‘Pixel Ripped 1978’ une passado e presente em homenagem aos games

FOLHAPRESS – Dizem que a indústria dos games não tem memória. Jogos são lançados, jogados por milhões de pessoas e, em poucos anos, desaparecem do mercado, sobrevivendo apenas no coração dos seus fãs. Dentro das suas possibilidades, o game “Pixel Ripped 1978”, desenvolvido pelo estúdio brasileiro Arvore, tenta mudar um pouco isso.

Utilizando a tecnologia de realidade virtual, o game leva o jogador em uma aventura que tem como cenário a indústria de games dos anos 1970 e início dos 1980, quando a Atari, publicadora do título, dominava o ainda incipiente mercado de consoles.

Continuando a história dos dois primeiros jogos da franquia “Pixel Ripped”, criada pela maranhense Ana Ribeiro, em “1978” o jogador controla a heroína de videogames Dot, que busca salvar seu mundo virtual do vilão Cyblin Lord. Para isso, ela precisará se juntar à desenvolvedora Bug, sua criadora, em uma saga multidimensional.

A curta campanha de cerca de quatro horas se divide em ciclos de jogabilidade com duas fases distintas.

Na primeira, encarnando Dot, o jogador explora em primeira pessoa ambientes 3D construídos com blocos retangulares -em alusão à arte “pixelada” dos games antigos-, buscando itens e enfrentando inimigos com o canhão de plasma da heroína e armas de combate corpo a corpo.

Essa é a parte em que o jogador gastará mais tempo e, infelizmente, também a menos original do game. Os cenários são repetitivos e pouco convidativos à exploração. Há alguns quebra-cabeças, mas todos são bastante simples e quase não impõem desafios. Os inimigos tampouco são capazes de criar momentos memoráveis.

Não precisava ser assim. Prova disso é a zona final do jogo, em que -tentando não dar spoilers- há uma surpreendente mudança estética, que refresca bastante a experiência.

Mais interessantes são os momentos em que o jogador assume o controle de Bug. Nesses trechos, é preciso jogar jogos dentro do jogo, controlando Dot em títulos fictícios de plataforma rodando em consoles virtuais da Atari.

Há diversas referências a jogos famosos para os consoles da marca, como “Centipede”, “Haunted House” e “Space Invaders”. Não espere, porém, por reproduções fiéis dos games do passado ou referências à história real da empresa.

Todo o jogo se passa em um universo ficcional. E, apesar de existirem motivos para isso, fica a sensação de que a licença desses jogos poderia ser melhor aproveitada, incluindo, por exemplo, detalhes e curiosidades sobre a história dos títulos no mundo real.

Ainda assim, nesses trechos brilha o excelente design de som do game. A atenção a detalhes, como o barulho do ar condicionado dentro do escritório da Atari, com a ótima imitação do áudio sintetizado dos jogos antigos, ajudam o jogador a se sentir imerso nessa versão virtual dos anos 1970.

De forma inteligente, os desenvolvedores usam a realidade virtual para mergulhar o jogador na sensação de jogar videogame em um ambiente cheio de distrações, sendo atrapalhado por alguém passando na frente da TV, pedindo alguma coisa ou querendo bater um papo.

Essa estratégia culmina nas batalhas de Bug contra o vilão Cyblin Lord, ponto alto do jogo. Nelas, jogos tradicionais literalmente pulam para fora da tela em ótimas releituras.

Na primeira dessas batalhas, por exemplo, o jogador enfrenta o vilão em uma partida do jogo “Breakout”. Ao mesmo tempo em que tenta rebater a bolinha virtual é preciso jogar objetos que estão por perto para atrapalhar o adversário. Essa mistura de mundo real com virtual cria os momentos mais divertidos e surpreendentes de “Pixel Ripped 1978”.

Ao fim, o game conta uma história que mostra como pequenas escolhas e acontecimentos mundanos, como jogar um videogame, podem influenciar todo o nosso destino.

Entre defeitos e qualidades, o game da Arvore consegue usar a realidade virtual de forma divertida para atiçar a curiosidade de novatos sobre a história dos games ou o saudosismo de veteranos –mesmo aqueles que, como eu, não viveram o auge da Atari.

PIXEL RIPPED 1978

Quando PC, PS VR2 e Meta Quest 2

Preço R$ 73,99 (PC), R$ 133,90 (PS 5), US$ 24,99 (Quest)

Classificação 10 anos

Desenvolvedora Arvore

Distribuidora Atari

Avaliação Bom

TIAGO RIBAS / Folhapress

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