RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Petrobras prepara um plano de renovação de sua frota de barcos de apoio a plataformas de petróleo, com encomendas para afretar até 36 embarcações que devem gerar negócios para a indústria naval brasileira.
O objetivo é substituir unidades que estão atingindo o fim de sua vida útil nos próximos anos, disse à reportagem o diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação da estatal, Carlos Travassos.
São navios menores, usados para levar insumos às plataformas ou para serviços especializados, como o lançamento de dutos no fundo do mar. Em estudo preliminar, a empresa identificou a necessidade de substituir 28 embarcações até 2029 e outras 8 depois disso.
Travassos estima que os contratos podem gerar até 35 mil empregos diretos e indiretos nos estaleiros nacionais. Os projetos devem considerar tecnologias que reduzam as emissões de gases poluentes, acrescentou.
As licitações não indicam onde os prestadores de serviço devem construir os navios, mas a lei brasileira dá preferência a embarcações de bandeira nacional: elas têm prioridade sobre estrangeiras na fila de contratos da Petrobras.
Por isso, a frota atual é majoritariamente nacional. Segundo a Abeam (Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo), das 408 embarcações do segmento em operação no país em maio, 363 tinham bandeira brasileira.
A frota de apoio marítimo chegou a ter 500 embarcações em 2014, quando começou a crise do setor de petróleo provocada pela queda das cotações internacionais e pela Operação Lava Jato, que incluiu investigações sobre contratos na indústria naval.
Entre 2017 e 2018, a Abeam calcula que o número de barcos de bandeira brasileira sem contrato chegou a 80. A partir daí, as contratações passaram a crescer, acompanhando o desenvolvimento de projetos no pré-sal.
As encomendas recentes da estatal contemplaram navios que estavam disponíveis no mercado. Agora, a avaliação é que novas embarcações terão que ser construídas para a renovação da frota.
A Petrobras planeja também um plano de contratação de navios de maior porte, por meio da sua subsidiária Transpetro, mas os estudos ainda não foram concluídos.
A demanda da estatal junto a estaleiros nacionais nos próximos anos inclui ainda a construção de módulos para plataformas de petróleo e o desmantelamento de plataformas que atingiram o fim da vida útil.
Neste último caso, o primeiro contrato foi assinado este mês com a Gerdau, que reutilizará todo o aço da plataforma P-32 após desmonte no Estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Outras 26 unidades terão de ser desmanteladas até 2027. Entre 2028 e 2030, há mais 27.
A retomada de investimentos na indústria naval brasileira é promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em seus primeiros mandatos, o governo criou uma série de incentivos à construção local, fomentando a abertura de novos grandes estaleiros no país.
Entre eles, estava o Prorefam (Programa de Renovação da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo), que encomendou mais de 120 embarcações sob o comando do primeiro delator da operação, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
O processo de encomendas foi interrompido após o início da Lava Jato, que identificou pagamentos de propina e superfaturamento em obras de construção naval, levando à prisão executivos e políticos. Então presidente da Transpetro, o ex-senador Sergio Machado fez acordo de delação premiada.
O setor de apoio marítimo, porém, sofreu mais com a queda do preço do petróleo e a consequente redução de encomendas do que com denúncias de corrupção, que envolveram principalmente estaleiros de grande porte.
Nesse caso, a Petrobras contrata a prestação do serviço, que é feita por empresas privadas, e não a construção dos navios. Ganham as licitações aqueles que oferecem as menores tarifas diárias.
Com a falta de encomendas nos últimos anos, muitos desses estaleiros deixaram de operar ou migraram para outros segmentos, como pequenos reparos navais, ou atividades portuárias, principalmente ligadas à indústria do petróleo.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress