RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O empresário Michel Ribeiro tinha 20 anos quando conheceu Vila Muriqui, distrito do município de Mangaratiba, próximo a Angra dos Reis, na costa verde do estado do Rio de Janeiro. Depois de passar um carnaval na região, o paulista fez uma promessa de que um dia voltaria para ficar.
“Assegurei para mim mesmo que moraria aqui depois que me aposentasse”, disse.
Não demorou tanto. Aos 30, Ribeiro mora no distrito e trabalha em um restaurante à beira do Poção de Muriqui, destino turístico do estado famoso por ser frequentado pelas camadas mais populares.
“Tinha um restaurante em São Paulo e precisei fechar. Logo depois surgiu uma oportunidade de trabalhar e morar no Rio. Na primeira oportunidade, me mudei para Mangaratiba. É um lugar tranquilo e seguro, poucos crimes acontecem.”
Poção é um curso dágua que começa no encontro de três cachoeiras da cidade e avança pelas ruas até desaguar na praia de Muriqui. Em um trecho de passagem da água, paredes foram construídas e o chão foi concretado. Uma pequena comporta instalada pela prefeitura controla o volume da água no canal. Em dias de chuva, o fluxo diminui para evitar alagamentos.
Com baixa profundidade e largura que varia entre 4 m e 16 m, o poção ficou com cara de piscina natural para crianças. Locais e turistas passaram a frequentar o espaço, e o comércio surgiu. No verão, uma multidão pula no poção, enquanto aproveita as bebidas e aperitivos dos bares e restaurantes ao redor. “Muita gente vem para cá na volta da praia de Muriqui, para tirar o sal do corpo e almoçar. Ficam até a noite”, diz Ribeiro.
Moradores da região definem Muriqui como o “lado povão” de Mangaratiba, conhecida pelas mansões de artistas, atletas e políticos. O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, tinha uma mansão na cidade, arrematada em 2018 por R$ 64 milhões em leilão após a condenação na Lava-Jato.
Neymar também tem uma mansão em Mangaratiba. Em julho, o atacante do Al Hilal, da Arábia Saudita, foi multado em R$ 16 milhões pela construção de um lago artificial de 1.000 m² no terreno, cercado por vegetação de mata atlântica. A prefeitura entendeu que não havia licença ambiental para obras de desvio de curso de água, escavação e movimentação de pedras e rochas.
Mangaratiba, que possuía 36.456 habitantes no Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pulou para 41.220 no Censo de 2022.
No distrito de Vila Muriqui muitas casas são ocupadas ocasionalmente. Famílias da zona oeste do Rio e da baixada fluminense costumam comprar ou alugar imóveis no local, e vão ao distrito nos finais de semana, quando o poção lota.
Apesar de movimentado em temporadas de calor, o Poção de Muriqui está longe de ser querido por todos os habitantes do município. Um morador, que preferiu não se identificar, afirmou à reportagem que o local “não combina” com Mangaratiba.
Em 2020, quando a prefeitura divulgou nas redes sociais obras de melhoria no Poção, parte dos comentários foi negativa. Um seguidor disse que o Poção deveria fechar de vez, por causa de “veranistas porcos sem educação”. Outra seguidora disse que não conseguia frequentar o poção porque “só vive cheio de farofeiros agora”.
“Vila Muriqui tem vida noturna mais movimentada do que outros distritos. E o preço é mais em conta também. Vem muita gente da Baixada Fluminense, cidades como Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Queimados. Muriqui é povão”, afirma Vanessa Oliveira, proprietária do chalé do Zazu, a 100 metros do Poção.
Quem frequenta e vive no local afirma que o Poção poderia ser mais bem cuidado pela prefeitura. No trecho em que as crianças costumam pular, parte do corrimão está enferrujada.
“O poção é muito bom, mas precisa de algumas melhorias. Precisa de pintura, por exemplo. E também poderia ter mais eventos, para os próprios turistas curtirem”, afirma Vanessa Oliveira.
Tiago Barros, morador de Vila Muriqui, também afirma que o Poção necessita de reparos, mas diz que o local é um marco da cidade.
“Ele tem muita representatividade porque faz parte da natureza do nosso município. Muitas coisas bonitas aconteceram no Poção, muitas pessoas já se conheceram ali”, disse.
Em nota, a secretaria de serviços públicos da Prefeitura de Mangaratiba disse que o Poção recebe manutenções periódicas, com capina, poda de árvores, iluminação e pintura.
“Não há falta de manutenção na área do Poção, entretanto, o local fica em meio a natureza e sofre influência direta de causas naturais, e vandalismo por parte de alguns frequentadores”, disse o comunicado.
YURI EIRAS / Folhapress