RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Ícone da contracultura em todo o mundo e uma das maiores ativistas pelos direitos humanos do planeta, Angela Davis, 80, está no Rio de Janeiro para participar do Festival LED, evento de educação promovido pela Globo. Na noite desta quinta (20), Davis teve um momento mais reservado que poucos tiveram acesso.
Ela esteve com alguns jornalistas e funcionários da emissora, sem a presença de artistas, na sede da emissora no bairro do Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro. A reportagem estava presente e viu uma Angela que emocionou quem estava por ali do início ao fim.
Não era exatamente uma entrevista ou coletiva de imprensa. Angela chegou por volta das 20h, acompanhada de pessoas que estão junto a ela em sua segunda visita ao Rio de Janeiro. Nos últimos tempos, a filósofa tem ido mais à Bahia, maior território negro fora da África.
“Fui nas cachoeiras, em Cruz das Almas. Fui em uma ilha. Como era o nome mesmo? É perto de Salvador… Boipeba!”, recorda-se. O início tem momentos de leveza, onde Angela fala das suas referências de escritoras. Uma delas é Carolina Maria de Jesus (1914-1977), de quem Angela diz ser “extremamente admiradora”.
Angela pergunta de onde são todos que estão naquela sala, e cada um conta a sua história, de onde vem e para onde foi. Com a conversa informal, o papo transcorre para assuntos da atualidade e que são urgentes para uma pessoa que desde a década de 1970 luta pelos direitos humanos.
A ex-Pantera Negra relatou estar por dentro da PL Antiaborto por Estupro, que tem sido pauta no Congresso nas últimas semanas, e colocaria o aborto com pena maior que a do estupro. “É inacreditável que isso esteja acontecendo. É um retrocesso tão grande. Eu vi e não acreditei na discussão”, comentou.
Para Angela, a PL Antiaborto é um reflexo do avanço da extrema-direita, não somente no Brasil, mas em diversos países do mundo. “É tudo tão nojento. É sempre tudo em nome de algum progresso que ninguém sabe direito o que é. Eu desejo muito que as pessoas acordem”, comenta.
A filósofa se emocionou especialmente ao falar de Marielle Franco, assassinada em 2018. Angela perguntou sobre como estavam os seus mandantes e se eles já haviam sido presos. Ao falar de como o caso mexeu com ela, Angela disse que só pretende parar de voltar ao Brasil quando “os sonhos de Marielle estiverem realizados”.
O fim da noite ainda reservava fortes emoções. Um jovem funcionário da Globo, que tem Angela como ícone, se aproximou ao fim de tudo. Intitulado Juca, o garoto de seus 20 e poucos anos trouxe uma cópia de “Mulheres, Raça e Classe”, um de seus livros, para que ela autografasse.
Tremendo, o jovem emocionou uma senhora americana de 80 anos, que ficou encantada ao ver um garoto entendendo a sua luta de mais de 50 anos. “Tem gente que é matadora de sonhos. Mas ver tantos sonhos vivos aqui é algo maravilhoso”, completou. Angela Davis terminou cumprimentando um por um e deixou a sala com seu recado dado: a luta por um mundo mais justo jamais pode parar.
GABRIEL VAQUER / Folhapress