SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Durante pouco mais de meia hora, os pilotos de um avião da Azul que seguia para Belém relataram terem visto duas luzes brancas, que ora paravam ora se movimentavam extremamente rápidas em zigue-zague. Elas acompanharam o voo, praticamente da decolagem em Ourilândia do Norte (PA) ao pouso na capital paraense, ao amanhecer do dia 13 de janeiro do ano passado.
“Uma luz aparecia e sumia periodicamente com movimentos para cima, baixo, lado”, afirmaram.
As luzes brancas avistadas da cabine da aeronave da Azul foram dois dos cerca de 80 óvnis (objetos voadores não identificados) reportados à Aeronáutica em 2023.
O número, que não é exato pois há casos em que um piloto afirma ter visto de um a cinco objetos estranhos no ar, faz parte de 30 documentos disponibilizados recentemente pela FAB (Força Aérea Brasileira) ao Arquivo Nacional, que podem ser visualizados pela internet. A existência do material foi noticiada pelo jornal O Globo.
A quantidade de relatos é menor que os 44 registros de 2022, mas bem superior aos nove de 2021.
Os avistamentos são reportados ao Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) em formulários preenchidos por esses aviadores.
Deses casos, ao menos nove deles foram na região Sul do país, onde houve a maior quantidade de relatos, sendo que seis eram de Porto Alegre ou do entrono da capital gaúcha.
Em um outro documento, que não especifica a companhia aérea nem o voo, o relator que comunicou a ocorrência, cujos dados pessoais são borrados no arquivo disponível, diz que o fenômeno foi testemunhado por seis pessoas.
Conforme descreveu à mão, de quatro a cinco objetos estavam 20° acima do horizonte da aeronave “por vezes formando um círculo, aproximando e distanciando um do outro”.
As luzes, muito rápidas, que variavam a intensidade, começaram a ser vistas em Ilha Comprida, no litoral sul paulista, em direção ao mar até Navegantes, em Santa Catarina.
“O espanto foi em decorrência das luzes/movimentação dos objetos não corresponderem a um satélite, lixo espacial ou qualquer outro fenômeno conhecido”, escreve o autor da comunicação de 21 de janeiro de 2023.
Nos relatos do ano passado, testemunhas dos avistamentos disseram ter filmado ou fotografado os óvnis. Entretanto, esses arquivos não constam no material disponibilizado -mas na série histórica, desde 1952, há fotografias que mostram objetos, incluse semelhantes a discos voadores.
Nos documentos de 2023, há o caso de um piloto que sobrevoava Belém no início da madrugada, quando afirmou ter notado dois objetos luminosos amarelados e os filmou. Porém, disse que eles não apareceram nas gravações –o mesmo foi relatado em outro voo, sobre a região de Palmas.
Em setembro, ao menos dez objetos em formas de pontos coloridos foram fotografados com celular em Beberibe, no Ceará, mas as fotografias não tinham qualidade para registro, diz o autor.
Os óvnis relatados no ano passado são nas mais variadas formas, cores e luminosidade. Na região de Fortaleza, a descrição foi de “uma caneta grande amarela”.
Num voo que seguida do Panamá para Guarulhos, na Grande São Paulo, o ponto avistado era branco, vermelho e verde.
Sobre Rio das Ostras (RJ), um rápido objeto de dois a três metros de tamanho, em forma de charuto, “voava em saltos”. Também há testemunhos de estrelas verdes e brancas.
No caminho entre Navegantes e o litoral norte gaúcho, os quatro óvnis mudavam as cores vermelha e verde quando circulavam “dez vezes mais rápido que um avião comercial”, de acordo com a descrição do piloto, de 63 anos, que afirmou ter 51 anos de avião.
“O piloto relatou que esta ocorrência assemelha-se a outros episódios ocorridos em outubro de 2022, no mesmo setor e já reportados”, descreve a a ficha do Comando de Operações Aeroespaciais, do Comando da Aeronáutica.
Mesmo quando não conseguiu descrever a forma, um dos pilotos que fez o registro do caso disse que os cinco ou seis objetos eram muito rápido, com três ou quatro vezes a velocidade do som.
Os relatos sempre citam céu limpo e voa visibilidade.
O comandante de um voo que ia de Maceió para Guarulhos solicitou uma frequência isolada para dizer que das 23h40 às 23h55 uma luz se movia de um lado para o outro, alternando entre vermelho e branco.
A FAB explica que todos os documentos, vídeos, fotografias, relatos, entre outros, disponíveis, no âmbito do Comando da Aeronáutica, sobre fenômenos aéreos não identificados, no período de 1952 a 2023, já foram transferidos para o Arquivo Nacional, onde são de domínio público.
“O Comando da Aeronáutica não realiza estudos e análises acerca do tema, apenas cataloga as informações prestadas por terceiros e as remete, periodicamente, ao Arquivo Nacional”, diz a Aeronáutica.
Estudioso sobre o tema desde a infância, o advogado pernambucano Thiago Bezerra de Melo, 44, costuma analisar esses documentos e acredita que precisariam ser mais bem investigados, inclusive para saber se são “objetos extraterrestres ou terrestres”.
“Pode ser alguma aeronave sobrevoando ilegalmente o espaço aéreo do país”, afirma. “É uma questão de segurança nacional.”
COMO ACESSAR OS DOCUMENTOS
– Entre na página do Sian (Sistema de Informação do Arquivo Nacional)
– É preciso cadastrar senha ou usar o cadastro gov.br No campo “Fundo” digite BR DFANBSB ARX
– Clique em pesquisar
– É possível escolher o período com os arquivos, que podem ser baixados desde 1952
FÁBIO PESCARINI / Folhapress