Petrobras diz que Brasil já descobriu ‘filé-mignon’ do Sudeste e precisa de margem equatorial

HOUSTON, EUA (FOLHAPRESS) – O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Joelson Mendes, diz que é preciso “desmistificar” a relação entre a atividade petrolífera no litoral do Amapá e potenciais impactos ambientais na amazônia.

A estatal iniciará nova ofensiva para reverter negativa de licença para um poço no bloco 59, que completa um ano este mês, e defende que eventual produção de petróleo na área teria impacto mínimo, sem necessidade de infraestrutura em terra.

“Em que um poço a 170 km de Oiapoque, ou uma produção que vem a ser robusta, afeta [a floresta amazônica]?”, questiona. “Você gosta de Búzios, Ipanema, Leblon? Tem muito mais plataforma [de petróleo] lá.”

Em abril, a Petrobras anunciou uma descoberta em águas profundas na bacia Potiguar, que confirma expectativas de que há petróleo na margem equatorial brasileira e reforça o esforço pela liberação da atividade.

Mendes rebate ambientalistas e diz que o Brasil não tem alternativas no pré-sal para repor reservas e evitar voltar a ser importador de combustíveis na próxima década. “Já achamos todo o filé-mignon.”

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PERGUNTA – O que representa a recente descoberta de petróleo no Rio Grande do Norte e que efeitos terá no esforço para exploração da margem equatorial?

JOELSON MENDES – É uma boa notícia ao confirmar que há hidrocarbonetos naquela profundidade naquela bacia, como imaginavam nossos geocientistas. Mas ainda não temos elementos suficientes para dimensionar essa descoberta.

Teve gente, ex-empregada da empresa, que disse que é maravilhoso, mas a gente prefere ficar mais contido. A gente precisa fazer uma campanha exploratória na margem equatorial. Supúnhamos que tinha hidrocarboneto naquela região e agora temos certeza.

P – Há similaridade entre a descoberta e reservatórios gigantes da Guiana e do Suriname. Isso aumenta as chances de descobertas na margem equatorial?

JM – Em águas profundas, a gente só tinha feito um poço lá em 2014, 2015. Então, a gente comprovou aquilo que a gente imaginava. Mas a margem equatorial são várias bacias. É uma região muito extensa. A gente precisa realmente fazer uma pesquisa mais robusta.

O sucesso na Guiana e no Suriname e a comprovação da presença de hidrocarboneto na bacia Potiguar nos leva a crer que, em algum momento, em alguma dessas bacias, a gente vai ter alguma descoberta relevante. Essa é a nossa expectativa.

P – Desde que a licença para o bloco 59 foi negada, a Petrobras diz ter apresentado ajustes que cumprem os requisitos questionados. A partir daí não teve notícia nenhuma mais?

JM – Não teve. Todos os questionamentos envolvem coisas pequenas perto de uma campanha desse tipo. O tempo de resgate do animal, no caso de um grande vazamento, é de 44 horas e o Ibama quer 24 horas? A gente bota a embarcação no meio do caminho. A base de Belém é muito longe? A gente faz uma base lá em Oiapoque.

A gente destinou a esse projeto recursos, embarcações, em volume maior do que temos na bacia de Campos. Para atender a todos os desejos, para demonstrar que a gente vai fazer tudo o que tiver que ser feito.

A rota do helicóptero está próxima lá da terra indígena? Isso tudo se resolve. Se forem coisas factíveis dentro do processo legal, não tem dificuldade técnica. A gente pode botar a melhor sonda do mundo, a gente pode botar as melhores embarcações, os melhores helicópteros, as melhores pessoas que nós já temos.

Agora, se não quiser que haja exploração de petróleo na margem equatorial brasileira, aí não cabe ao Ibama. Não cabe ao ministro A ou B, cabe ao Conselho Nacional de Política Energética. E o fato é que, para fazer o leilão dessa área, em 2013, foi necessário um ok do ministro do Meio Ambiente.

P – Não há outras oportunidades para descobrir petróleo no Brasil além da margem equatorial?

JM – Não. Eu até vi uma reportagem da Folha [publicada em 20 de abril], com um viés de dizer: “Temos muitas reservas, a reserva está crescendo, não precisamos mais de petróleo”. Isso não foi dito, mas eu li dessa forma. É um grande equívoco.

