RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um pinguim parou a praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, na manhã da última quinta-feira (29). O animal saiu da água, caminhou pela areia, foi fotografado por banhistas e ganhou até apelido. Mas a jornada de Zé, o pinguim, acabou horas depois, quando morreu após abocanhar um peixe.
Zé era da espécie pinguim-de-magalhães, comum nas zonas costeiras da Argentina. Especialistas afirmam que, assim como ele, outros devem surgir no litoral brasileiro durante o inverno, especialmente nas praias das regiões sul e sudeste. Os animais seguem as correntes marítimas frias, e junho e julho são os meses em que mais aparecem.
“Essa espécie de pinguins ocorre na Patagônia argentina. Eles nascem entre novembro e janeiro, e em abril saem da colônia, junto das correntes frias, para as áreas de alimentação”, afirma Carla Beatriz Barbosa, bióloga e diretora executiva do Instituto Argonautas, que monitora a movimentação das espécies no litoral de São Paulo.
Em 2023, o instituto realizou 10 registros de pinguins na sua área de atuação: dois foram atendidos, sete foram encontrados já mortos e um outro morreu logo após o resgate.
“No litoral sul do Rio de Janeiro e litoral norte de São Paulo, especialmente, há uma variação grande entre os períodos. Temos uma média de 100 pinguins por ano, mas não há padrão. Em 2020, no litoral de São Paulo, foram 500 pinguins em 20 dias. A presença deles depende de muitos fatores, como a quantidade de pinguins na colônia, se as correntes estão frias, ou não”, diz.
O pinguim que apareceu na praia do Arpoador, dizem especialistas, era um filhote: a coloração acinzentada identifica que ele ainda não realizou troca. Os adultos, após a primeira muda, ficam com o dorso preto e o ventre branco.
Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano, acompanhou a jornada do pinguim na praia do Arpoador. O biólogo marinho diz que o animal estava ambientado e aparentava estar ali há mais de um dia.
“O pinguim estava completamente adaptado ao Arpoador. Vinham grupos de nadadores que nadam cedo, pela manhã, e se aproximavam dele. Ele circulava entre eles, tirava selfie, deitava no colo”, diz.
Gomes diz que o pinguim Zé morreu após se alimentar de um peixe que libera toxinas, provavelmente um baiacu. O primeiro peixe foi abocanhado sem maiores problemas. Mas o segundo tinha o corpo inflado, e o pinguim-de-magalhães tentou furá-lo com o bico.
“Eu filmava com o celular quando ele mergulhou e subiu com um baiacu. Ele espetou até furar, para desinflá-lo, e engoliu o baiacu”, diz Gomes.
“Fui para casa e quando voltei, ele estava estirado na pedra do Arpoador. O pessoal ainda tentou reanimá-lo para ver se o baiacu saía, mas não saiu”.
Carla, do Instituto Argonautas, alerta que a interação de pessoas com animais selvagens deve ser limitada. Apesar de ser curioso, o pinguim pode machucar e trazer zoonoses (doenças infecciosas transmitidas do animal para o ser humano). No caso do pinguim do Arpoador, a movimentação dele até a costa era para se alimentar. “Com fome, eles acabam comendo o que veem pela frente. Já tivemos um pinguim que comeu um bagre e se machucou com a espinha”.
O pinguim não foi a única espécie marinha a despertar curiosidade de banhistas nos últimos meses. Em junho, um lobo-marinho apareceu na praia da Marambaia, na zona oeste do Rio. No mesmo mês, baleias foram vistas nadando na praia da Barra da Tijuca, na mesma região.
As correntes frias das Malvinas, típicas deste período do ano, são as responsáveis pela migração dessas espécies, dizem os biólogos.
“O aumento da biodiversidade é sempre algo positivo. O que nos chama atenção é quando eles chegam doentes. Se eles estão saudáveis, nadando no mar, é ótima notícia. Eles são sempre bem-vindos”, diz Carla.
YURI EIRAS / Folhapress