RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Quatro policiais militares que figuram como réus no processo relacionado à morte do adolescente Thiago Flausino, de 13 anos, no dia 7 de agosto, na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro, foram presos nesta quarta-feira (6).
A prisão preventiva (sem prazo) foi decretada pela Auditoria de Justiça Militar, que recebeu a denúncia da Promotoria do Rio de Janeiro.
Os cabos da PM Roni Cordeiro de Lima, Diego Pereira Leal, Aslan Wagner Ribeiro de Faria e Silvio Gomes dos Santos foram denunciados pela Promotoria do Rio de Janeiro por suspeita de fraude. Eles são suspeitos de ter atribuído falsamente a Thiago uma pistola e munição.
A reportagem procurou, por telefonema e mensagens, os advogados cadastrados como representantes das defesas dos PMs no Tribunal de Justiça do Rio, mas não houve resposta.
Há uma outra investigação em curso, esta relacionada ao crime de homicídio, conduzida pela Promotoria e pela Delegacia de Homicídios.
Um quinto agente, o capitão da PM Diego Geraldo de Souza, foi afastado da função pública. Ele foi denunciado por suspeita de prevaricação e fraude processual por omissão. A Justiça proibiu Souza de manter contato com testemunhas, suspendeu o porte de arma de fogo e o proibiu de acessar dependências de unidades da PM.
“Ele omitiu-se diante do dever de vigilância sobre seus comandados, autorizando que eles atuassem de modo irregular na localidade, utilizando veículos e drones particulares durante a operação”, diz o Ministério Público do Rio de Janeiro.
Os quatro PMs se apresentaram na 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, de acordo com a corporação. A PM afirmou que a prisão “está baseada no pedido da Corregedoria da corporação após apuração interna”.
Na decisão, o juiz de direito Leonardo Rodrigues da Silva Picanço afirma que “a liberdade dos acusados poderia comprometer de forma irremediável a colheita das provas orais”.
O juiz cita ainda o depoimento de uma testemunha que afirma ter demorado para cuidar de ferimentos por sentir-se ameaçado pelos acusados.
Nesse depoimento, mencionado na decisão da Justiça, a testemunha afirma ter comunicado ao hospital que foi vítima de assalto, “pois estava com medo ainda da decisão”. Diz ainda que o pai teria assinado um termo para que o filho tivesse alta, “pois estava com medo de represálias”.
Flausino e outro jovem estavam em uma moto durante a ação policial. Testemunhas afirmam que os agentes atiraram contra o adolescente e que não houve tiroteio.
O garoto foi atingido por três tiros: um nas costas, outro na perna e um terceiro que perfurou as duas canelas. Ele morreu no local.
Inicialmente, a Polícia Militar havia dito que Flausino morreu em confronto com os policiais. Nessa primeira versão da PM, os agentes alegaram ter trocado tiros com o adolescente e disseram ter encontrado uma pistola no local.
As imagens obtidas pela família do garoto, porém, contestaram essa versão. Nas gravações não há indícios de tiroteio. Flausino aparece andando de moto na rua, que está movimentada. Segundo testemunhas, os agentes estavam dentro de um carro de passeio, sem qualquer identificação da PM. O veículo é visto nas imagens trafegando atrás do adolescente.
YURI EIRAS / Folhapress