RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Enquanto aguarda licença para a exploração da costa do Amapá, a Petrobras começa a planejar um novo polo de produção de petróleo no litoral do Rio Grande do Norte, que também faz parte da margem equatorial, principal aposta da empresa neste momento.
As descobertas foram anunciadas em janeiro e abril, em poços chamados Pitu Oeste e Anhangá. Foram as primeiras em águas profundas na região. Embora ainda estejam sob avaliação, a empresa já trabalha com a possibilidade de produzir petróleo na área.
“Vamos perfurar novos poços, mas já estamos, de cara, vislumbrando essa produção”, disse à imprensa nesta quinta-feira (24) a diretora de a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos.
Ela afirmou, porém, que o principal desafio é encontrar plataformas a um custo que justifique a operação comercial das jazidas. “Os poços não são [do nível do] pré-sal. Por isso, procuramos unidades que viabilizem [a produção].”
A Petrobras tem repetido que o elevado custo das plataformas de produção é um gargalo para a viabilidade de reservas de menor porte, que não chegam à casa dos bilhões de barris de petróleo, como ocorre nos campos gigantes da bacia de Santos.
Uma alternativa em estudo pela empresa é a modernização de unidades já no fim da vida útil, que serão retiradas de campos antigos da bacia de Campos. A diretora da Petrobras disse que empresa vem também tentando sensibilizar fornecedores em busca de preços mais competitivos.
Se confirmada a viabilidade das descobertas, serão as primeiras a entrar em produção nas águas profundas da margem equatorial. Diferentemente do Amapá, o Rio Grande do Norte é um estado já com infraestrutura petroleira, o que facilitou a liberação das licenças para exploração.
Anjos não quis antecipar, porém, qual seria a expectativa de produção nos poços. Disse que todo o processo depende da busca por plataformas que viabilizem as operações.
Embora represente a abertura de um novo polo de produção de petróleo no país, o Rio Grande do Norte não é visto pelo setor com o mesmo interesse que as empresas têm na costa do Amapá, mais próxima das descobertas gigantes feitas nos últimos anos na Guiana e no Suriname.
Lá está o bloco 59 da bacia da Foz do Amazonas, principal alvo da estatal neste momento. Em 2023, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) negou licença para perfuração no bloco, dando início a um embate entre as áreas ambiental e energética do governo.
A Petrobras recorreu e entende hoje que já cumpriu todas as exigências do órgão ambiental e vem demonstrando publicamente otimismo com a liberação. Mas já não conta com o início da atividade em 2024, mesmo que a licença seja emitida em outubro.
Segundo a diretora da Petrobras, são necessários ao menos dois meses para limpeza do casco da sonda contratada para perfurar o poço, que está hoje em operação na região Sudeste. O processo é necessário para remover organismos que poderiam afetar o ecossistema local.
Vista pela Petrobras como principal alternativa para repor suas reservas de petróleo, a exploração da margem equatorial enfrenta resistências de organizações ambientalistas contrárias à abertura de novas frentes de produção de petróleo em meio à emergência climática.
Anjo voltou a defender que a produção do pré-sal começará a declinar no início da próxima década e o país precisará de novas reservas para não voltar a importar petróleo. “Sem licença, não tem poço e não tem descoberta”, disse.
Ela argumentou ainda que a área do bloco 59 está distante da costa e é hoje uma movimentada rota de navios, com o tráfego de mais de mil embarcações por ano. “Não estamos querendo perfurar em um santuário ecológico”, argumentou.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress