Pista de atletismo do Ibirapuera é destruída para receber corrida de carros

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos principais palcos da história do atletismo brasileiro, a pista do Estádio Ícaro de Castro Mello, no Ibirapuera, em São Paulo, está sendo destruída nos últimos dias para a realização de uma prova de automobilismo no local.

Nos dias 9 e 10 de março, está prevista a primeira etapa da Ultimate Drift, corrida de carros na qual os pilotos guiam os carros de modo a deslizar com a parte traseira nas curvas.

A empresa responsável pela realização da prova está destruindo a pista de atletismo do estádio para deixá-la apta ao evento no início do próximo mês. A própria Ultimate Drift publicou um vídeo em suas redes sociais com imagens da pista do Ibirapuera sendo retirada.

A publicação recebeu uma série de críticas de pessoas contrárias ao evento no local, e respondeu. “O piso estava destruído e há anos impossibilitava a realização de atletismo. A Ultimate Drift está custeando toda retirada do piso danificado e regularização do piso de baixo, o que acreditamos que, de imediato, já possibilitará a volta da prática de atletismo recreativo e adianta parte do processo de restauração”, escreveu a empresa em resposta a um comentário que classificava a ação como “absurda”.

Procurada pela reportagem, a empresa não retornou aos pedidos de comentário até a publicação da matéria.

Já a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) diz que a reforma no local se fazia necessária devido à deterioração da pista, e que a destruição em andamento pela Ultimate Drift era uma etapa obrigatória no processo, que está sendo realizada sem custos aos cofres públicos.

A Secretaria de Esportes, por meio da assessoria de imprensa, informou que reuniões entre os organizadores do evento e a comunidade do atletismo estão previstas para serem realizadas na tarde desta quarta-feira (14) em busca de um entendimento entre as partes.

Será uma tentativa de aplacar a ira da comunidade do atletismo.

A CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) divulgou uma nota em que diz estar preocupada com as obras e a utilização do espaço para uma corrida automobilística.

“A CBAt vem a público para informar sua imensa indignação por ver o templo do atletismo paulista, que recebeu competições internacionais importantíssimas deteriorada, e, talvez, destruída”, disse a confederação.

Segundo o presidente da CBAt, Wlamir Motta Campos, ao entrar em contato com a Secretaria de Estado de Esportes de São Paulo, foi informado que os trabalhos em andamento facilitarão uma futura reforma do local.

“Confesso que temos uma preocupação enorme pela estrutura, e, principalmente, pelo histórico. Quando mudamos a função da pista isso acaba por distanciar o propósito”, disse Campos.

Campeão olímpico nos 800 metros nos Jogos de Los Angeles-1984, Joaquim Cruz também manifestou sua contrariedade em relação à destruição da pista. “A base da pista de atletismo do Ibirapuera não foi construída para suportar eventos de corridas automobilísticas e terá um custo mais elevado para a sua restauração”, escreveu Cruz.

“Lamentamos ver mais um templo do atletismo brasileiro sendo transformado para outros fins, sem considerar sua importância histórica e estratégica para desenvolvimento da modalidade”, disse também por meio de nota a Comissão de Atletas da CBAt.

Inaugurado em 1974, o estádio foi batizado em homenagem ao arquiteto responsável pelo projeto do ginásio do Ibirapuera e outros modais esportivos, como o estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, e o Mané Garrincha, em Brasília.

Natural de São Vicente, no litoral paulista, Ícaro de Castro Mello (1913-1986) chegou a ser campeão sul-americano no salto em altura e salto com vara e participou dos Jogos de 1936, em Berlim. O estádio que leva seu nome tem capacidade para cerca de 13 mil pessoas nas arquibancadas e já recebeu partidas do Campeonato Brasileiro de futebol e shows de artistas como Elton John e Black Sabbath.

Desde então, ela servia principalmente como centro de treinamento para atletas profissionais, mas vinha sem utilização desde o fechamento ocasionado pela pandemia de covid-19, em meados de 2020.

LUCAS BOMBANA / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTICIAS RELACIONADAS