SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Relatório de inteligência do Ministério Público de SP aponta que a segurança pessoal de dirigentes da Transwolff, empresa de ônibus suspeita de ligação com a facção criminosa PCC, era realizada por oficiais da Rota, tropa de elite da Polícia Militar paulista.
Nos documentos aos quais a Folha teve acesso, não há nenhum indicativo de possíveis crimes praticados pelos policiais, como suspeita de eventual ligação deles com o crime organizado ou repasse de informações privilegiadas para integrantes da cúpula da empresa.
Trata-se, em princípio, de um trabalho extraoficial, supostamente realizado no horário de folga, o que é proibido pela corporação. Seria, assim, em tese, uma transgressão disciplinar, que pode gerar consequências administrativas, mas não uma questão criminal.
Foram homens da Rota que apoiaram promotores do Gaeco (grupo de combate ao crime organizado) no cumprimento de mandados no início de abril, durante a operação “Fim da Linha”. Entre os alvos da Promotoria estavam membros dessa empresa da zona sul.
Procurada, a Polícia Militar informou, por meio de nota, que a suposta participação de policiais militares em atividades de segurança privada na Transwolff é investigada pela Corregedoria da instituição. A corporação não informou se os policiais foram afastados da Rota.
“A Corregedoria da PM investiga se houve ou não participação de policiais militares em atividades de segurança privada da empresa mencionada pela reportagem. Constatada qualquer irregularidade, os profissionais serão punidos. Mais detalhes serão preservados para não atrapalhar as apurações em andamento, que estão sob sigilo”, diz nota.
O advogado Roberto Vasco Teixeira Leite, defensor do presidente da Transwolff, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, confirmou a contração dos PMs da Rota pela empresa por um “longo período”. Para ele, só essa informação coloca “água abaixo” a tese de que o presidente da empresa seria integrante do crime organizado.
“Porque uma tropa de elite jamais se submeteria a fazer segurança para essas pessoas [do crime organizado]”, disse o advogado, também por meio de nota.
Em um diálogo destacado no relatório da Promotoria, um dirigente da Transwolff fala para um PM sobre uma possível orientação do comando da Rota para que os policiais se afastassem do trabalho na empresa, em razão dos riscos.
“Então, se a gente fosse bandido, como é que eu, como bandido, vou pedir para contratar a Rota para fazer segurança para gente? Então, não bate, não fecha, entendeu? Então, nós somos trabalhadores como vocês”, diz trecho do diálogo atribuído a Cícero de Oliveira, dirigente da Transwolff e denunciado pelo Ministério Público em abril deste ano.
Em resposta, o PM explica que, ao contrário do que imaginava o diretor da empresa, não havia chegado a eles nenhuma informação do envolvimento dos dirigentes da Transwolff com o crime organizado, mas, sim, que o trabalho naquele local seria perigoso.
O policial afirma, na sequência, que os serviços de segurança continuariam. “Na segunda-feira vai ter gente lá, a gente já resolveu, então fica tranquilo com isso daí. Em momento algum houve um comentário desse daí, da índole de vocês, que estaríamos trabalhando para bandidos. Não teve isso daí. Foi só relacionado ao perigo, pintaram um pavão de uma cor que não existe, a verdade é essa”, disse.
Não há informação no relatório sobre quantos PMs da Rota faziam segurança para a Transwolff.
Pelas trocas de mensagens interceptadas na investigação, com autorização judicial, ao menos seis policiais militares participaram do trabalho de segurança e de escolta. Um deles seria um capitão, possivelmente o chefe da equipe, e que trata de valores de cinco PMs em uma das conversas.
O relatório de inteligência da Promotoria anexa uma nota fiscal emitida em R$ 23.806,70 como pagamento pelo trabalho dos policias, mas pagos como se fosse uma consultoria em segurança, em nome de uma empresa da zona norte, a AM3. A nota é de setembro de 2020.
Redação / Folhapress