Polícia bloqueia ruas durante protesto contra proibição de bloqueio de ruas na Argentina

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Manifestantes na calçada e polícia nas ruas. Assim era grande parte do primeiro protesto de organizações sociais e sindicatos contra o governo de Javier Milei, nesta quarta-feira (20), na Argentina. O ato era considerado um teste do novo protocolo contra o bloqueio de ruas no país.

Um forte operativo policial ocupou o centro de Buenos Aires desde o início da tarde. Quando a marcha começou a andar por diferentes ruas, por volta das 16h no horário local (mesmo horário em Brasília), os agentes formaram fileiras para indicar aos manifestantes que seguissem pelos cantos. A essa altura, boa parte do trajeto já estava fechado para a circulação de carros.

Os manifestantes chegaram à Praça de Maio, onde fica a Casa Rosada, no geral de maneira pacífica e sem grandes incidentes, ocupando parte das avenidas que rodeiam a praça. Houve ao menos dois episódios distintos com corre-corre, enfrentamento à polícia e gás de pimenta, mas foram breves.

Ao menos duas pessoas foram presas por desacato e agressão às autoridades, segundo a imprensa argentina.

Milei acompanhou o evento da central da Polícia Federal ao lado de sua ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e de sua irmã Karina, secretária-geral da Presidência. A intenção era demonstrar apoio aos agentes policiais.

O ato desta quarta foi convocado principalmente pelos chamados “piqueteiros”, conjunto de organizações que usam o fechamento de ruas como principal forma de protesto desde a década de 1990 no país. Um dos porta-vozes é o Polo Obrero (polo operário, em português), grande grupo composto por trabalhadores desempregados ou de baixa renda.

A manifestação ocorreu em clima de tensão. Foi o primeiro ato depois que Milei anunciou que não permitirá o bloqueio de ruas, o tradicional “piquete”. Advogados e organizações de direitos humanos enviaram representantes para os pontos de concentração, jornalistas combinaram de ir à marcha juntos e prepararam equipamentos contra gás de pimenta, e motoristas de aplicativos repassaram avisos para evitar a região.

Telas de estações de trem da capital, por onde manifestantes chegaram, amanheceram com a frase repetida pelo governo de Milei nas últimas semanas: “Quem bloqueia, não recebe”, referindo-se aos programas de assistência social que ele prometeu cortar a quem for identificado obstruindo ruas.

“Se você pretende exercer seu direito de protestar, leve em consideração que só pode fazê-lo em locais autorizados. Lembre-se de que bloquear uma rua, uma avenida ou uma rodovia é um crime punido por lei”, repetia uma mensagem nos televisores e em alto-falantes, que trazem ainda uma linha telefônica de denúncia a quem se sentir coagido a protestar.

A ideia inicial era que os manifestantes se concentrassem a partir das 16h em frente ao Congresso Nacional e caminhassem por 2 km em linha reta até a Casa Rosada, mesmo trajeto que Milei fez ao tomar posse no último dia 10 —eles costumam se organizar por blocos, delimitados por cordas.

Mas, algumas horas antes do protesto, os organizadores resolveram alterar o percurso para “assegurar a realização do ato na Praça de Maio [em frente à Casa Rosada] e contornar as provocações do governo nacional”. Os grupos se dispersariam em dois eixos: nas diagonais Sul e Norte da cidade.

Um fator simbólico adicionou ainda mais pressão à situação: o protesto aconteceu no mesmo dia em que, 22 anos atrás, um caos social tomou a Argentina e terminou com estimados 39 mortos, incluindo uma repressão violenta na Praça de Maio. O então presidente Fernando de la Rúa renunciou e deixou a sede do governo de helicóptero.

Todos os anos um ato marca a data, mas este ganhou força e somou diversas organizações contra o governo de Milei e seus anúncios de duros cortes de gastos públicos, com o objetivo de acabar com o déficit fiscal e frear a galopante inflação no país, que atingiu os 161% anuais em novembro.

JÚLIA BARBON / Folhapress

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