Eu não quero ser indelicado contigo, mas aquele tipo de reportagem acaba sendo um desserviço, porque induz a dizer que os ambientalistas estão certos, que o Brasil não precisa explorar mais petróleo. E isso não é verdade.

O crescimento da produção vai até 2030, 2032. Depois a produção começa a decair. Se a gente não agregar novas reservas, a partir de 2035, a gente estará produzindo menos que hoje. Teremos novas plataformas nos próximos anos, mas, só para manter a produção, temos que botar 300 mil barris por dia de óleo novo.

P – Mas há ao menos 28 áreas exploratórias na bacia de Santos, a maior do país, ainda sem perfuração. Não é possível encontrar petróleo novo lá?

JM – Não. A gente tem muita área exploratória e vamos investir US$ 2,5 bilhões nas bacias de Campos e Santos. Então nós continuaremos fazendo poços lá. Mas a gente já achou o “filé-mignon”.

A gente não vai mais descobrir nas bacias de Santos e de Campos nenhum campo gigante como Marlim, Roncador, Tupi…

P – Por que apostar inicialmente em uma área ainda sem nenhuma estrutura para a indústria de petróleo, com litoral preservado?

JM – A gente herdou aquele processo de licenciamento da [empresa] BP extremamente adiantado. Então, contratamos uma sonda para fazer esses três poços: o bloco 59 e os dois poços da Potiguar. Era essa sequência. Estava adiantado o processo de licenciamento. Simples assim.

Mas não é uma atividade que necessita de muita estrutura. Quando a gente começou na bacia de Campos, a gente começou em águas rasas. E tudo vinha para a terra através de dutos e através de gasodutos. Hoje não.

Hoje o óleo sai de um FPSO [navio-plataforma] e vai para o mundo. O gás pode ser reinjetado nos poços. Se for muito gás e o Ibama não quiser autorizar gasoduto, pode sair por GNL [gás natural liquefeito].

P – Mas tem estrutura de apoio, que demanda porto, aeroporto, retroárea…

JM – Estrutura de apoio são embarcações, hoje em dia extremamente modernas, e helicópteros. Hoje, em Belém, você tem tudo isso. Dá para fazer de Belém.

Para deslocar pessoas quando a sonda esteve lá, a gente fez de Oiapoque. Mas isso vai antropizar o mínimo. O que mais pesou em lugares como Macaé foi ter o escoamento de petróleo, o escoamento de gás… Tudo concentrado ali.

A gente consegue fazer tudo aquilo que a gente está pretendendo com o mínimo de impacto. E, quando você olha o consumo energético por pessoa no Brasil, ele é quatro vezes menor do que nos Estados Unidos. E no Norte, no Nordeste, ele é menor do que a média brasileira.

Você tem ali, literalmente, uma pobreza energética. Está sendo tirada daquela região do país a hipótese de verificar se dá para ser menos pobre energeticamente, se dá para ter um desenvolvimento bom naquela região.

P – Em 2023, a Petrobras arrematou algumas áreas na bacia de Pelotas, no sul do país. Qual o potencial?

JM – A gente ficou animado. E o leilão foi um sucesso. A Petrobras teve que ganhar de outro concorrente ali. Porque está todo mundo olhando para o sucesso do oeste da África e pode haver similaridades geológicas com o oeste da África. Mas aí também teremos uma questão de licenciamento, também é uma nova fronteira.

P – Mas é uma área menos sensível do que o Amapá, não?

Qual é a questão da amazônia? É floresta. Em que um poço a 170 quilômetros de Oiapoque, ou uma produção que vem a ser robusta, afeta? Demos um grande azar de um dia terem colocado naquela bacia o nome da Foz do Amazonas. A marca registrada da Amazônia, isso é forte pra caramba, imagina colocar oito, dez plataformas lá.

Mas o bloco 59 nada tem a ver com a Amazônia, só está na bacia sedimentar chamada Foz do Amazonas. Você gosta de Búzios, Ipanema, Leblon? Tem muito mais plataforma que isso lá. Entendeu? São crendices que a gente está tentando desmistificar.

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RAIO-X

Joelson Falcão Mendes

É diretor de Exploração e Produção da Petrobras, com mais de 30 anos de atuação na empresa. Já foi responsável pelas operações da estatal em Amazonas, Rio Grande do Norte, Ceará e bacia de Campos. Também ocupou posições executivas na bacia de Santos e Campos. É engenheiro formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O repórter viajou a convite da Petrobras

NICOLA PAMPLONA / Folhapress

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