Piloto de Lula declarou urgência logo após decolagem

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dos pilotos do avião que transportava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou situação de urgência à torre de controle do aeroporto da Cidade do México logo após a decolagem da aeronave. O diálogo foi registrado perto das 17h20 de terça-feira (1º), no horário de Brasília.

Na gravação, o piloto chama a torre de controle e identifica a aeronave pelo código BRS01 (Bravo Romeo Sierra 01, na linguagem da aviação). Em seguida, pede para fazer uma curva à direita e declara: “Pan-pan, pan-pan, pan-pan”.

A expressão “pan-pan” faz parte do vocabulário padronizado pela OACI (Organização da Aviação Civil Internacional) para a comunicação durante voos. Ela denota condições de urgência, numa adaptação do francês “panne” (pane). É usado em situações menos sérias do que o “mayday”, para perigo.

Quando o termo é usado, o avião é tratado com prioridade pela torre. A expressão pode ser empregada para o caso de um passageiro que precisa de atendimento médico ou quando há falha num equipamento não vital.

O comandante Afonso, veterano da FAB (Força Aérea Brasileira) e investigador de acidentes, explica a diferença entre os dois códigos, com o exemplo de um problema numa porta. Se ela explode ou é arrancada, é um caso de socorro, de pedido de ajuda. Se ela está mal travada ou entreaberta e o piloto precisa retornar, seria um caso de urgência, em que se usaria o código “pan-pan”.

No caso do avião de Lula, a hipótese é de que houve um problema técnico em um dos motores depois do choque com um pássaro. A FAB informou que solucionou a questão e que não houve perigo para o voo.

O avião, no entanto, precisou passar cerca de cinco horas sobrevoando a capital mexicana para queimar combustível e chegar ao solo em segurança.

Na gravação, o piloto do avião presidencial pede para virar à direita imediatamente, primeira providência tomada pelo comandante após a detecção do problema.

A torre concorda e pergunta se o piloto gostaria de pousar novamente no aeroporto Felipe Ángeles. “Não é possível pousar agora”, responde a tripulação brasileira, sempre em inglês. Ele pede orientações para o trajeto que seria feito para queima de combustível, mantendo a altitude de 13 mil pés.

Antes do pouso, o piloto volta a entrar em contato com a torre de controle e pede a presença de bombeiros na pista para o atendimento de uma eventual emergência durante a aterrissagem. A torre de controle informa que equipes estariam a postos.

Ao analisar as mensagens, um ex-chefe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) afirma que o uso do código “pan-pan, pan-pan, pan-pan” ocorreu porque os comandantes consideravam que poderiam sanar a dificuldade.

Então, acrescenta, o piloto pede para fazer a curva à direita, possivelmente para manter uma órbita e sanar o problema. E na sequência solicita permissão para consumir o combustível, por não ter conseguido alijá-lo.

O comandante Afonso acrescenta que outro código usado pelo piloto indica a base do circuito de tráfego dele, sinalizando que ele queria se manter em órbita. Ele acrescenta que será preciso averiguar por que não foi possível alijar o combustível, como por exemplo, ao se dirigir para uma área de costa e despejá-lo. Essa ação traria menos risco.

“Como que um avião presidencial não tem um sistema de alijamento de combustível, se for o caso? É um avião presidencial. Como que se obriga a ficar voando cinco horas com um presidente da República e toda uma comitiva, para consumir combustível?”, questiona.

O avião pousou sem problemas às 22h16, no horário de Brasília. O presidente Lula e sua comitiva embarcaram numa aeronave reserva e chegaram na manhã desta quarta-feira (2) a Brasília.

“O avião trazendo o presidente Lula e a comitiva que o acompanhava de volta do México pousou na Base Aérea de Brasília às 10h12. O voo foi tranquilo, sem nenhuma intercorrência”, informou a Presidência da República, em nota.

O procedimento para queimar combustível é comum em situações dessa natureza. Aviões costumam decolar mais pesados, com os tanques praticamente cheios. Um pouso com esse peso apresenta riscos, inclusive de explosão.

Foram cinco horas e cerca de 50 voltas sobre o aeroporto da capital mexicana.

O presidente estava na cidade em viagem oficial de dois dias, principalmente para participar na terça-feira (1º) da posse da nova presidente do país, Claudia Sheinbaum. A cerimônia ocorreu horas antes na sede do Poder Legislativo.

O presidente havia chegado ao país no dia anterior, onde teve um encontro com seu homólogo que deixava o cargo, Andrés Manuel López Obrador, e participou de um fórum com empresários dos dois países.

Estavam no avião presidencial também a primeira-dama Janja, os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Cida Gonçalves (Mulheres), além do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, e assessores.

BRUNO BOGHOSSIAN E RENATO MACHADO / Folhapress

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