ASSUNÇÃO, PARAGUAI (FOLHAPRESS) – O conservador Santiago Peña assumiu a Presidência do Paraguai nesta terça (15) com acenos para todos os lados: ao presidente Lula (PT), ao seu padrinho político, Horacio Cartes, visto como “consideravelmente corrupto pelos Estados Unidos”, e a Taiwan, com quem mantém relações apesar da pressão da China.
“Estamos decididos a deixar de ser uma ilha rodeada de terra”, discursou o economista de 44 anos, citando o premiado escritor paraguaio Augusto Roa Bastos e cercado de apoiadores sentados em frente ao Palácio de los Lopez, no centro de Assunção, em cerimônia fechada a credenciados e de tom morno.
Peña foi eleito em 30 de abril, garantindo mais cinco anos de hegemonia ao Partido Colorado, que governa o país há quase 70 anos, desde a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). A exceção foi a gestão do ex-bispo de esquerda Fernando Lugo (2008-2012), alvo de impeachment a meses de concluir o mandato.
Em turno único, ele superou o liberal Efraín Alegre com a vitória mais folgada da legenda contra a oposição em 25 anos 42,7% a 27,5%. Mesmo formando uma coalizão da centro-esquerda à centro-direita, Alegre não conseguiu superar a máquina política rival a maioria dos funcionários públicos, por exemplo, é filiada ao Colorado.
Cartes, presidente da legenda e investigado interna e externamente por negócios feitos por seus bancos e empresas de cigarros, foi uma das primeiras pessoas a quem Peña agradeceu, arrancando aplausos dos presentes. O poderoso político foi quem o colocou na política, em 2015, como seu ministro da Fazenda.
O novo presidente insistiu na ideia de inserir o Paraguai nos mercados globais e na América Latina, reforçando sua localização estratégica, e focou a política externa em boa parte do discurso de 30 minutos. “Que o mundo testemunhe o ressurgir de um gigante”, afirmou. Ele também chamou os taiwaneses de “irmãos” e, após condenar a invasão da Ucrânia, disse apoiar ações de paz de Lula e do papa Francisco.
Ele recebeu a faixa presidencial de Mario Abdo Benítez, conhecido como Marito, que deixa o governo com uma das piores avaliações entre os presidentes latino-americanos: em junho de 2022, segundo a última pesquisa do Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (Celag), só 12% da população o aprovava.
Ainda estava prevista uma série de eventos até a noite, mas Lula, presente na parte principal da posse, retornou a Brasília pela manhã. Além do brasileiro, participaram líderes como o argentino Alberto Fernández, o uruguaio Luis Lacalle Pou, o chileno Gabriel Boric, o boliviano Luis Arce e o vice-presidente de Taiwan, Lai Ching-te, provável candidato governista na eleição à Presidência da ilha em 2024.
O Paraguai é a única nação na América do Sul entre as 13 no mundo que mantêm relações formais com a ilha, considerada uma província rebelde pela China, o que implica abrir mão de elos diplomáticos com Pequim. Antes de chegar ao país sul-americano, Lai fez uma parada nos Estados Unidos, principal rival chinês na Guerra Fria 2.0, o que provocou promessas de retaliações “firmes e contundentes” pelo regime.
Peña terá como principais desafios lidar com uma estagnação econômica que atinge o país desde a pandemia da Covid-19, após anos de crescimento, além de índices altíssimos de informalidade no trabalho (no mesmo nível há uma década) e a alta da violência, especialmente na fronteira com o Brasil. Também terá que renegociar com Lula parte do acordo da hidrelétrica de Itaipu, que completou 50 anos neste ano.
JÚLIA BARBON / Folhapress