RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil apura se o jogo do bicho está por trás do esquema de adulteração de máquinas de bichinhos de pelúcia no Rio de Janeiro. De acordo com a investigação, os aparelhos são programados para não dar chance ao usuário de conseguir capturar o boneco de pelúcia.
Uma operação nesta quarta-feira (28) cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços de alvos investigados na fraude no Rio, na Baixada Fluminense e em Santa Catarina. Ninguém foi preso.
Um dos suspeitos, que não teve o nome identificado, teria sido investigado pela prática de jogo de azar vinculado a máquinas caça-níqueis. Isso levantou a suspeita da participação de organizações criminosas como contravenção de jogo do bicho ou até milícias no esquema, como afirmou o delegado Pedro Brasil.
“Um dos investigados já respondeu criminalmente pela exploração de jogo de azar com uso de máquinas caça-níqueis. Por conta dessa informação, a gente desconfia que pode ter vínculo com o jogo do bicho ou de outra organização, como milícia. É tudo ainda muito preliminar, mas é nessa linha que seguimos”, disse o delegado.
As investigações começaram após a denúncia de que as empresas Black Entertainment e London Adventure, que, segundo a polícia, controlam o mercado deste tipo de entretenimento, utilizavam bonecos falsificados de personagens de marcas registradas em máquinas localizadas em diversos shoppings da região metropolitana do Rio.
De acordo com o delegado Pedro Brasil, não há indícios que indique a participação no esquema criminoso dos shoppings que recebiam os equipamentos.
Máquinas das duas empresas passaram por uma perícia no último mês de junho, que constatou que o sistema era adulterado, segundo a Polícia Civil. O laudo indicou que os aparelhos eram programados com um contador de jogadas capaz de interferir na corrente elétrica ligada à garra da máquina.
De acordo com os peritos, a peça recebe a energia necessária para capturar os bichinhos somente após um número específico de jogadas. Sem força suficiente no aparelho, os clientes acabariam perdendo a jogada na maioria das vezes. Assim, o jogador dependeria muito mais da sorte do que da habilidade para ganhar o jogo.
“Torna-se evidente que se trata de um processo fraudulento para enganar os consumidores, que acreditam que a obtenção do ganho depende da sua habilidade ao operar a grua, mas, segundo a perícia, depende exclusiva ou principalmente da sorte”, afirmou a corporação.
As máquinas examinadas foram apreendidas, em maio, na primeira fase da operação ‘Mãos Leves’. Na segunda fase deflagrada nesta quarta, a polícia apreendeu R$ 230 mil e US$ 60 mil em dinheiro, além de três armas e munição, segundo informou o delegado Pedro Brasil.
A Black Entertainment disse que a empresa está tomando conhecimento da investigação e que irá se manifestar em momento oportuno. Disse ainda que não compactua com qualquer prática ilícita e que continuará a tomar medidas necessárias para garantir a proteção da marca e dos clientes.
A reportagem não localizou a defesa da London Adventure.
Os investigados podem responder por crimes contra a economia popular, contra o consumidor, contra a propriedade imaterial e associação criminosa, além da contravenção de jogo de azar. A hipótese de lavagem de dinheiro ainda está sendo apurada.
ALÉXIA SOUSA / Folhapress