SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal prendeu dois suspeitos do assassinato de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, líder quilombola assassinado em setembro de 2017.
Ele era filho da ialorixá Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, morta em agosto de 2023. Mãe e filho eram líderes da Comunidade Quilombola de Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, cidade da Região Metropolitana de Salvador.
A prisão foi determinada pela Justiça no âmbito da Operação Palmares, iniciada nesta quarta-feira (17), que investiga autoria do assassinato do líder quilombola. A polícia cumpriu dois mandados de prisão de temporária por suspeita de homicídio qualificado e oito de busca e apreensão.
Um dos suspeitos foi preso em Salvador e o outro na em Conceição do Jacuípe (94 km de Salvador). Os dois são tio e sobrinho e a suspeita é que ambos tenham participação direta no crime.
A Polícia Federal apurou que os suspeitos utilizaram durante o crime um veículo adquirido em nome de outra pessoa e financiado com documentos falsificados. O número de celular utilizado por um dos investigados também foi cadastrado em nome desta mesma pessoa, que não possui relação com o crime.
Conforme as investigações da PF, estas circunstâncias atrapalharam o rumo inicial investigações. O verdadeiro usuário do telefone foi identificado e a sua prisão foi determinada pela Justiça.
A linha de investigação e a possível motivação do crime não foi informada pela Polícia Federal, que justifica o sigilo para não atrapalhar a apuração.
Os dois suspeitos presos temporariamente possuem ficha policial, sendo que um deles é suspeito de um homicídio na cidade de Conceição do Jacuípe em 2019. Os nomes deles não foram divulgados.
Binho do Quilombo tinha 37 anos quando foi assassinado distrito de Pitanga de Palmares. Ele estava dentro de um carro e foi morto com tiros nas proximidades da Escola Municipal Nova Esperança por homens que chegaram em outro veículo.
Inicialmente, o caso foi investigado tanto pela Polícia Civil, quando pela Polícia Federal. Mas a Polícia Civil declinou da competência sobre o caso após a suspeita de que conflito pelas terras quilombolas teria sido o fator que motivou o crime.
O delegado Vitor Mascarenhas, responsável pela investigação, disse que a disputa de terras não é necessariamente a linha de investigação atual sobre o crime.
Ele afirmou que a deflagração da fase ostensiva da investigação revela que existem nos autos elementos de prova robustos. Mas destacou que ainda existem lacunas na investigação, que ainda não tem previsão de conclusão.
A Polícia Federal também não informou se há ligação entre os assassinatos de Binho do Quilombo e sua, mãe, Bernadete Pacífico.
Mãe Bernadete foi assassinada com 25 tiros dentro da mesma comunidade quilombola em agosto de 2023, em um crime que chocou o país e impulsionou uma série de protestos.
Em novembro, Ministério Público do Estado da Bahia ofereceu denúncia contra cinco pessoas suspeitas de participação no crime quatro deles eram membros de uma facção criminosa.
A Polícia Civil informou que o crime teria sido insuflado por Sérgio Ferreira de Jesus, morador que explorava ilegalmente madeira dentro da comunidade quilombola Pitanga dos Palmares. Dias antes do crime, ele havia sido repreendido por Mãe Bernadete.
A líder quilombola também lutava contra a instalação de um bar chamado Pitanga Point, que estava sendo erguido por traficantes para realização de festas. A barraca estava sendo erguida nas margens de uma represa em uma área de preservação permanente.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress