População indígena cresce no Norte, mas envelhece ao redor das cidades

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A população indígena está em crescimento no Brasil, mas isso de maneira desigual nas diferentes regiões do país.

Os mais jovens concentram-se nas terras indígenas mais isoladas, enquanto nas áreas próximas aos centros urbanos essas comunidades são mais velhas, com menores taxas de natalidade.

É o que mostram os novos dados do Censo 2022, divulgados nesta sexta-feira (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Uma drástica diferença regional é visível no desenho das pirâmides etárias de cada região brasileira para a população indígena.

O Norte do país é muito mais jovem, com a base da pirâmide mais larga, e a situação é inversa no Sudeste. Uma região tem mais da metade de sua população indígena abaixo dos 21 anos, enquanto a outra tem proporções maiores a partir dos 30.

Centro-Oeste, Sul e Nordeste, em sequência, têm as maiores proporções de jovens depois da região Norte. Todas têm as bases das pirâmides etárias visivelmente mais estreitas.

O fenômeno coincide com a urbanização do país. Os estados do Sudeste, onda há os maiores índices de envelhecimento da população indígena, têm também o maior percentual de povos originários morando fora de suas terras: 82% estão nessa condição, seguido do Nordeste com 75%.

Já na região Norte, são 58% vivendo fora das terras indígenas reconhecidas. Para essa divisão, foram levados em conta todos os territórios com situação fundiária declarada, homologada, regularizada e encaminhada como reserva indígena até 31 de julho de 2022.

Viver dentro ou fora desses territórios influencia a fecundidade e as perspectivas de envelhecimento, mostram os dados do censo. A pirâmide etária dos indígenas que vivem fora dos territórios tradicionais é semelhante àquela do restante da população: base mais estreita e porções maiores nos andares “mais velhos”.

Essas diferenças regionais são menos drásticas entre os quilombolas. Nesse caso, embora a região Norte também tenha a maior proporção de jovens, as bases das pirâmides etárias são mais parecidas entre si.

“Os indígenas que residem dentro das terras indígenas têm uma estrutura etária mais jovem e uma redução do peso da população idosa indígena quando comparado com a população indígena como um todo no País”, diz a publicação do IBGE sobre os novos dados.

Isso faz com que o crescimento populacional dos indígenas —que hoje são quase 1,7 milhão de pessoas, ou 0,83% da população brasileira— seja puxado principalmente pela região Norte. É a única parte do país onde a base da pirâmide etária é consideravelmente mais larga, com estreitamento progressivo ao longo dos grupos de idade, demonstrando que há sempre um número maior de pessoas mais jovens.

Entre 2010 e 2022, as terras indígenas que tiveram os dez maiores crescimentos da população até 17 anos, em termos absolutos, estão todas no Norte do país. O território com o maior crescimento foi a Raposa Serra do Sol, que em 12 anos ganhou 4.815 crianças e adolescentes. A mesma terra indígena teve também o maior crescimento absoluto da população com mais de 60 anos.

Nas outras regiões, os dados apontam para uma queda de fecundidade dos indígenas, embora o crescimento populacional continue ocorrendo.

“É uma população que mesmo dentro das terras está num processo inicial de diminuição da base da pirâmide”, disse a responsável pelo Projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes, que fala numa redução gradual da fecundidade, mesmo dentro das terras indígenas. “Ainda é uma pirâmide triangular que mostra crescimento, uma população ainda jovem, embora na comparação ela esteja um pouco menos jovem nessa última década.”

METADE DA POPULAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS TEM 19 ANOS OU MENOS

Esses dados se refletem em cada estado na idade mediana, medida que separa a metade mais jovem de uma população da metade mais velha. Os indígenas em geral têm uma idade mediana de 25 anos —ou seja, 50% da população tem até essa idade. Assim, eles estão 10 anos abaixo da idade mediana brasileira, que é de 35.

Aqueles que moram dentro das terras indígenas têm idade mediana de 19 anos, ou seja, 16 anos abaixo da população brasileira.

O Acre é o estado brasileiro com a menor idade mediana da sua população indígena: metade tem até 17 anos. Em seguida estão Roraima e Mato Grosso, com idade mediana de 18 anos.

Enquanto metade da população indígena da região Norte tem até 21 anos, essa mesma medida é de 37 anos no Sudeste. O Rio de Janeiro, com idade mediana de 42 anos, tem a população indígena mais velha do Brasil.

A maior diferença entre a população geral e os indígenas ocorre em Mato Grosso do Sul. No estado, metade dos moradores têm até 32 anos de idade, mas a idade mediana da população indígena é de 18 anos —uma diferença de 14 anos.

Segundo o pesquisador Fernando Damasco, do IBGE, as diferenças de idade entre as regiões pode se explicar pela “dinâmica de saída da população indígena em busca de melhores condições”.

Mas há uma série de fenômenos que devem ser melhor compreendidos com mais pesquisa a partir dos dados do censo. Um exemplo é o próprio Mato Grosso do Sul onde, segundo Damasco, há uma diferenciação dos níveis de natalidade e do envelhecimento entre os próprios indígenas, de acordo com os grupos étnicos.

“A gente consegue verificar que terras indígenas que têm, majoritariamente, por exemplo, população guarani-kaiowá, temos índices de envelhecimento mais baixos. Em terras indígenas com maior proporção de terena e outros grupos —kadiwéu, por exemplo— temos índices de envelhecimento mais altos”, ele diz.

TULIO KRUSE / Folhapress

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