Pesquisadores de ararinha-azul e cinturão verde de São Paulo são premiados pela Unesco

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dois brasileiros estão entre os 13 ganhadores de uma premiação da Unesco (sigla em inglês para Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) destinada a jovens pesquisadores que desenvolvem trabalhos em áreas protegidas conhecidas como reservas da biosfera.

Um dos projetos vencedores é voltado a políticas públicas para áreas verdes e o outro, à reintrodução na natureza das ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii). Cada pesquisador recebe US$ 5.000 (quase R$ 25 mil na cotação atual) do Prêmio MAB para Jovens Cientistas, para dar continuidade aos trabalhos.

Um dos campeões é Danilo Sato, pesquisador da Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade, vinculada ao IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP (Universidade de São Paulo). Seu projeto é desenvolvido na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo.

A outra ganhadora do Brasil é a pesquisadora Ariane Ferreira, que tem como base a Reserva da Biosfera da Caatinga.

As reservas da biosfera fazem parte no Brasil do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), mas sua origem está no programa O Homem e a Biosfera, da Unesco. Além do papel de conservação, esses locais funcionam como “lugares de aprendizado para o desenvolvimento sustentável”, como define a entidade.

Segundo a Unesco, há 738 reservas da biosfera espalhadas por 134 países.

Uma dessas é a do Cinturão Verde de São Paulo, que, como o nome diz, “abraça” a capital paulista. Ela ocupa uma área superior a 2 milhões de hectares e passa por 78 municípios, chegando à divisa de Minas Gerais. A reserva adentra parte do litoral paulista, em sobreposição a outras unidades de conservação e terras indígenas.

Em meio à concentração urbana, ela tem papel importante na regulação climática da região e também na questão hídrica, segundo análise recente dos serviços ecossistêmicos da área. A reserva concentra produção de 88,6% do volume de água e 100% dos reservatórios responsáveis pelo abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.

Apesar da relevância da reserva, é comum que até mesmo os moradores da região nunca tenham ouvido falar dessa área de conservação e pesquisa. Sato afirma que o desconhecimento das reservas da biosfera não é exclusividade brasileira.

No projeto em que trabalha, o pesquisador faz uma comparação entre a reserva no território paulista e a Reserva da Biosfera de Wienerwald, na Áustria.

O objetivo do projeto é verificar o impacto da reserva da biosfera no desenvolvimento sustentável, na formação de políticas públicas e no uso do solo. Um dos pontos avaliados são as pressões de desmatamento sobre a área de conservação.

A questão central, no entanto, é como aplicar a ideia de desenvolvimento sustentável em áreas que parecem muito distantes do ideal de sustentabilidade.

“Viena não é tão conflituosa, mas São Paulo é bastante. Como a gente pensa conservação e desenvolvimento sustentável para a região metropolitana? Dá até para perguntarmos: podemos pensar que a região metropolitana de São Paulo pode ser sustentável de alguma forma?”, questiona Sato, que conta que a premiação em dinheiro o ajudará a finalizar o trabalho com uma ida para Viena.

Já a pesquisa de Ariane Ferreira se concentra em uma ave que, possivelmente, você já conheceu -ao menos em uma tela de cinema ou TV, como na animação “Rio” (2011), protagonizada por uma ararinha-azul.

A bióloga, porém, convive de perto com esses animais em Curaçá, na Bahia. Em 2022, diversas ararinhas-azuis criadas em cativeiro foram soltas no município, em uma tentativa de reintrodução na natureza dessa espécie, que, em 2000, foi considerada extinta em ambiente natural.

Ferreira coordena a equipe que monitora a vida das aves reintroduzidas na caatinga. Para ela, diz, o valor do prêmio ajudará na continuidade desse acompanhamento.

“Consideramos que a reintrodução foi realmente um sucesso”, conta Ferreira, pouco mais de um ano após a soltura das primeiras ararinhas em Curaçá.

Foram soltas oito ararinhas na estação seca e outras 12 na estação chuvosa. Aparentemente, o período seco foi o mais adequado para a prática, afirma Ferreira, porque “as aves ficam muito mais unidas, coesas”.

“É muito importante elas estarem em grupos, porque enquanto uma está comendo, a outra está cuidando, vigiando”, explica.

Atualmente, 12 ararinhas-azuis são acompanhadas pelo projeto, realizado com esforços de mais de uma década do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e da ONG alemã ACTP (Association for the Conservation of Threatend Parrots).

A décima terceira ararinha que integrava o estudo, por se perder frequentemente e ter que ser resgatada nesses episódios, precisou voltar a viver em cativeiro, para ser preparada para uma próxima soltura.

Em geral, as ararinhas não ganham nomes, conta Ferreira, mas as que dão mais trabalho acabam roubando atenção e, assim, terminam apelidadas pelos participantes do projeto. O costume em Curaçá é chamar as fujonas pelo nome de quem conseguiu avistar a fuga.

Tem a Bizé, por exemplo. E a Liete, que, por ter sido a primeira experiência de fuga dos pesquisadores, numa escapada que quase a levou para outro estado, acabou criando um vínculo de carinho maior. “E também porque ela é muito esperta”, reconhece Ferreira.

PHILLIPPE WATANABE / Folhapress

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