BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal concluiu que a viagem ao exterior do ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), e falhas na inteligência, incluindo a atuação do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do governo Lula (PT), foram os principais motivos para que golpistas conseguissem destruir as sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023.
As conclusões estão em relatório apresentado ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (29), com informações do inquérito que investiga a responsabilidade de autoridades pela segurança na Esplanada dos Ministérios.
“Conclui-se que as falhas da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) no enfrentamento das manifestações de 08/01/2023 são evidentes, especialmente pela ausência inesperada de seu principal líder, Anderson Gustavo Torres, em um momento de extrema relevância”, diz a Polícia Federal.
Segundo a PF, a Secretária de Segurança Pública também errou ao não dar a devida publicidade interna a um relatório de inteligência produzido em 6 de janeiro. O documento, revelado pela Folha, dizia que os manifestantes tinham a “intenção de prática de atos violentos”, com possível invasão aos prédios públicos.
“[A ausência de Torres e o erro de inteligência] Foram fatores decisivos que contribuíram diretamente para a ineficiência da resposta das forças de segurança”, diz a PF.
Torres viajou aos Estados Unidos com a família na antevéspera dos ataques golpistas na Esplanada dos Ministérios. Ele foi preso na semana seguinte após retornar ao Brasil.
Em nota, a defesa de Torres refutou a declaração da PF de que houve “ausência inesperada” do ex-secretário. Ele estava com as férias planejadas desde o fim do governo Bolsonaro, com “passagens [compradas] para toda família no mês de novembro de 2022”.
“O então secretário de segurança do DF, no entanto, teve o cuidado de preparar um PAI (Protocolo de Ações Integradas), antes das férias, diante das informações sobre possíveis manifestações. Se o PAI tivesse sido cumprido, teria evitado os reprováveis atos do fatídico 08/01”, diz a nota assinada pelo advogado Eumar Novacki.
A PF mirou quatro frentes no relatório sobre o 8 de janeiro. Os focos foram no GSI, na Polícia Militar do DF, nas Forças Armadas e na Secretaria de Segurança Pública do DF.
Sobre o GSI, a PF diz que o desempenho dos agentes responsáveis e a gestão de informações de inteligência revelaram “graves omissões”.
O relatório da PF conclui que o então ministro do GSI da gestão Lula (PT), general Gonçalves Dias, recebeu alertas de inteligência de 2 a 8 de janeiro que apontavam para manifestantes com “discursos radicais e com clara intenção de invadir prédios públicos”.
Os alertas enviados a G.Dias foram revelados pela Folha. Ele os recebeu pelo WhatsApp e interagiu sobre o conteúdo com o então diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Saulo Cunha.
O ex-ministro, porém, mandou retirar seu nome da lista de destinatários dos informes de inteligência enviados ao Congresso Nacional.
Segundo a PF, G.Dias “falhou em repassá-los [os alertas] de maneira eficiente para os níveis operacionais do GSI”.
A PF conclui que a falta de coordenação no fluxo de informações de inteligência foi “fator crucial” para o ataque aos Poderes. “As informações da Abin, que eram vitais para a prevenção da invasão, não chegaram ao conhecimento de todos os responsáveis”, diz.
O parecer afirma que o GSI subestimou as ameaças golpistas e definiu o nível de ameaça no grau laranja, que indica criticidade intermediária. A estratégia se mostrou “inadequada frente à escalada do evento”, segundo a PF.
No capítulo sobre a Polícia Militar do DF, a Polícia Federal destacou que a PGR (Procuradoria-Geral da República) já apresentou denúncia contra sete policiais da corporação.
São réus o então comandante-geral da PM-DF Fábio Augusto Vieira, o ex-subcomandante-geral Klepter Rosa, três coronéis, um major e um tenente.
Segundo a PF, os policiais tinham capacidade e meios para impedir os ataques às sedes dos Poderes, mas “escolheram não cumprir suas obrigações legais, agindo de forma omissiva, o que contribuiu diretamente para o sucesso das ações criminosas”.
No trecho sobre as Forças Armadas, a Polícia Federal não nomeia possíveis responsáveis pelos acampamentos golpistas que se formaram em frente aos quarteis generais após a derrota de Bolsonaro.
A PF diz que há outra investigação no Supremo que envolve a cúpula das Forças Armadas, que analisa com mais profundidade os oficiais envolvidos no 8 de janeiro, e sugere que os processos sejam analisados em conjunto para “uma resolução eficaz e apurada de todos os fatos analisados”.
CÉZAR FEITOZA / Folhapress