Postagem anti-Israel provoca demissão de presidente da EBC do governo Lula

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Hélio Doyle, foi demitido nesta quarta-feira (18) após compartilhar em redes sociais publicações críticas a apoiadores de Israel.

O Palácio do Planalto avaliou que a permanência de Doyle se tornou insustentável por causa das suas postagens, em meio ao conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

A demissão foi confirmada nos bastidores por assessores palacianos. No entanto, o governo federal articulou uma saída para que o próprio Doyle anunciasse que ele pediu para deixar o cargo.

Um dos cotados para assumir o cargo é o secretário-executivo da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Ricardo Zamora.

“O ministro Paulo Pimenta [da Secretaria de Comunicação Social] me manifestou hoje seu descontentamento por eu ter repostado, no X, postagem de terceiro acerca do conflito no Oriente Médio. Disse-me que a referida repostagem e sua repercussão na imprensa criaram constrangimentos ao governo, que mantém posição de neutralidade no conflito, em busca da paz e da proteção aos cidadãos brasileiros”, escreveu o próprio Doyle, em sua rede social.

“Diante disso, pedi desculpas e comuniquei que deixo a presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), agradecendo ao ministro Pimenta e ao presidente Lula pela confiança em mim depositada por todos esses meses”, completou.

A demissão acontece horas após Doyle usar sua rede social para repostar publicação em que chama os apoiadores de Israel de “idiota”.

“Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”, diz a postagem.

Essa não foi a única. O ex-presidente da EBC publicou em suas redes sociais uma série de críticas a Israel ao longo dos últimos dias, sejam por postagens próprias ou republicando terceiros.

Em uma de sua autoria, ele critica veículos de mídia por sua cobertura no conflito.

“Para validar a mentira de Israel, tem emissora pró-EUA contando o que é a Jihad Islâmica. E frisando sua aliança com o Irã…chamam de ‘guerra de versões”, escreveu. “Eu juro que ouvi agora um comentarista de TV dizer que não se sabe quem atacou o hospital em Gaza”, afirmou em outra postagem.

As publicações de Doyle acontecem em um momento em que a oposição busca desgastar o governo, explorando a sua posição e a do PT em defesa do povo palestino. Bolsonaristas buscam explorar a resistência do governo em considerar o Hamas um grupo terrorista, buscando associar o partido do presidente Lula ao grupo.

O Brasil não considera o Hamas uma organização terrorista, pois tem uma posição histórica de seguir a classificação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Na terça (17), o PT elevou o tom numa troca de críticas públicas com a Embaixada de Israel em Brasília e ampliou a pressão sobre o governo no embate político sobre a guerra contra o Hamas.

As declarações do partido —que disse que o representante de Israel no país “não tem autoridade moral para falar em direitos humanos”— levou aliados de Lula a tentar nos bastidores descolar o governo da troca de acusações.

Na segunda-feira (16), o PT divulgou uma resolução sobre o conflito entre Israel e Hamas dizendo que rechaça “todo e qualquer ato de violência contra civis, venham de onde vierem”.

“Por isso, condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra”.

A acusação de que Israel comete crimes de guerra e genocídio provocou uma resposta da missão diplomática. Numa rede social, a embaixada comandada por Daniel Zonshine falou em “extrema falta de compreensão da atual situação”.

Por outro lado, o governo Lula vem tomando um cuidado em suas notas e posições, em uma tentativa de aparente neutralidade, para conseguir seguir negociando com os dois lados. O próprio ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou durante em audiência no Senado, nesta quarta-feira, que foi essa posição brasileira que permitiu negociar a repatriação dos cidadãos nacionais.

“A nossa preocupação não foi em tomar uma posição política, porque inclusive o Brasil se dá e se dá bem com os dois lados, com Israel e Palestina. E graças a isso, inclusive, conseguimos ter diálogo com os dois lados, diálogo muito fluente, muito fluido, para conseguir retirar os brasileiros”, afirmou.

RENATO MACHADO E MATHEUS TEIXEIRA / Folhapress

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