Pesquisas indicam 2º turno na Argentina tão acirrado quanto o do Brasil em 2022

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – “Quem vai ganhar as eleições na Argentina?”. A dez dias do pleito, a pergunta talvez seja a mais ouvida por aqueles que acompanham a política no país vizinho. Difícil, porém, é encontrar uma resposta. Assim como aconteceu com Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) em 2022, as pesquisas até agora indicam que a briga será voto a voto.

O ultraliberal Javier Milei e o ministro da Economia Sergio Massa estão em um empate técnico em grande parte das sondagens feitas até aqui. Algumas delas, porém, registraram uma melhora do candidato ultraliberal nas últimas duas semanas, logo após o surpreendente resultado do peronista no primeiro turno, em outubro.

De acordo com analistas, grande parte do eleitorado já se decidiu -o que não significa que a disputa esteja resolvida. Tanto os resultados das primárias quanto os da primeira votação destoaram, em certa medida, da maioria das pesquisas e análises, fazendo jus à avaliação de que estas são as eleições mais incertas das últimas décadas no país.

Segundo uma média calculada pelo portal La Política Online considerando diversos levantamentos realizados após o primeiro turno, Milei teria 42,9% e Massa, 42,8% das intenções de voto. Mas o ultraliberal varia de 34,3% a 51,5%, dependendo da sondagem, enquanto o peronista flutua de 38,3% a 47,2%.

A empresa brasileira AtlasIntel, uma das únicas que captou a liderança de Massa um mês antes das eleições, prevê uma diferença de quatro pontos percentuais a favor de Milei, no limite da margem de erro de dois pontos. Ele tem 52% dos votos válidos, contra 48% do ministro, segundo dados coletados dos dias 1 a 3 de novembro.

“Massa subiu no cenário de segundo turno logo depois do primeiro turno, mas depois isso se reverteu por causa da crise da gasolina [a falta de combustível levou à eclosão de filas de carros em diversos postos na semana passada]. Milei conseguiu se recuperar e as coisas se estabilizaram. Nesse momento, não estamos percebendo uma dinâmica clara de queda ou de ascensão de nenhum dos dois”, diz o CEO da empresa, Andrei Roman.

Ele diz que o avanço de Milei se deve ao à migração de votos dos eleitores de Patricia Bullrich, macrista que ficou em terceiro lugar com 23,8% das cédulas e decidiu apoiar o libertário, para ele. O especialista também acredita que o candidato ainda tem espaço para crescer mais um pouco entre os indecisos, que não são muitos.

Segundo ele, dois fatores principais podem influenciar o resultado daqui para frente. Um deles é o debate presidencial do próximo domingo (12), cujo efeito não será captado pelas pesquisas, já que a partir dessa data elas não poderão ser divulgadas. O outro é a taxa de participação do eleitorado –que fez diferença em outubro mas, ao que tudo indica, não mudará agora.

“Um terço do eleitorado argentino tem uma imagem negativa tanto do Milei quanto do Massa. Esse terço vai ter que eleger um mal menor”, afirma Roman. “Se algo mudar é porque a rejeição de um dos candidatos subiu em relação ao outro. Quem for mais competente em termos de desconstrução do adversário, seja em debate, propaganda, redes sociais, é quem vai se beneficiar.”

Já a empresa Zuban Córdoba é uma das que mostram Massa à frente, mas em empate técnico. Ele tem 45,4% das intenções de voto, contra 43,1% do ultraliberal. As porcentagens, neste caso, somam-se aos cerca de 11% dos eleitores que estão indecisos, não vão comparecer às urnas ou pretendem votar em branco.

“Acreditamos que a eleição vai ser muito acirrada até o último momento, voto a voto. Os eventos que vão acontecendo dia a dia, tanto notícias, ações dos candidatos ou novidades econômicas, vão movendo o eleitorado que ainda não está decidido em diferentes sentidos”, diz a codiretora Paola Zuban.

“Há uma grande incerteza em toda a população, mas uma maioria dos cidadãos já tem seu voto decidido, os indecisos são muito poucos. Isso pode significar a corrida de um ou dois pontos para um lado ou para o outro, e isso vai se definir no último momento”, conclui ela, que também não acredita que haverá grande abstenção.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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