Post usa imagem de médico criada por inteligência artificial para viralizar receita de clareador dental

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um vídeo no TikTok, o “doutor Tomás”, de jaleco branco e estetoscópio nos ombros, anuncia: “Finalmente encontrei a melhor receita para branquear os dentes em casa em um minuto”. O post sobre uma pasta que mistura raspas de casca de banana, suco de limão, sal e creme dental fez sucesso: foi visualizado mais de 1,8 milhão de vezes. Nos comentários, era possível ver que muitas pessoas acreditaram na dica, mas tudo ali era mentira.

Dentistas entrevistados pela Folha de S.Paulo afirmaram que receitas de clareamento dental caseiro costumam não só não ter eficácia como ser perigosas, como esta do post verificado aqui.

“O limão, por ser ácido, pode corroer o esmalte dos dentes a longo prazo. E isso gera sensibilidade ou danos irreversíveis”, afirmou a cirurgiã-dentista Larêssa Santiago, especialista em clareamento dental.

O professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Jaime Cury, integrante da AcBO (Academia Brasileira de Odontologia) classificou o vídeo como absurdo. “O caso de tártaro mostrado no post jamais será removido daquela forma”, disse.

Como destaca o cirurgião-dentista Arthur Lima, fundador da AfroSaúde, plataforma digital que liga profissionais de saúde negros a pacientes, tratamentos de saúde bucal devem ser realizados em consultórios, sob orientação. Ele reconhece, porém, que grande parte da população não pode pagar por eles, mas diz que as redes sociais não deveriam permitir a publicação de conteúdos como este. “As pessoas estão escrevendo nos comentários que irão testar a receita, é um perigo.”

O TikTok não evitou a publicação do vídeo, mas ele foi retirado do ar -depois de, como informado acima, ter sido visualizado mais de 1,8 milhão de vezes. O canal do tal “doutor Tomas”, que trazia outros conteúdos ligados à saúde -todos com a mesma imagem do homem de jaleco-, também não está mais disponível. Mas o problema não para por aí. Além de a receita poder trazer danos à saúde, quem falava no vídeo não era um médico. O conteúdo foi gerado com o uso de inteligência artificial.

O pesquisador forense Mario Gazziro, da UFABC (Universidade Federal do ABC paulista), fez algumas observações que podem ajudar qualquer pessoa a perceber se está diante de um conteúdo enganoso.

Um exemplo: o vídeo é narrado em português do Brasil, mas a pronúncia de algumas palavras mostra que a voz foi sintetizada. “A voz reproduz cada fonema separadamente. Ele diz ‘en-xa-gu-e’, ao invés de ‘en-xa-gue’. Esta é uma palavra simples e de conhecimento popular, ou seja, apenas um sistema de síntese erra nessa pronúncia”, explica Gazziro.

Outra dica é reparar na iluminação. “Nesse caso, ela está muito uniforme e carece de reflexos de luzes ambientes próximas, o que já é um grande indicador de deepkfake (conteúdos criados com o uso de inteligência artificial).”

A reportagem tentou contato com o perfil que publicou o conteúdo, mas não houve resposta até o perfil ser retirado do ar.

Redação / Folhapress

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