PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O sargento Tadeu José de Andrade foi preso preventivamente na tarde desta sexta (10). Ele é suspeito de ter comandado uma operação clandestina para expulsar ao menos 18 pessoas em situação de rua de Itajaí, em Santa Catarina.
O caso aconteceu em 31 de outubro, e conforme a Polícia Militar catarinense, sem o conhecimento ou consentimento da instituição. As pessoas em situação de rua teriam sido agredidas durante a noite, obrigadas a caminhar por 7km às margens da BR-101 até o município de Balneário Camboriú e ameaçadas para que não retornassem a Itajaí.
A Folha tentou contato com o advogado de Andrade, mas não obteve resposta por ligação e mensagem de WhatsApp até a publicação da reportagem. A investigação corre em sigilo.
Além do sargento, foram cumpridos mandados de busca contra cinco policiais, que tiveram celulares apreendidos. Conforme nota da PM, as ordens judiciais foram requeridas pela Corregedoria-Geral da PM-SC.
Os PMs envolvidos poderão responder por abuso de autoridade, organização criminosa, racismo e tortura.
Quando o episódio aconteceu, o 1º Batalhão da Polícia Militar de Itajaí afirmou que a operação foi clandestina e que iria abrir um inquérito para apurar o caso.
A secretária municipal de Desenvolvimento e Inclusão Social de Balneário Camboriú, Anna Christina Barichello, disse que por volta das 3h de 31 de outubro sua equipe foi avisada pela Guarda Municipal que dezenas de pessoas em situação de rua tinham sido levadas pela PM até a BR-101, onde foram abandonadas.
Assistentes sociais encontraram o grupo no km 126 da rodovia, na divisa entre os dois municípios. Eram 30 homens e 2 mulheres, com idades entre 21 e 58 anos. Alguns possuíam carrinhos usados em coleta de lixo reciclável.
Também foram enviados vídeos de pessoas marchando pelo acostamento da rodovia escoltados por viaturas. Aos assistentes sociais de Balneário Camboriú, as vítimas teriam dito que os policiais disseram que estavam executando a “Operação Tadeu”. Pela manhã, quando representantes da prefeitura de Itajaí chegaram ao local, ainda havia 18 pessoas desamparadas à margem da rodovia.
Andrade já havia sido condenado em segundo grau por tortura, e recorria ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele e outros dois policiais teriam agredido dois homens e uma mulher com chutes e choques com uma pistola taser.
Em 2020, o Tribunal de Justiça de SC manteve a condenação e fixou a pena de 7 anos e 9 meses de prisão em regime semiaberto, mas o Ministério Público não pediu o cumprimento imediato da sentença.
A condenação também previa perda do cargo, mas a defesa de Andrade argumentou ao STF que seria necessário um processo específico dentro da corporação para determinar sua expulsão. Até que o processo fosse julgado na corte, Andrade vinha cumprindo suas funções normalmente.
Redação / Folhapress