIO LUÍS DE PAULA / Folhapress

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