SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um homem identificado como indigente em um boletim de ocorrência foi morto por policiais militares com tiros de fuzil e pistola na tarde de segunda-feira (31), bairro Sítio Conceiçãozinha, na periferia de Guarujá, na Baixada Santista.
O possível morador de rua é um dos 16 mortos durante a Operação Escudo, organizada pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), como resposta ao assassinato de um agente da Rota (tropa de elite da PM paulista) na noite de quinta-feira (27) na cidade do litoral de São Paulo.
Um trio de PMs que compareceu a uma delegacia de Guarujá apresentou versão semelhante para os investigadores: a de que o homem teria atirado contra eles.
A reportagem enviou os detalhes do caso à SSP (Secretaria da Segurança Pública), que respondeu por email com o áudio de uma entrevista coletiva do governador realizada na tarde desta terça (1º). Nela Tarcísio afirmou que a gestão tem sido transparente na condução da operação e que as imagens das câmeras corporais dos agentes serão utilizadas para investigar eventuais abusos. “A gente não vai se furtar a investigar nada. Se houver excesso, se houver falha, nos vamos punir os responsáveis”, disse.
A secretaria não se pronunciou sobre o uso do termo indigente no boletim de ocorrência. Outras mortes na região foram classificadas com os termos “desconhecido”, “não identificado” e “cadáver sem identificação”.
Segundo moradores da comunidade do Pantanal, na Vila Baiana, um morador de rua foi morto e outro está desaparecido após uma ação da Polícia Militar na tarde do último domingo (30). Oito pessoas relataram a situação para a reportagem da Folha de S.Paulo.
As testemunhas dizem que viram uma arma ser colocada pelos policiais na viela onde o homem morreu e que se sentiram ameaçadas para que mentissem e confirmassem a versão da PM.
Segundo a versão dos policiais para a ocorrência no Sítio Conceiçãozinha, ao retornar do apoio dado a uma patrulha de Guarulhos, que foi encaminhada pelo governo para auxiliar na região, perceberam um homem que tinha um volume na cintura. O suspeito ainda carregava uma mochila nas costas.
Antes de ser abordado o homem teria corrido para uma viela na avenida Bento Pedro da Costa.
Um dos policiais localizou o suspeito em um beco sem saída. Pela versão dos PMs, o suspeito realizou um disparo de arma. Um soldado revidou com um tiro de pistola. Um sargento atirou contra o suspeito com seu fuzil. Um terceiro PM atirou mais duas vezes com sua pistola.
Conforme os policiais, ao lado do homem morto com quatro tiros foram encontrados um revólver calibre 38 com numeração raspada e uma mochila. Dentro da bolsa estavam um tablete de maconha, um rádio comunicador, uma faca e uma balança.
OUTRA MORTE NA SEGUNDA-FEIRA
Cinquenta minutos antes da morte do homem tratado como indigente, policiais militares haviam matado uma outra pessoa. Evandro Silva Belém, 35, foi assassinado a tiros na rua Botafogo, no bairro Pae Cara, área pobre no distrito de Vicente de Carvalho.
Os policiais, vindos do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) de Guarulhos, ou seja, supostamente os mesmos agentes públicos que tiraram a vida do morador de rua tinham ido ajudar, relataram na delegacia que patrulhavam pela rua Joana de Menezes Faro, próximo da linha férrea, quando decidiram descer do carro policial e patrulhar a pé as vielas da favela da Aldeia.
De acordo com a versão dos policiais, eles ouviram o barulho de um rádio de transmissão e, após identificar de onde vinha o som, visualizaram um homem. O suspeito teria visto os policiais e se escondido entre muretas de uma casa abandonada.
Pouco depois, o homem teria atirado contra os PMs, que revidaram. Um sargento disparou duas vezes com seu fuzil e um soldado mais uma vez com a pistola que portava.
As balas acertaram a vítima no abdômen. Socorrido pelo Samu, ele morreu no local. Os policiais alegaram ter encontrado próximo do homem um rádio de transmissão, drogas, dinheiro trocado e um revólver calibre 32.
A delegada responsável pelo boletim de ocorrência entendeu que a ação dos PMs se enquadra no excludente de ilicitude, em face de intervenção policial no legítimo exercício da função pública, pois as circunstâncias indicam que o autor estava em plena prática do crime de tráfico de drogas.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress