SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Opção do partido Novo para a Prefeitura de São Paulo, Marina Helena, deputada federal suplente, afirma que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é ausente e não estimula a geração de renda, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) é um risco e defende que o bandido é vítima da sociedade.
A economista, que foi CEO do Instituto Millenium e diretora de Desestatização no ministério de Paulo Guedes, defende armar os agentes de trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e financiar a defesa de médicos que indicarem internação compulsória na cracolândia.
Marina Helena diz à Folha que o Novo “tinha um idealismo muito grande” e “caiu na real” ao considerar o uso de verba pública na campanha. Em 2020, ela foi candidata à vice-prefeita, mas renunciou à chapa depois que Filipe Sabará foi expulso da legenda.
Pesquisa Datafolha de agosto mostra Boulos com 32%, seguido de Nunes, com 24%, Tabata Amaral (PSB), com 11%, e Kim Kataguiri (União Brasil), com 8%. Na época, o ex-deputado Vinicius Poit foi testado como candidato do Novo e obteve 2%.
*Folha -* O que a anima a concorrer à Prefeitura de São Paulo?
*Marina Helena -* Não estou satisfeita com as opções que a gente tem. Temos um prefeito muito ausente. A gente está em uma cidade com muito descaso. Para mim, a maior dor do paulistano é a segurança. Hoje São Paulo gasta 0,8% da receita com segurança e gasta seis vezes mais tapando buraco. Não vejo essa pessoa [Nunes] me representando.
A gente tem um risco, que é o risco do Boulos. Vim para São Paulo em busca de oportunidade, e não vejo que o Boulos é alguém que se preocupa com isso. Acho que o primeiro emprego dele foi agora, como deputado federal. Outro ponto é a questão da segurança. Tem muito essa ideia de que o bandido é vítima da sociedade. Isso está gerando muita impunidade.
*Folha -*Como foi o processo de escolha no Novo para chegar ao seu nome?
*Marina Helena -* Fui pega de surpresa. Eles fizeram várias consultas, e surgiu o meu nome. Eu tinha descoberto que estava grávida e pedi um tempo. Depois que vi que estava tudo bem [com a gravidez], avisei o partido disso e eles continuaram insistindo. Foi algo interessante, nem todo partido agiria dessa maneira.
*Folha -* O campo da direita tem um congestionamento de candidatos, com Ricardo Salles (PL), Kim e Nunes. Como pretende se diferenciar?
*Marina Helena -* Nunes não é de direita. Vejo até o próprio [Jair] Bolsonaro com uma dificuldade muito grande de declarar apoio [a Nunes]. No governo do Nunes, está a Marta [Suplicy]. A prefeitura, os subprefeitos, as secretarias, tudo continua bem loteadinho, como sempre foi. Não vejo ele [agir] pela bandeira da segurança. Ele não tem responsabilidade fiscal, não está favorecendo o empreendedorismo e a vida de quem quer trabalhar.
*Folha -* E em relação ao Salles e ao Kim?
*Marina Helena -* O Salles não anunciou ainda a candidatura. O Kim tem as questões partidárias. Tenho certeza de que o meu nome vai estar nas urnas.
*Folha -* São Paulo é bastante dividida entre esquerda e direita, sendo que a esquerda venceu em 2022. Quer tentar conquistar eleitores de esquerda?
*Marina Helena -* Eu me diferencio com propostas totalmente sensatas, reais, exequíveis. E aí não tem essa de direita e esquerda, os problemas estão aí e as pessoas querem que solucione.
*Folha -* O que pretende fazer em relação à segurança?
*Marina Helena -* Tem que se tornar prioritária. Isso passa por aumentar a operação delegada, ampliar o efetivo da Guarda Civil, investir em inteligência de dados. Esse intercâmbio com o estado tem que existir. A gente vê a CET e a GCM muito focadas em aumentar essa indústria de multas e já é permitido o porte de arma pelo agente de trânsito. É muito importante o treinamento dos agentes de trânsito para que eles possam andar armados.
*Folha -* Mas segurança é algo que depende muito do governo estadual e federal. Colocar esse tema como prioridade não é prometer demais ou enganar o eleitor?
*Marina Helena -* A gente precisa investir nisso, mas não é a única prioridade. Educação é outra bandeira, estou falando do cuidado com a criança. Outra bandeira é estimular o trabalho. O prefeito teve a opção de acelerar isso, com a Lei de Liberdade Econômica, e optou por não fazer. Tanto na saúde como na educação, tem um espaço grande para fazer parcerias públicas e privadas. O Brasil fez isso quando a gente fez o ProUni, que deu bolsa para estudar em escola privada.
*Folha -* Como resolver a cracolândia?
*Marina Helena -* Tolerância zero com o crime organizado. E segundo passo é uma questão que envolve assistência social e a Secretaria de Saúde. Sou favorável à internação compulsória. Sei que não é uma decisão do prefeito, mas a gente precisa conversar com a comunidade médica. Muitos médicos têm receio de levar um processo por autorizar uma internação. A prefeitura pode, por exemplo, pagar advogados para eles.
*Folha -* Como diminuir a distância entre Morumbi e Paraisópolis?
*Marina Helena -* Principalmente com geração de emprego e oportunidade. Muito mais importante que a questão da desigualdade é a questão da pobreza, inaceitável em uma cidade como a nossa. E resolver passa por educação de qualidade, por assistência social. Mas essa assistência tem que estar dada em conjunto com ferramentas que permitam que essa pessoa tenha um trabalho digno.
*Folha -* Por que pobreza é mais importante que desigualdade?
*Marina Helena -* Porque a desigualdade acaba sendo uma consequência inevitável do sistema capitalista. Qualquer tentativa de igualar o seu ponto final, seu ponto de chegada, acabou em miséria. É só ver o que está acontecendo na Venezuela.
*Folha -* A pandemia demonstrou que é importante ter uma rede de proteção social, não?
*Marina Helena -* É fundamental. Mas não existe rede de proteção que não dê o mínimo, que é segurança. Quando a gente fala de rede de proteção social, isso obviamente passa pelo setor público, mas a gente está falando, sim, de segurança, de educação, da privatização de uma Sabesp, que vai levar tratamento de esgoto para as comunidades mais pobres.
*Folha -* Perguntei sobre desigualdade porque os demais candidatos têm relação com a periferia. O que a sra. conhece da periferia?
*Marina Helena -* Conheço bastante, fiz campanha em toda ela. Sei que eu gasto duas horas para chegar em Parelheiros para fazer uma reunião lá, porque eu já fui e voltei algumas vezes. A mesma coisa no Jardim Ângela, a mesma coisa em Perus, a mesma coisa em vários lugares que visitei. E eu morei na periferia do Maranhão. Fugi de casa quando fui abusada e tive uma chance, porque meus pais eram separados. A educação e o trabalho mudaram a minha história.
*Folha -* A sra. tem um programa diferente da esquerda, mas Boulos lidera e o PT venceu na capital em 2022. Por que a esquerda tem tanta adesão?
*Marina Helena -* A gente sempre cai no discurso populista de que a gente precisa apostar em justiça social. O que é justiça social na realidade? É um Estado absolutamente inchado. Você está tirando dinheiro do pobre para sustentar uma elite que toma conta do poder.
*Folha -* A sra. se preocupa com as declarações do governador Zema, que é do Novo, sobre o Nordeste, já que São Paulo tem um eleitorado grande do Nordeste?
*Marina Helena -* Inclusive eu, porque morei dez anos em São Luís. Eles saíram de lá em busca de oportunidade. Veja o que está acontecendo com a criminalidade nesses estados governados pela esquerda. O governador foi completamente mal interpretado. O que ele falou é que os estados do Sul e do Sudeste são sub-representados em Brasília.
*Folha -* Em 2020, o Novo lançou Filipe Sabará para a prefeitura e a sra. como vice. Ele foi expulso do partido no meio da campanha por inconsistências no currículo. Por que o eleitor deveria dar uma chance ao partido?
*Marina Helena -* Tenho que agradecer porque, como candidata a vice, coordenei o programa de governo e foi um grande aprendizado. O Novo mudou demais desde aquelas eleições. Isso tinha a ver muito com a centralização de poder que havia, que a gente tinha de fato um cacique.
*Folha -* Está falando do João Amôedo?
*Marina Helena -* Sim. Isso acabou respingando em São Paulo, toda essa disputa.
*Folha -* O partido vai usar fundo eleitoral na campanha? Quanto a sra. deve usar?
*Marina Helena -* A gente ainda tem uma convenção nacional para decidir se esses recursos vão ou não ser usados. Acredito que isso vai passar. A gente caiu na real. Continuamos contrários [ao uso do dinheiro público], porque esses fundos atingiram valores muito elevados.
Hoje estamos indo para a guerra de canivete. Se a opção for por utilizar, provavelmente vou usar um valor ínfimo comparado com os outros candidatos. A gente tinha um idealismo muito grande. Para mudar essa realidade com a qual a gente não concorda, vamos precisar de fato estar no páreo. Só recursos privados não são suficientes nessa luta que é muito desigual.
*Folha -* Paulo Guedes vai ser seu cabo eleitoral? Vai participar de um eventual governo?
*Marina Helena -* Para mim seria o máximo. Ele que me fez o convite para ir para Brasília e me fez ver de perto o quanto o Brasil precisa de boas lideranças. Adoraria poder contar com ele, mas é uma decisão dele.
*Folha -* Como ex-integrante do governo Bolsonaro, a sra. vai trazer a polarização nacional ou o discurso bolsonarista para a campanha?
*Marina Helena -* Agora esse termo bolsonarista vale para tudo. Eu votei no Bolsonaro no segundo turno, como milhões de brasileiros. Isso não significa que essas pessoas são bolsonaristas. Mas vejo que o Bolsonaro teve vantagens, ainda mais em relação ao governo atual, principalmente no rumo da economia.
*Folha -* A sra. se considera bolsonarista?
*Marina Helena -* Acho que o Bolsonaro foi… É ainda uma grande liderança na direita. Tem pautas que eu convirjo não só com ele, mas com os membros da direita, como a liberdade de expressão, a questão de que nosso Estado é inchado. Defendo essas pautas porque elas são minhas, são do partido Novo.
*Folha -* Por que resolveu falar abertamente sobre ter sofrido abuso sexual?
*Marina Helena -* É muito mais comum do que se imagina. Se fala muito de justiça social, de cuidado com os mais frágeis. Cadê? Isso continua acontecendo.
Raio-X | Marina Helena, 43
Deputada federal suplente, foi diretora de Desestatização do Ministério da Economia no governo Bolsonaro e CEO do Instituto Millenium. Em 2020, seria candidata a vice-prefeita, mas a candidatura de Felipe Sabará, expulso do Novo, foi indeferida. Nascida em Brasília, viveu até os 13 anos em São Luís (MA). Fez graduação e mestrado em economia na Universidade de Brasília (UnB) e trabalhou em bancos. Em 2022, declarou patrimônio de R$ 8,67 milhões. É pré-candidata à Prefeitura de São Paulo em 2024
CAROLINA LINHARES / Folhapress