BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal intimou o atual diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Luiz Fernando Corrêa, para depor na próxima quinta-feira (17) sobre supostas espionagens irregulares feitas pelo órgão. Ex-número 2 da Abin, Alessandro Moretti também foi intimado para falar no mesmo dia.
Desde o ano passado, a polícia mantém a direção-geral da Abin sob suspeita por suposta obstrução de Justiça diante das investigações que miram o governo Jair Bolsonaro (PL) no caso que ficou conhecido como “Abin paralela”.
Em depoimento dado à PF em dezembro, ao qual a reportagem teve acesso, um servidor da Abin afirmou que a direção-geral da agência pediu para que ele mapeasse os computadores em que o programa espião FirstMile havia sido usado no governo Bolsonaro.
O oficial de inteligência disse que foram identificados cerca de 15 computadores, mas que “a direção-geral da Abin determinou que somente fossem encaminhados 5 (cinco) computadores” à Polícia Federal. Questionado, ele disse não ter entendido “por que não foram enviadas todas as estações”.
A PF também quer saber se houve a exclusão de provas diante da decisão da direção-geral da Abin de determinar, em abril do ano passado, a formatação de computadores funcionais.
Moretti e Corrêa sempre negaram participação em atos irregulares e disseram colaborar com as investigações. Em nota divulgada na tarde desta terça (15), a Abin disse que Corrêa está à disposição das autoridades. A mensagem também foi divulgada aos servidores por meio da intranet da agência.
“O diretor-geral da Abin está à disposição das autoridades competentes para prestar quaisquer esclarecimentos, seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas em gestão anterior da agência.”
Em janeiro do ano passado, a PF afirmou que “a direção atual da Abin realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação” sobre o governo Bolsonaro. Em meio à repercussão do caso, Moretti foi exonerado do cargo pelo presidente Lula (PT).
A desconfiança que recaía sobre “as novas gestões” da Abin fez com que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), negasse o compartilhamento da investigação da corporação com a corregedoria da agência para a abertura de sindicâncias internas.
Na ocasião, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou em parecer enviado ao STF que compartilhar as informações “não parece recomendável neste momento processual” diante da “aparente resistência identificada no interior” da Abin.
O parecer da PGR e a decisão de Moraes sobre o compartilhamento das provas levantaram a desconfiança entre servidores da Abin de que a cúpula da agência pudesse estar entre os alvos dos investigadores por suposta obstrução de Justiça.
A suspeita foi reforçada por um dos trechos do relatório em que a PF ressaltava que Corrêa ainda não era diretor-geral da Abin quando participou da reunião em que Moretti, então diretor-adjunto, afirmou que a investigação em curso tinha “fundo político”.
Em outra frente, a PF também instaurou inquérito para apurar o vazamento de informações da investigação da “Abin paralela”. A medida foi tomada após a publicação de uma reportagem do UOL afirmar que a polícia investiga uma ação de espionagem da agência contra o governo do Paraguai.
O governo Lula afirmou que a gestão de Bolsonaro autorizou tal ação e que ela foi tornada sem efeito pelo diretor interino da agência em 27 de março de 2023, “tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”.
A reportagem afirmou que depoimentos prestados na investigação mostraram que a ação da Abin teria invadido computadores para obter informações sigilosas relacionadas à negociação de tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu, que é objeto de disputa comercial entre os dois países há muitos anos.
CONSTANÇA REZENDE, RANIER BRAGON E THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress