Pessoa mais velha do mundo, freira gaúcha participou de orações durante enchentes no RS

PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A freira gaúcha Inah Canabarro Lucas, 116, foi confirmada como a pessoa mais velha do mundo, após o anúncio da morte da japonesa Tomiko Itooka neste sábado (4). Itooka, que era 16 dias mais velha, morreu no dia 29 de dezembro de 2024.

No dia a dia pacato em um convento da congregação das Irmãs Teresianas, ao lado da boemia do bairro Cidade Baixa, no centro de Porto Alegre, a supercentenária -termo que designa pessoas com mais de 110 anos- se recupera de uma hospitalização na última semana de 2024. “Ela andava com dores, aí fizeram um monte de testes e verificaram que ela não tem doença nenhuma, e que tudo é consequência da longevidade”, diz o sobrinho de Inah, Cléber Canabarro Lucas, 84.

Inah comemorou 116 anos em 8 de junho, em meio à recuperação de Porto Alegre após as enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul, com a presença de familiares próximos e de outras religiosas da congregação. Ela tem dificuldades de fala e visão e só ouve quando falam alto e perto de seu ouvido. Segundo o sobrinho, a freira já não está em condições de receber convidados.

Apesar da saúde prejudicada, ela esteve atenta aos danos causados pela enchente na cidade, incluindo em quadras próximas ao convento. “Minha tia já estava com sua saúde ruim, mas rezava muito. A oração dela é forte”, diz. “Dava um conforto às pessoas saber que a tia Inah, que a irmã Inah, estava rezando por eles”.

Cléber diz que a notícia de que sua tia se tornou a pessoa mais velha do mundo chegou como uma agradável surpresa, condizente com seu bom humor. “Dos 110 anos para cá, quando ela mesma se considerou uma velhinha, a gente perguntava como que ela estava, e ela respondia ‘eu cada vez mais jovem e mais bonita’. Essa frase virou o bordão dela”, diz.

Inah nasceu em 1908 em São Francisco de Assis, na região das Missões, no noroeste gaúcho. É bisneta do general David Canabarro (1796-1867), um dos líderes militares da Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul. Ela se tornou freira em 1929 em Montevidéu. Foi também professora de português e matemática no Rio de Janeiro na década de 30.

Nos anos 40 voltou ao Rio Grande do Sul, fixando-se em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. Retomou a carreira docente e implementou projetos de bandas musicais na cidade brasileira e na vizinha uruguaia Rivera, incluindo viagens interestaduais e para fora do país para apresentações. Abriu mão do cargo de madre diretora e se mudou definitivamente para Porto Alegre em 1980.

Segundo Cléber, a tia passou a receber visitas de ex-alunos desde que se mudou para a capital gaúcha. Eles promoviam recitais de poesias e música anualmente, inclusive depois de ela passar dos 100 anos.

Nessas ocasiões, o sobrinho ouvia de dezenas de ex-alunos a admiração que tinham por Inah. “As alunas dela diziam que ela era amorosa, carinhosa, mas rígida. Não tolerava erros, mas corrigia de uma maneira que todas as alunas ficavam amigas dela.”

Segundo Cléber, Inah sempre demonstrou interesse com novidades tecnológicas. “Ela se atualizava sempre, gostava das inovações. Cada vez que a gente mostrava alguma coisa, ela dizia assim: ‘imagina a cabeça de quem criou’.”

“A gente saía de carro com ela, um carro moderno, e ela ficava vibrando”, lembra Cléber. “Quando a voz do sistema do carro mandou botar o cinto, ela disse: ‘Mas que espetáculo, como é que essa moça sabe que eu estou sem cinto?’.”

Fã de futebol, Inah é torcedora do Internacional. O clube fez uma publicação nas redes sociais homenageando a torcedora ilustre.

Em 2018, foi agraciada com uma bênção apostólica do papa Francisco em celebração dos seus 110 anos. Três anos depois, destacou-se como uma das primeiras pessoas a receber a vacina contra a Covid-19 no Brasil. No entanto, em 2022, enfrentou a doença e precisou ser hospitalizada, mas conseguiu se recuperar.

Inah se tornou a mulher mais velha do Brasil em 23 de janeiro de 2022, após a morte da baiana Antonia da Santa Cruz, aos 116.

Ela foi reconhecida pelo Guinness World Records como a freira mais velha do mundo depois da morte da francesa Lucile Randon, 118, em janeiro de 2023.

Pela primeira vez, o homem e a mulher mais velhos do mundo são brasileiros. O cearense João Marinho Neto, de 112 anos, foi certificado pelo Guinness World Records em novembro de 2024.

CARLOS VILLELA / Folhapress

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