SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pessoas com sobrepeso ou obesidade que foram atendidas por profissionais da atenção primária à saúde (APS) melhoraram sua qualidade de vida, disposição e alimentação adequada.
O modelo de atendimento ajudou a aumentar os novos diagnósticos de sobrepeso e obesidade, o que também refletiu na melhor compreensão dos profissionais de saúde sobre a condição.
A iniciativa foi um projeto conduzido pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz via Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), que educou pacientes sobre obesidade e sobrepeso no estado de Alagoas. O Proadi é financiado com recursos de imunidade tributária concedidos a hospitais filantrópicos reconhecidos pelo Ministério da Saúde.
O projeto foi conduzido entre 2021 e 2023 e mostrou que a APS primeira porta de entrada para os cuidados médicos precisa ser mais eficaz no tratamento e acompanhamento de pessoas com sobrepeso e obesidade.
Segundo Haliton Júnior, diretor de Responsabilidade Social do hospital, o interesse no projeto aconteceu após uma atuação prévia em projeto anterior no estado que indicou baixa resolução da obesidade na atenção primária em algumas situações.
Um artigo publicado em 2020 pela Revista Panamericana de Salud Pública com dados do Sistema de informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) mostrou que apenas uma pequena porcentagem de 2,85% de consultas na APS estava relacionada à obesidade.
“Muitas pessoas acabavam atendidas em níveis de complexidade maiores, ou porque eram notadas nesse atendimento secundário ou porque já tinham complicações advindas da obesidade, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares”, diz. A obesidade é um fator de risco para diversas doenças embora ela seja também uma enfermidade de agravo à saúde.
Dentre as medidas, o projeto mapeou os serviços de saúde no estado, treinou profissionais e orientou pacientes em UBSs (Unidades Básicas de Saúde) dos municípios, de acordo com Carolinne Ferreira Abrahão, coordenadora do projeto em Alagoas.
A ideia é que o projeto sirva como base para melhorar o atendimento na atenção primária a pacientes obesos e com sobrepeso no estado e que sirva como modelo para outras regiões. Procurado no último dia 10 de julho via e-mail, o Ministério da Saúde não deu um retorno sobre se há um planejamento futuro para a realização do projeto em outros locais.
A educadora física Maria Roseane Alves acompanhou a implantação do projeto na cidade de Água Branca, a 292 km da capital Maceió. Um dos resultados notados por ela foi uma frequência de pessoas nas academias de saúde dos municípios.
“Os indicadores qualitativos podem ser mensurados pelos relatos de melhora do sono, controle das taxas metabólicas. Água Branca, por exemplo, é uma cidade que fica em serra e muitos dos trajetos têm ladeiras. Os pacientes que antes chegavam enfadados aos lugares relatam que agora não se cansam tanto para subir”.
A pedagoga Ana Lúcia Lima, 53, moradora de Água Branca foi uma das beneficiadas. Ela passou a praticar atividades físicas regulares após o programa, depois que descobriu sobrepeso e colesterol alto.
Com diabetes controlado, ela diz ter levado em consideração o cálculo do IMC (índice de massa corporal) e também conversas sobre a qualidade da alimentação. “Além disso, também sou uma pessoa muito ansiosa e entendi que a atividade física e o tratamento com a qualidade da alimentação também faz uma diferença na parte emocional”, afirma.
Embora o IMC seja um indicador ultrapassado para classificar uma pessoa como abaixo, dentro do peso, com sobrepeso ou obesidade, Roseane afirma que esse ainda é o método mais acessível, por só exigir uma balança ou fita métrica e por ser mais fácil treinar o agente de saúde.
Cerca de 2.425 profissionais estiveram envolvidos nas atividades de gestão e operacionalização. Segundo Pedro Carlos Noia, coordenador de imunização, que acompanhou a implantação do projeto em Água Branca (AL), muitos dos profissionais passaram a perceber a importância do diagnóstico.
“Se antes tínhamos profissionais que não estávamos capacitados a atender e tratar esses pacientes, com o projeto, eles passaram a implementar o atendimento na atenção básica de saúde.”
O agente comunitário de saúde tem papel fundamental no projeto, principalmente para evitar encaminhamentos desnecessários. “É ele que faz parte da comunidade descrita e por isso, tem muito mais condições de entender quais pessoas podem estar acometidas por sobrepeso e obesidade, de facilitar a chegada da pessoa a UBS e tratar a obesidade como causa sensível à atenção primária e evitar encaminhamentos e custos desnecessários”, afirma Haliton Júnior.
LUANA LISBOA / Folhapress