SAINT-DENIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Uma prata de manhã, um ouro à noite. Esse foi o saldo da brasileira Beth Gomes nesta segunda (2) nos Jogos Paralímpicos de Paris, em provas para competidores sentados.
Pela manhã, ela ficou em segundo lugar no arremesso do peso, na categoria F54, com 7,82 m. À noite, venceu o lançamento de disco na categoria F53, com 17,37 m na quinta de seis tentativas, novo recorde paralímpico.
O resultado da brasileira no arremesso do peso, mesmo insuficiente para o ouro, estabeleceu o novo recorde mundial da classe F53 (a marca anterior, 7,75 m, também era de Beth). Ela era a única finalista F53, contra sete arremessadoras da classe F54, cujo comprometimento dos movimentos é um pouco menor. O ouro ficou com a mexicana Gloria Zarza, com 8,06 m.
A paulista de 59 anos recebeu sua medalha de prata no pódio enquanto a prova da noite ainda estava em andamento -ela foi autorizada a lançar antes das adversárias para participar da cerimônia de premiação.
Beth cortou um dedo ao badalar o sino cerimonial reservado aos campeões do Stade de France. “Meu sangue vai ficar em Notre-Dame”, brincou, em referência ao fato de que o sino será instalado na catedral de Paris após os Jogos Paralímpicos.
Natural de Santos, ela foi ouro no disco nos Jogos de Tóquio, há três anos.
A atleta teve diagnóstico de esclerose múltipla em 1993, quando era jogadora de vôlei. Foi porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos, ao lado do nadador Gabriel Araújo, o Gabrielzinho.
Ela explicou que a esclerose múltipla provoca um cansaço maior e que precisou descansar bastante entre uma prova e outra para atingir um bom resultado.
O ouro de Beth foi o segundo do Brasil no dia do atletismo. De manhã, Claudiney Batista dos Santos conquistou o tricampeonato paralímpico no lançamento de disco, categoria F56, com 46,86 m, novo recorde da competição.
Foi um dia de conquistas para o país no Stade de France. Além do ouro de Claudiney e do ouro e da prata de Beth, o Brasil ganhou uma medalha de prata -Aser Ramos, no salto em distância T36 (paralisia cerebral)- e uma de bronze -Vinícius Rodrigues, nos 100 ms rasos T63 (amputados de membro inferior com prótese).
O gaúcho Ramos dedicou sua medalha às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Sua família, em Porto Alegre, está abrigando outras famílias atingidas pela tragédia.
O paranaense Rodrigues disse que queria o ouro para tocar o sino cerimonial dos campeões. Disse que tinha até planejado um ritmo especial de badaladas, para o público acompanhar batendo palmas.
Duas brasileiras se classificaram para a final dos 100 m rasos, classe T11 (deficiência visual), prevista para esta terça (3). Jerusa Geber dos Santos quebrou o próprio recorde mundial em sua semifinal, baixando a marca de 11s83 para 11s80. Lorena Spoladore fez o terceiro melhor tempo geral, com 12s07.
Destaque de Paralimpíadas passadas, Alan Fonteles ficou apenas em oitavo lugar na final dos 100 m classe T64 (amputados dos membros inferiores com prótese). O paraense ficou mundialmente famoso em Londres-2012, ao conquistar o ouro nos 200 m, derrotando o sul-africano Oscar Pistorius, então a maior estrela do paradesporto.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress