Por que Amaury Jr. vai parar de beber champanhe e ir a festas em seu novo programa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na opinião de Amaury Jr., sujeito bom é aquele que bebe. Que se lubrifica, para usar suas palavras. Afinal, diz o apresentador, uma dose a mais deixa qualquer um mais simpático. Prova disso é que grandes malfeitores foram abstêmios, ele argumenta, citando nomes como Hitler, Mussolini e Idi Amin Dada.

Um dos jornalistas mais populares da televisão brasileira, Amaury Jr. ficou marcado por gravar reportagens cheias de glamour. Ao longo das últimas décadas, ele viajou para dezenas de países e bateu ponto em centenas de festanças privadas de celebridades e de gente da elite –quase sempre com uma tacinha na mão.

Só que agora, aos 73 anos, Amaury não vai mais beber champanhe com os poderosos. Pelo menos não em frente às câmeras.

É que a TV Cultura abomina bebida alcoólica, ele diz, sem fazer cerimônia, ao receber a reportagem no seu estúdio em São Paulo. É nesta emissora que ele vai apresentar seu novo programa, intitulado Amaury Jr., após um vai-e-vem entre Record TV, Band e RedeTV!.

Cansado do formato que o consagrou na TV aberta, Amaury decidiu que não vai mais gravar em evento de gente rica.

“Não existem mais festas. Nem sei onde as pessoas estão indo. Saem de casa, vão trabalhar, e voltam para assistir televisão”, diz ele, dando risada, quando questionado se o público vai sentir falta do Amaury de antes. “Já entrevistei quem estava disponível. Me cansou. Virei arroz de festa.”

Seu novo programa, mais sóbrio, é dividido em dois blocos. No primeiro, Amaury exibe uma reportagem sobre temas variados. O primeiro episódio explora o universo das flores.

No segundo pedaço, o apresentador mistura atrações do universo da moda, da gastronomia e da música, e ainda resgata grandes momentos da sua carreira ao exibir trechos de entrevistas antigas.

Seu acervo é imenso. Amaury já ficou tête-à-tête com personalidades como o músico Tony Bennett, morto em julho, a cantora americana Céline Dion e até o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, quando ele ainda trabalhava com cassinos. Isso sem mencionar as incontáveis conversas com celebridades brasileiras.

“Tem uma entrevista em que eu e Sônia Braga aparecemos fumando no ar. Era a coisa mais natural do mundo. Um jogava a fumaça na cara do outro e a entrevista rodava”, ele relembra.

Havia glamour no seu trabalho, Amaury admite. “É difícil traduzir para vocês como era. [Nos eventos, havia] Grupos de pessoas importantes, contados nos dedos de uma só mão, e eu também conseguia entrar. Esse foi o meu mérito. Consegui botar a minha câmera dentro do The Gallery”, diz ele, fazendo referência a uma das casas de shows mais importantes de São Paulo na década de 1980.

“Hoje, se eu tocar minha câmera dentro de um acontecimento”, segue ele, “vão ter outras cem câmeras na porta, com pessoas protestando, me xingando e achando que sou privilegiado.”

Verdade seja dita, há uma porção de privilégios em ser Amaury Jr. Ainda que estivesse trabalhando, o jornalista já viajou por boa parte do mundo, muitas vezes de graça, a convite de empresas e marcas. Ele tem seis passaportes de viagem preenchidos.

Uma das andanças pelo exterior mais memoráveis, ele conta, foi a que fez em Dubai em 2007. Enquanto gravava um programa, com a roupa empapada de suor, Amaury tirou a camisa na rua para trocar por outra. Ele imediatamente foi abordado pela polícia e quase foi preso, relembra, dando risada.

A experiência virou o livro “Dubai por Amaury Jr.”, em que ele dá mais de 200 dicas de o que fazer –e não fazer–, no país.

Essa é uma faceta do trabalho que ele pretende manter no novo programa da TV Cultura. Num dos capítulos, por exemplo, ele vai exibir um roteiro de passeio por pontos pouco conhecidos de Orlando.

“O público se acostumou a me ver trazendo coisas boas”, afirma, ao refletir sobre a condução da sua carreira. “Mas agora as pessoas estão gostando de fofoca escandalosa. Quanto mais escandaloso o caso, mais Ibope. Eu evitei muitas polêmicas. Acho negativo para o jornalista”, diz ele.

Para ele, o repórter que hoje cobre a vida das celebridades sai perdendo pela quantidade de influenciadores que ganharam o status de estrela. Amaury os detesta.

“É uma porcaria, um equívoco. Hoje qualquer menina vira influenciadora. E ela não é nomeada, mas se autointitula influenciadora. Influencia o quê? O gato a fazer xixi no lugar certo? Até existem influenciadores de verdade. Mas a manada que entrou é desconcertante”, afirma.

Apesar disso, Amaury gosta de usar as redes sociais. Quer investir mais em seu canal do YouTube, que tem quase 500 mil seguidores, ele diz pomposo, mas ainda não conseguiu se entender bem com o TikTok. No Instagram, posta quase diariamente.

Amaury levanta cedo, se exercita, vai para o estúdio e começa a trabalhar. À noite, tentar estar com amigos em casa. Diz que só enfrenta um problema –o cigarro. Afirma estar travando uma batalha mortal para se livrar do vício.

Tem operado bem também sua saúde mental, ainda que tenha tido episódios de ansiedade e depressão. “Tive ansiedade recentemente. Mas estou medicado. Ninguém sabe o que passa uma pessoa que tenha tido depressão. Eu tive, fiquei um ano quase parado. Ia gravar nos eventos, armava o sorriso no automático, rezava para acabar logo, voltar para casa e ficar na cama”, relembra.

Amaury Jr. vai aproveitar que não pode beber na tela da TV Cultura para desacelerar. “Estou abandonando aquela coisa compulsiva de beber para ficar eufórico. Mas bebo casualmente. Se não pode beber, não pode fumar, e tem que fazer exercício, vai viver para quê?”

AMAURY JR.

Quando: Toda sexta-feira, às 23h30

Onde: TV Cultura

GUILHERME LUIS / Folhapress

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