RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A atividade econômica perde ritmo no Brasil com o fim dos principais meses da colheita de soja e a manutenção dos juros altos sobre o consumo de bens e serviços. Essa é a avaliação de analistas a partir da divulgação de indicadores que apontam resultados negativos em maio.
Nesta quarta-feira (19), o Monitor do PIB, da FGV (Fundação Getulio Vargas), sinalizou queda de 3% na atividade econômica ante abril. Antes, na segunda (17), o IBC-Br, divulgado pelo BC (Banco Central), já havia indicado baixa de 2% na mesma base de comparação.
Para analistas ouvidos pela Folha, o freio da atividade ajuda a consolidar o cenário para o início dos cortes da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), do BC. O encontro está agendado para os dias 1º e 2 de agosto.
“Esses dados mais fracos da atividade econômica ajudam na justificativa para o Banco Central começar a cortar os juros em agosto”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
A principal dúvida, segundo ele, é se a redução será de 0,25 ponto percentual ou de 0,5 ponto percentual. Por ora, a MB prevê baixa de 0,25 ponto percentual. A Selic tem sido mantida pelo BC em 13,75% ao ano nos últimos meses.
“Não vejo motivos para o Banco Central não reduzir os juros em agosto”, diz Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating.
“Se ele demorar mais, vai jogar a atividade econômica no chão”, acrescenta. A Austin prevê queda de 0,5 ponto percentual na Selic em agosto.
O BC vem mantendo a taxa básica em 13,75% como forma de esfriar a demanda por bens e serviços para conter os preços e ancorar as expectativas de inflação.
O efeito colateral previsto é a perda de ritmo da atividade econômica, já que o crédito fica mais caro para as famílias e as empresas. Essa desaceleração preocupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem pressionando o BC pela redução da Selic.
De acordo com a economista Juliana Trece, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a queda de 3% sinalizada pelo Monitor do PIB em maio reflete principalmente o impacto do fim da colheita de soja, mais concentrada no primeiro trimestre.
Além disso, segundo ela, os juros altos vêm trazendo dificuldades para um desempenho mais robusto da indústria e dos serviços.
“A queda de 3% assusta, mas está muito relacionada com o fim da colheita de soja. É um número ruim, óbvio, mas parece pior do que realmente é”, pondera Trece.
Ela também avalia que a perda de ritmo da atividade pode favorecer a redução dos juros nos próximos meses. “No início do ano, a agropecuária deu uma mascarada nos problemas que a atividade econômica teve com os juros. O início do ano não foi tão bom como pareceu, e nem agora está tão ruim como pode parecer”, afirma.
Por ora, a projeção do FGV Ibre para o PIB é de alta de 1,6% no acumulado de 2023. Analistas do mercado financeiro, contudo, já veem um avanço superior a 2%, apesar da perda de ritmo trimestral após os maiores impactos da safra.
O Monitor do PIB estima mensalmente o comportamento da atividade econômica no Brasil. O cálculo oficial do PIB é divulgado de três em três meses pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado mais recente do IBGE é relativo ao primeiro trimestre, quando houve crescimento de 1,9%. A alta ficou acima das projeções de analistas na ocasião.
À época, o PIB teve impulso da agropecuária, que registrou salto de 21,6% de janeiro a março. O setor foi beneficiado pela melhoria das condições climáticas neste ano, o que levou a projeções de recorde na safra.
Sergio Vale, da MB associados, projeta variação negativa de 0,2% para o PIB no segundo trimestre. Conforme o economista, a estimativa está associada ao fim dos principais efeitos da colheita.
“Mesmo assim, a economia continua forte, porque subiu 1,9% no primeiro trimestre e cai só 0,2% no segundo. É uma economia resiliente, que deve entregar um crescimento próximo de 2,5% no acumulado do ano”, prevê. A estimativa da MB, por ora, é de avanço de 2,1% para o PIB de 2023.
A Austin Rating, por sua vez, subiu a projeção para o indicador no acumulado deste ano de 2% para 2,4%. Alex Agostini, economista-chefe da instituição, afirma que os possíveis cortes dos juros e a trégua da inflação tendem a beneficiar o consumo.
Além disso, medidas como o arcabouço fiscal e a Reforma Tributária também contribuem para melhorar as expectativas na economia, segundo ele.
“O governo conseguiu mitigar boa parte dos riscos, que eram muito altos, e de uma forma até muito rápida. Tudo isso deve contribuir para melhorar as expectativas no segundo semestre”, diz Agostini.
O economista André Perfeito avalia que os dados do Monitor do PIB, assim como os do IBC-Br, “jogam pressão” sobre o Copom por cortes mais fortes nos juros. Ele prevê Selic de 11,75% ao final do ano.
LEONARDO VIECELI / Folhapress