DUBAI, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (FOLHAPRESS) – O Brasil recebeu na tarde desta segunda (4), em Dubai, o antiprêmio Fóssil do Dia por causa do anúncio de sua entrada no cartel do petróleo Opep+. O prêmio é distribuído pela ONG Climate Action Network (CAN) para o país que anunciou a pior medida em relação à luta contra a crise climática nos dias anteriores da conferência do clima.
“O Brasil é o vencedor do dia por aparentemente confundir produção de petróleo com liderança ambiental”, afirmou a CAN no anúncio oficial e repleto de ironias, realizado na entrada do Expo City Dubai, onde acontece a COP28, nos Emirados Árabes Unidos.
Citando o ministro de Minas e Energia, o texto diz que “Alexandre Silveira considerou estranhamente apropriado anunciar a entrada do Brasil na Opep+ no primeiro dia da conferência do clima”. Em seguida, acrescenta que o pensamento do ministro brasileiro segue uma “lógica distorcida”.
O prêmio foi recebido por Paulo Galvão, um membro da Engajamundo, ONG jovem que faz parte da rede mundial da CAN. A entrega, feito pelo ativista Kevin Buckland, vestido de esqueleto, contou a participação de outro membro, que dançava e vaiava vestido como o fóssil de um dinossauro.
A taça traz o crânio de um tiranossauro em metal e o logotipo do prêmio gozador é inspirado no do filme “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros” (1993), de Steven Spielberg.
O Fóssil do Dia existe desde 1999 e atualmente é entregue diariamente durante as COPs. Nesta segunda-feira, cerca de 200 membros votaram pelo pior país e cerca de 60 desses escolheram o Brasil como “vencedor”.
Antes, a África do Sul recebeu a menção honrosa do dia, devido à “recente decisão de expandir operações em minas de carvão, violando seus compromissos de reduzir emissões de gases”.
“Brasil, nós não queremos fazer um tour em campos de petróleo quando estivermos em Belém em 2025 [na COP30]. E, se vocês querem se juntar a um clube, talvez nós possamos sugerir que sigam o exemplo de sua vizinha Colômbia, assinando o tratado de não proliferação de combustíveis fósseis, em vez da Opep+”, finalizou o texto da CAN.
Diversas organizações repercutiram o antiprêmio. Claudio Angelo, coordenador de política climática do Observatório do Clima, disse que “ao reduzir o desmatamento em 22% em apenas 11 meses no cargo, o presidente Lula deu uma das contribuições mais significativas para mitigar o aquecimento global em 2023. Porém, com um grande poder vem uma grande responsabilidade. Não se pode liderar o Sul Global contra a crise climática investindo no produto que a provoca.”
“O Greenpeace Brasil considera inaceitável que o mesmo país que diz defender a meta de limitar o aquecimento global em 1.5 graus, agora queira se alinhar ao grupo dos maiores produtores de petróleo do mundo”, falou Leandro Ramos, diretor de programas do Greenpeace Brasil.
Para Alexandre Prado, de mudanças climáticas do WWF-Brasil, “a premiação deixa claro que a imagem do Brasil não está tão boa como esperado e é um sinal de alerta para todo o mundo sobre o real comprometimento do país que sediará a COP30, quando todos os países deverão apresentar novos compromissos de corte nas emissões. O mundo todo olhava para o Brasil com esperança de ter um novo líder climático e a turnê petroleira que o governo fez a caminho de Dubai foi um duro golpe nessa esperança”.
“O Brasil veio à COP28 para recuperar sua credibilidade e se posicionar como liderança climática global. Nossos negociadores estão defendendo com unhas e dentes o objetivo de limitar a temperatura em 1.5 grau. Mas queimaram nosso filme com o combo de leilões de mais de 600 blocos de petróleo, a entrada na Opep+ e potencial anulação dos resultados de mitigação de florestas pela exploração fóssil”, afirmou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
IVAN FINOTTI / Folhapress