Por que o furacão Beryl é tão incomum?

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O furacão Beryl, o primeiro do que promete ser uma temporada extraordinária no Atlântico Norte, já deixou pelo menos dez mortos e danos significativos nas ilhas do Caribe. Nesta quinta-feira (4), a tormenta se aproxima do México já com menos força, como um furacão de categoria 3.

Este é o primeiro furacão a alcançar a categoria 4 em junho e o primeiro a atingir a categoria 5 em julho desde o início dos registros do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos.

Apesar de ter surpreendido ao quebrar recordes, o fenômeno também se revela como o exemplo perfeito do que os especialistas preveem como resultado da mudança climática.

Beryl formou-se na sexta-feira (28) no sudeste das Antilhas e no sábado (29) já se tornou um furacão de categoria 1.

Segundo Andra Garner, climatologista da Universidade Rowan, o seu surgimento aconteceu muito mais a leste do Atlântico do que é habitual nesta época do ano. Isso porque essa zona do oceano não costuma ser suficientemente quente nesta época do ano para permitir a formação de uma tempestade deste tipo.

“Nunca se formou um furacão tão a leste, tão cedo no ano”, afirma em seu blog Brian McNoldy, pesquisador de furacões da Universidade de Miami.

Ele também ganhou força muito rapidamente —em menos de um dia, subiu para a categoria 4. “É difícil expressar em palavras o quão impressionante isso é”, diz McNoldy.

Mas embora seja “surpreendente ver este fenômeno diante dos nossos olhos”, também está “alinhado com o que a ciência nos diz que podemos esperar de um mundo mais quente”, diz Garner, que publicou um estudo sobre este fenômeno de intensificação.

“Nos últimos 50 anos, descobrimos que os furacões têm agora duas vezes mais probabilidade de passar de uma tempestade relativamente fraca —categoria 1 ou inferior— para um grande furacão, categoria 3 ou superior, no espaço de 24 horas”, explica. “Foi isso que Beryl fez.”

Beryl foi para a categoria 4 no domingo (30), último dia de junho. Nunca antes um furacão desta categoria havia sido registrado nesse mês. Na segunda-feira (1º), atingiu a categoria 5, a mais elevada, quebrando outro recorde para a época do ano.

No Atlântico Norte, a temporada de furacões vai do início de junho ao final de novembro. Mas de acordo com a Noaa (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA), os primeiros grandes furacões (categoria 3 ou mais) geralmente começam a se formar no final de agosto ou início de setembro.

A maior razão para Beryl ser tão excepcional é a temperatura das águas do oceano Atlântico, que está em níveis recordes e muito acima da média há mais de um ano.

As águas do Atlântico Norte, bem como as do Caribe e do Golfo do México, estão atualmente entre 1°C e 3°C acima do normal, segundo a Noaa. As temperaturas de maio já se aproximavam das esperadas para agosto, quando o verão no hemisfério Norte eleva os termômetros.

Assim, ainda que o furacão Beryl não tenha precedentes, não é inesperado do ponto de vista científico, ressalta Garner.

“Sabemos que quando aquecemos o planeta e os oceanos, tornamos mais provável este tipo de eventos”, afirma, se referindo às emissões humanas de gases de efeito estufa, causadoras do aquecimento global. “Beryl é quase exatamente o que esperamos do ponto de vista climatológico.”

Redação / Folhapress

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