SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil pediu na sexta-feira (3) a prisão preventiva do soldado da PM Guilherme Augusto Macedo, 26, pela morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22. O jovem foi morto com um único tiro na madrugada de 20 de novembro.
O delegado Gabriel Tadeu Brienza Viera, do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), entendeu que apesar de Acosta reagir a abordagem policial, Macedo “assumiu o risco do resultado morte, porque usou ilegitimamente a arma de fogo para repelir uma suposta ameaça ao seu parceiro de viatura [um soldado da PM]”.
A decisão pela prisão ou não do PM cabe a Justiça.
João Carlos Campanini, advogado do soldado, disse que não há motivos para a decretação da prisão. “A defesa não verifica os requisitos da prisão preventiva no pedido. Sendo a liberdade regra do processo penal brasileiro, apenas se deve decretar essa medida extrema quando de fato houver efetiva e imediata necessidade”, afirmou ele.
O caso aconteceu dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. A ação ocorreu após o estudante dar um tapa no retrovisor da viatura onde estava Macedo.
O soldado perseguiu Acosta até a hospedaria, onde disparou. A cena foi gravada por uma câmera no local e pela câmera corporal usada pelo policial. O jovem estava no 5º ano de medicina e queria ser pediatra. Ele é filho de médicos.
“Estava nitidamente alterado, utilizando de força para agredir a equipe e demonstrava interesse em arrebatar minha arma de fogo”, disse o policial em depoimento para seus superiores. Macedo se manteve em silêncio durante interrogatório aos policiais civis.
De acordo com o laudo, Acosta morreu por hemorragia após lesão por arma de fogo.
“A família da vítima clamava por Justiça desde o início do caso, em que a autoridade policial de plantão poderia ter dado voz de prisão em flagrante ao policial militar que executou o jovem sem oportunidade de defesa e não o fez. Agora, com o encerramento das investigações pelo DHPP e apresentação do relatório final pelo delegado, requerendo a prisão preventiva do policial militar responsável pela execução, a família enxerga a luz no fim do túnel”, disse para a reportagem o advogado Roberto Guastelli.
O advogado espera que o Ministério Público ratifique o pedido e Justiça decrete a prisão do policial.
O pai do estudante, o médico Julio Cesar Acosta Navarro disse ter se emocionado ao saber do pedido da prisão. Ele contou que esteve com delegados na tarde desta segunda-feira (6) e soube por eles do andamento da investigação e a entrega do relatório final.
Aborrecido pela falta de respostas na investigação, Navarro escreveu em dezembro uma carta para o presidente Lula (PT).
No texto, Navarro fez críticas ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública do estado, além de expor seu sentimento desde a morte do filho.
“Angustia, humilhação e raiva é o que me resta agora”, escreveu Navarro, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). “Hoje não tenho vida nem essência, nada, um fantasma vale mais. Ele tem alma, e eu não mais”, segue.
Segundo ele, membros da Polícia Militar e do governo não estavam empenhados em culpar os responsáveis pela morte do filho, mas em espalhar mentiras sobre o caso.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress