SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em mais de mil colagens, o artista madrilenho Antonio Ballester Moreno experimentou formas, cores e elementos para retratar a natureza. Suas tonalidades vibrantes, por vezes fantasiosas, criam paisagens de um mundo simples, regido pelos contrastes: claro e escuro, mar e céu, noite e dia.
Depois de dois meses dedicado a este trabalho, refugiado em uma propriedade no interior da Espanha, Ballester voltou a seu estúdio em Madri e traduziu essas ideias em 13 telas de acrílica sobre juta, em grande formato.
As paisagens são retratadas de maneira sintética –a superfície lisa e plana das cores contrasta com a qualidade rústica do material em que pinta. Um dos gêneros mais retratados na história da arte assim se atualiza, foge do figurativismo clássico.
A série, de caráter panorâmico, compreende a mostra “Água (Verde)”, em cartaz na galeria Gomide&Co, em São Paulo. “O nome se refere ao momento em que algas se desenvolvem em água perene -a primeira vida na vida na terra”, diz o artista.
“Essa equação é poderosa, um momento simples da evolução só com água e luz, mas que origina tudo. O simbolismo é claro. O azul é a água, o amarelo, a luz. Quando se mistura os dois surge o verde, que é a vida”.
Ballester explora a natureza comum a todos. Sobre um fundo branco, “Amarillo” apresenta um sol canário. Em “Azul Rosa” e “Azul Verde”, vemos uma cena semelhante, um corpo de água azul contra um plano aberto. Cinco de suas obras são nomeadas de acordo com horários do dia, como “Verde 7h” ou “Azul Verde Negro 8h”. As paisagens suscitam sensações com sua candura, uma abordagem honesta e direta.
“Vemos isso tanto na Espanha quanto em São Paulo ou até no Alasca”, afirma Ballester. Para o artista, é importante que sua arte seja democrática. “Não estou interessado em arte se for só pela elite ou para um punhado de gente. Busco diferentes níveis de compreensão. Se eu estiver com uma criança e ela compreender meu trabalho, me sinto ótimo”.
Esse interesse também pautou sua estreia no Brasil, em 2018, quando foi convidado para ser artista-curador da 33ª Bienal de São Paulo. Com tema de “Afinidades Afetivas”, sob curadoria geral de Gabriel Pérez-Barreiro, Ballester expande em “Sentido/Comum” seu universo artístico baseado na cultura e biologia.
Uma das obras expostas, “Vivan los Campos Libres”, é uma instalação composta por pinturas, retratando com a simplicidade característica de “Água (Verde)” diversos estágios da natureza. Ao meio estão inúmeros cogumelos de barro, plantados um ao lado do outro no espaço do prédio da Bienal, com as amplas janelas entrevendo a natureza do Parque Ibirapuera.
Os cogumelos, feitos em oficinas com alunos de escola e funcionários da Fundação Bienal, carregam uma poderosa metáfora da existência humana. Por serem feitos a mão, nenhum é idêntico ao outro, e todos trazem consigo a marca única de quem os moldou.
Além de artistas contemporâneos, Ballester também trouxe para “Sentido/Comum” a produção de filósofos, cientistas e membros da Escuela de Vallecas –trupe de pintura surrealista formada em Madri, em 1927– e até brinquedos educativos de vanguardas históricas.
“Na Bienal, meu trabalho foi mais analítico”, afirma. “Agora tento ser mais sintético. Naquela época eu comecei a trabalhar com [o mote das] paisagens, e continuei desenvolvendo até hoje”.
“Eu me vejo mais como um cenógrafo do que um pintor”, diz Ballester. “Um amigo meu que conheço há muito tempo me disse que, quando eu trabalhava com vídeos, eles pareciam com a pintura devido aos frames e planos únicos. E, agora que eu pinto, minhas pinturas parecem com vídeos porque penso meu trabalho como uma sequência, uma narrativa, semelhante a um plano de filmagem”.
Água (verde)
Quando: De seg. a sex., das 10h às 19h; Sáb., das 11h às 17h
Onde: Gomide&Co – Avenida Paulista, 2644, São Paulo
Preço: Grátis
Classificação: Não indicada
Autoria: Antonio Ballester Moreno
LARA PAIVA / Folhapress