BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Integrantes do PL viram nas eleições municipais episódios de crises e ruídos entre o dirigente da sigla, Valdemar Costa Neto, e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Aliados atribuem à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que veta os dois de conversarem a eclosão de casos em que Bolsonaro foi na contramão do partido, como ocorreu em Curitiba (PR).
Em fevereiro deste ano, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, proibiu a comunicação entre todos os investigados da operação que apura suposta tentativa de golpe de estado. A decisão também atingiu o vice de Bolsonaro na campanha de 2022, general Walter Braga Netto, que deixou o cargo de secretário de Relações Institucionais do PL.
Desde então, Bolsonaro vem se queixando da decisão judicial em entrevistas, ao alegar que o objetivo de Moraes era prejudicar eleitoralmente a sigla.
Sua equipe de advogados solicitou ao STF que a restrição caísse, mas teve o pedido negado mais uma vez na segunda-feira (21). Valdemar agora quer fazer uma nova petição ao STF com o mesmo pleito.
O partido teve um desempenho importante nas disputas municipais, se tornando o quinto com o maior número de prefeituras: 510. O PT de Lula conseguiu 248, e o PSD de Gilberto Kassab ficou em primeiro lugar, com 878 comandos de municípios.
Mas a avaliação no entorno de Valdemar é de que o número poderia ter sido maior ainda se os ruídos fossem evitados.
A falta de diálogo entre os dois passa por indiretas em entrevistas, e fez surgir ainda uma nova figura de destaque no partido: o senador Rogério Marinho (PL-RN), que se afastou de suas funções parlamentares para trabalhar no pleito. Ele ocupa hoje o cargo de secretário-geral na sigla.
Marinho é quem faz a ponte entre Bolsonaro e Valdemar. Ex-ministro do governo passado, ele conta com a confiança do ex-presidente e com o respeito de Valdemar, de quem se tornou próximo nos últimos meses.
Coube a ele levar ao presidente do PL, mais recentemente, as queixas de Bolsonaro sobre a mais aguda crise na eleição municipal, que aconteceu no Maranhão. O ex-presidente pediu a expulsão de dois integrantes do partido, subiu o tom contra Valdemar e chegou a ameaçar deixar a legenda.
“É difícil, porque eu não posso conversar com Valdemar. É uma perseguição sem tamanho eu não poder conversar com o presidente do meu partido”, disse Bolsonaro.
“Eu vi notícia que PL não vai mexer no Maranhão, apesar de os deputados lá serem corruptos contumazes, que não acharíamos bolsonarista lá. (…) Declaração, se é verdade, sobe no telhado realmente. Eu ralo igual condenado pelo Brasil”, afirmou
A declaração do ex-presidente, em entrevista no último dia 16 à rádio Auriverde Brasil, foi num tom que lembrou sua versão de 2018, mais irritado e desafiador. Ele fez menção a uma entrevista de Valdemar ao jornal O Globo, em que o dirigente disse que é difícil encontrar bolsonarista no Maranhão.
“Maranhão não vai ficar como está. Sei que estou apenas como presidente de honra, não mando nada aqui, mas não tem clima do nosso pessoal permanecer no partido onde passa a mão na cabeça de marginais”, completou Bolsonaro.
Além disso, Bolsonaro pediu a expulsão dos deputados investigados Maranhãozinho (PL-MA) e Pastor Gil (PL-MA. Também se queixou de o partido estar na coligação de Duarte (PSB) em São Luiz.
A troca de farpas públicas acirrou os ânimos. Rogério Marinho esteve no gabinete de Valdemar para tratar do tema. O dirigente partidário, segundo relatos, foi categórico ao dizer que a legenda não é um tribunal, e que todos eles sofrem ou já sofreram acusações.
Bolsonaro, na mesma entrevista, disse que o PL não vai voltar a ser “partido de negócio”. “Se voltar, não é por vontade minha”.
Em outros casos, a crise não escalou tanto, mas também foi prejudicial para o partido. Em Curitiba (PR), o ex-deputado federal Paulo Eduardo Martins (PL) queria se lançar candidato, mas Bolsonaro decidiu que ele saísse como vice na chapa de Eduardo Pimentel (PSD) para a prefeitura.
A direita mais radical adotou uma postura de rechaçar o partido de Gilberto Kassab. Muitos bolsonaristas apoiaram Cristina Graeml (PMB) e, às vésperas do primeiro turno, o ex-presidente pediu voto para ela, surpreendendo o partido e gerando uma crise interna.
Da mesma forma, em São Paulo, a aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) por muitas vezes foi questionada, diante da falta de gestos mais claros de Bolsonaro e do próprio candidato ao bolsonarismo. O ex-presidente indicou o coronel Mello Franco para a vice de Nunes, mas diante do racha na direita no primeiro turno, fez gestos a Pablo Marçal (PRTB).
Foi somente a dois dias de os paulistanos irem às urnas que Bolsonaro subiu o tom contra o adversário de Nunes. Por pouco, Marçal não foi para o segundo turno contra o atual prefeito, que hoje disputa com Guilherme Boulos (PSOL).
Os ruídos no partido não eram apenas na seara eleitoral, e também ocorreram em meio a rumores na de troca no comando na legenda.
Chegou-se a circular a possibilidade da ida do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ou do senador Rogérinho Marinho para a presidência do partido o que Valdemar nega a seus aliados.
Diante da necessidade de fortalecer os laços com a família Bolsonaro, Eduardo assumirá um cargo que terá secretaria de Relações Institucionais e Internacionais unidas. O primeiro cargo estava vago desde o afastamento de Braga Netto. O vereador Carlos Bolsonaro (RJ) assumiu o diretório municipal do Rio de Janeiro neste ano.
A aliados, o presidente do PL nega qualquer tipo de mudança na presidência do partido. Até mesmo porque é ele quem hoje controla a maioria absoluta dos delegados da executiva nacional por onde qualquer mudança do tipo tem de passar.
MARIANNA HOLANDA E CATIA SEABRA / Folhapress