RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Rio Grande do Sul deve chegar ao ano de 2070 com uma população 18,9% menor do que a estimada em 2024, o maior recuo do país. Outros dois estados tendem a perder mais de 15% do número de habitantes na mesma base de comparação: Alagoas (-17%) e Rio de Janeiro (-15,8%).
É o que indicam as projeções populacionais divulgadas em agosto pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e analisadas pela Folha de S.Paulo. O horizonte das estimativas vai até 2070 e sinaliza fortes mudanças no perfil demográfico do Brasil, incluindo redução da fecundidade e maior envelhecimento.
A população do país, diz o IBGE, deve passar de 212,6 milhões em 2024 para 199,2 milhões em 2070, o que significa uma redução de 6,3%.
Em termos absolutos, a queda prevista é de 13,4 milhões de pessoas. Esse contingente é maior do que a população projetada para a cidade de São Paulo neste ano (11,9 milhões).
A demógrafa Izabel Marri, do IBGE, afirma que as previsões gaúcha e fluminense refletem a estrutura mais envelhecida dos dois estados. Com isso, o total de óbitos tende a ser relativamente maior.
“Esses dois estados [RS e RJ] também são os primeiros a observar um declínio da população de mulheres em idade reprodutiva, o que leva a acentuar os efeitos da queda da fecundidade no total de nascimentos”, diz a técnica, em nota enviada pelo instituto.
Segundo a pesquisadora, espera-se que a redução do número de nascimentos, de 2024 a 2070, seja “expressiva” no Rio de Janeiro (-38,4%) e no Rio Grande do Sul (-46,6%).
Ainda de acordo com Marri, o caso de Alagoas é explicado principalmente pela migração interna -ou seja, para outras regiões do país. A baixa prevista para os nascimentos (-55,7%) também terá um “peso importante” na dinâmica local, aponta a demógrafa.
A população alagoana deve diminuir de 3,2 milhões em 2024 para 2,7 milhões em 2070. No Rio Grande do Sul, o número de habitantes tende a recuar de 11,2 milhões para 9,1 milhões em igual período. Para o Rio de Janeiro, o IBGE prevê baixa de 17,2 milhões em 2024 para 14,5 milhões em 2070.
“O Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro são estados com fecundidade menor, e o Rio é bastante concentrado na região metropolitana”, diz o doutor em demografia José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador aposentado do IBGE.
São Paulo está entre as 20 unidades da Federação que devem encolher. O estado tende a passar de quase 46 milhões de habitantes em 2024 para 40,7 milhões em 2070, uma redução de 11,5%. A estimativa do IBGE indica 5,3 milhões de pessoas a menos.
RR DEVE REGISTRAR POPULAÇÃO 49,9% MAIOR, MT E SC VÊM EM SEGUIDA
Sete estados, por outro lado, devem chegar a 2070 com população maior do que em 2024. Roraima tende a apresentar o maior crescimento relativo: 49,9%. Mato Grosso (37,3%) e Santa Catarina (29,6%) vêm na sequência.
De acordo com Marri, os altos índices de crescimento são influenciados pela migração. Em Roraima, há impacto da dinâmica internacional. O estado da região Norte, que atualmente tem a menor população do país, virou destino de venezuelanos nos últimos anos.
Enquanto isso, a migração interna tende a estimular o crescimento populacional de Mato Grosso e Santa Catarina, indica a demógrafa do IBGE.
Alves tem avaliação semelhante. Segundo ele, o desempenho do agronegócio tende a levar moradores para o Centro-Oeste, o que ajuda a explicar a estimativa de Mato Grosso.
No caso de Santa Catarina, há o efeito de uma economia mais diversificada, com presença de setores como indústria e turismo, além da agropecuária, aponta o demógrafo.
“Em Roraima, o principal impacto é o da migração de venezuelanos […]. Se vierem 100 mil para São Paulo, você pode nem perceber direito. Eles quase somem, porque tem mais de 40 milhões [de habitantes], mas, em Roraima, pesam.”
Alves também chama atenção para o horizonte do Sul. Se a projeção do IBGE se confirmar, Santa Catarina chegará a 2070 com a segunda maior população da região (10,4 milhões), ultrapassando o Rio Grande do Sul (9,1 milhões).
O Paraná, estado mais populoso do Sul, deve chegar a 2070 com quase 11,5 milhões de habitantes. O contingente é 3% menor do que o deste ano (11,8 milhões).
Ao divulgar as projeções em agosto, o IBGE indicou que a população brasileira deve começar a diminuir em 2042. O órgão espera que o número de habitantes cresça até o pico de 220,43 milhões em 2041 e, depois, passe a encolher.
Os primeiros estados com redução populacional devem ser Alagoas e Rio Grande do Sul. Nesses locais, o instituto diz que o número de habitantes tende a encolher já a partir de 2027.
Em Roraima e Santa Catarina, o processo de redução só deve começar em 2064. Assim, ambos caminham para chegar a 2070 com mais moradores do que em 2024.
Até 2070, Mato Grosso será a única unidade da Federação sem baixa anual no número de habitantes, projeta o IBGE.
IMPACTOS DA MUDANÇA DEMOGRÁFICA
O envelhecimento e a redução da população trazem uma série de consequências para o país.
Por um lado, a dinâmica demográfica tende a pressionar as despesas com Previdência. Também deve desafiar o crescimento da economia ao possivelmente diminuir a força de trabalho.
Uma das saídas, dizem analistas, passaria pelo aumento da produtividade da mão de obra. Esse é um gargalo histórico no Brasil.
Por outro lado, mais tempo de vida sinaliza uma evolução nos tratamentos de saúde e bem-estar, o que é comemorado.
Além disso, ter menos filhos é visto por analistas como possível estímulo para a entrada de mais mulheres no mercado de trabalho. A população feminina historicamente lida com sobrecarga de tarefas domésticas.
LEONARDO VIECELI / Folhapress