Pesquisas sobre inclusão ganham investimento de R$ 39 milhões em SP

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Universidades públicas de São Paulo e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) se uniram em uma ação inovadora e inédita, um investimento conjunto de R$ 39 milhões em projetos voltados à inclusão e acessibilidade para pessoas com deficiência.

As pesquisas serão voltadas para o desenvolvimento de tecnologias como cadeiras de rodas motorizadas e aplicativos de tradução de Libras, a Língua Brasileira de Sinais, em uma articulação entre as instituições que envolve ainda secretarias do estado e centros de pesquisa, com objetivo de promover qualidade de vida para esse grupo social.

Do valor total, R$ 10 milhões serão investidos pela USP, pela Unesp e pela Unicamp, que lançaram um edital em conjunto para financiar pesquisas voltadas a essa população. Além disso, com o aporte da Fapesp, as universidades também vão tocar projetos próprios e multidisciplinares voltados à inclusão.

Para Carlos Roberto Grandini, professor de biomateriais da Unesp e responsável por uma das pesquisas financiadas pela Fapesp, o acordo é um passo para uma futura colaboração maior entre os cientistas de diferentes instituições, atuando em prol da inclusão.

“A ideia é utilizar a expertise e a infraestrutura que existe na universidade para responder às demandas na sociedade. No futuro, queremos que pessoas com deficiência tragam seus problemas para tentarmos solucioná-los”, diz.

Na USP, os cientistas projetam o desenvolvimento de exoesqueletos, equipamentos que podem auxiliar pessoas com mobilidade reduzida em algumas atividades. Também planejam cadeiras de rodas motorizadas mais leves e resistentes.

A ideia é que os dois equipamentos tenham uso complementar, de acordo com Arturo Forner Cordero, coordenador do Centro de Tecnologias Assistivas para as Atividades da Vida Diária (Tecvida), responsável pelo projeto.

O exoesqueleto pode ser útil para eventos que exigem um tempo mais prolongado em pé, por exemplo, enquanto a cadeira de rodas seria usada para locomoção. No caso dessa última tecnologia, Cordero diz que a ideia é fazer um produto com melhor custo benefício, a partir de materiais mais duráveis.

“É possível ter produto que mantenha um nível mínimo de qualidade e abaixe os custos, já que existem mais opções no mercado”, afirma. “Mas não é razoável diminuir gastos e perder eficiência. A cadeira de rodas é uma ferramenta importantíssima e não podemos brincar com a qualidade dela.”

Pessoas com mobilidade reduzida serão convidadas a experimentar os equipamentos quando ficarem prontos e chegarem à fase de teste, segundo o professor.

Pessoas com deficiência devem participar do desenvolvimento das tecnologias desde a concepção, para garantir que os equipamentos alcancem a eficácia almejada, de acordo com Marta Gil, coordenadora do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas e consultora na área de inclusão de pessoas com deficiência.

Além disso, a demanda varia de acordo com a condição física do usuário. O uso da cadeira de rodas para alguém que é tetraplégico, por exemplo, é diferente do de quem é paraplégico.

“É importante que seja composto um painel com vários tipos de deficiência porque, senão, o projeto corre o risco de servir para alguns e não para outros.”

Marta diz que a tecnologia é uma aliada da inclusão, sobretudo com o surgimento de novos softwares e equipamentos que contribuem para a acessibilidade. O desenvolvimento desses recursos pelas universidades brasileiras pode gerar produtos de menor custo e, consequentemente, maior alcance, por serem da indústria nacional.

Na Unesp de Bauru, será criada uma rede de laboratórios, somando ao todo quatro projetos com investimento da Fapesp, chefiada por Carlos Grandini, professor da instituição.

Uma das pesquisas buscará desenvolver próteses para pessoas que tiveram pernas amputadas acima do joelho. Segundo Grandini, o objetivo é fazer produtos mais leves e fáceis de usar.

As próteses entregues pelo SUS a pessoas com essa condição usam aço, o que as torna mais pesadas. Para os cientistas da Unesp, uma possibilidade seria desenvolver esse equipamento a partir de fibras de bambu.

Além disso, a equipe quer elaborar um tipo de aplicativo que usa inteligência artificial para facilitar a comunicação entre pessoas com diferentes deficiências, desde a auditiva até a visual. O programa deve fazer traduções de Libras para português, por exemplo, e converter textos escritos para braille, a ser impresso e lido por cegos.

Uma iniciativa similar vai ser tocada pela Unicamp, onde pesquisadores planejam um aplicativo para tradução automática de Libras para português, também com uso de IA. No programa, a língua de sinais deve ser demonstrada por avatares, capazes de reproduzir movimentos humanos. A pesquisa é liderada por José Mario de Martino, professor da faculdade de engenharia elétrica e de computação da Unicamp.

Para fazer esses avatares, os cientistas da Unicamp vão filmar intérpretes com uma roupa especial em um estúdio da universidade. O objetivo é reproduzir com maior fidelidade as expressões faciais e corporais do intérprete.

O vídeo no início dessa reportagem demonstra o atual estágio de desenvolvimento do aplicativo. O programa pode ser usado em sites de órgãos públicos, por exemplo, além de facilitar o acesso de pessoas surdas que se utilizam de Libras a materiais escritos e falados em português.

Além do aplicativo, a universidade contará ainda com um centro que vai desenvolver material didático acessível de educação bilíngue para surdos.

LUANY GALDEANO / Folhapress

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